FOIRN e UNICAMP Lançam Projeto Sollar Rio Negro:

Ciência Indígena na Liderança da Transição Energética

A Federação das Organizações Indigenas do Rio Negro ( FOIRN) em parceria com a Unicamp, realizou a Formação da primeira turma de instaladores de sistemas fotovoltaicos, na casa do Saber da Foirn, o projeto “PROJETO SOLLAR RIO NEGRO: CENTRO DE APRENDIZAGEM INDÍGENA DO RIO NEGRO”, a formação aconteceu nós dias 29 a 03 de outubro de 2025.

A iniciativa visou integrar a Ciência Indígena com as pesquisas do Centro Paulista de Estudos da Transição Energética (UNICAMP), promovendo a autonomia energética e o fortalecimento da infraestrutura comunitária no bioma amazônico.

O projeto nasce da inquietação e da demanda do próprio território, especialmente da juventude indígena do Alto Rio Negro, e se materializa como uma “devolutiva” do conhecimento adquirido na universidade para o povo.

O foco central é a formação sobre transição energética e a implementação de sistemas fotovoltaicos (energia solar). A escolha da energia solar é estratégica, pois, nas palavras dos envolvidos, é o sistema “mais sustentável e renovável possível que dialoga com as nossas concepções como povos indígenas”.

Essa iniciativa marca um novo capítulo para São Gabriel da Cachoeira, ao democratizar o conhecimento em uma área tecnológica essencial e reforçar a gestão territorial indígena.

Oferecendo capacitação técnica e política, com foco na instalação e integração de sistemas fotovoltaicos conectados e desconectados à rede elétrica, com a participação de 30 parentes indígenas selecionados das cinco coordenadorias regionais da aréa de abrangência da foirn .

Do território para a universidade — e da universidade de volta para o território

O projeto é resultado do esforço coletivo de acadêmicos, incluindo a Iniciação Científica e o TCC do estudante indígena Arlindo Baré, e a pesquisa de outros 12 estudantes indígenas da UNICAMP (FEEC), desenvolvida no Eixo V Educação, Formação e Capacitação para a Sustentabilidade Socioambiental, que agora, com apoio da FOIRN, esse conhecimento retorna para o território em forma de formação prática e estratégica.

O Centro de Aprendizagem Indígena do Rio Negro terá um espaço físico em São Gabriel da Cachoeira, mas também será móvel, possibilitando que as formações cheguem aos territórios através dos novos técnicos que foram capacitados para atuar em geração e manutenção de sistemas fotovoltaicos, com o objetivo de que os formandos se tornem multiplicadores, levando a capacitação para outros jovens, escolas e lideranças, democratizando a informação.

Além da energia solar, a visão é que o Centro seja um espaço permanente de formação em diversas áreas do conhecimento (saúde, educação, etc.), onde os primeiros 30 formandos Indigenas atuarão como multiplicadores de conhecimento.

Energia que respeita os modos de vida indígenas

Em muitas comunidades da região do Rio Negro, ainda se utiliza geradores convercionais que se utilizam fontes de energia não renovaveis, que são caros, poluentes e muitas vezes falham. Com a energia solar, os povos do Rio Negro podem ter energia limpa, estável e comunitária.

O diferencial do Sollar Rio Negro é que foi pensado desde o início com a participação dos nossos povos, respeitando os Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) e os Acordos de Convivência. Nenhuma decisão foi tomada de cima para baixo.


“A energia solar é a que mais se parece com a nossa forma de ver o mundo: ela nasce do sol, é limpa, é renovável e pode ser compartilhada — Participante indígena do curso Sollar Rio Negro

Esse cuidado também vale para o tipo de tecnologia escolhido: os sistemas fotovoltaicos instalados podem ser usados com ou sem conexão à rede elétrica, o que permite atender aldeias mais afastadas com independência e segurança.

O projeto Sollar Rio Negro Contribui diretamente com a                       Justiça Climática global, demonstrando que, com apoio e respeito à governança indígena, os povos originários são os líderes na construção de futuros equitativos e resilientes.

A formação por meio do Projeto Sollar Rio Negro não é apenas técnica, ela está inserida em uma lógica de justiça energética indígena: ou seja, as comunidades indígenas não são apenas receptoras de tecnologia, mas protagonistas no processo como instaladores, mantenedores, multiplicadores e gestores.

Esse protagonismo fortalece a autodeterminação, o “bem viver” e as práticas tradicionais associadas à gestão territorial e ambiental, ao mesmo tempo em que incorpora novas tecnologias. Em outras palavras: a iniciativa dialoga com os saberes ancestrais e com as perspectivas contemporâneas de sustentabilidade.

Em um momento em que o Amazonas enfrenta desafios crescentes como mudanças climáticas, pressão por exploração de recursos, vulnerabilidades de infraestrutura, iniciativas como essa mostram que a transição energética pode e deve ser protagonizada pelas comunidades locais, adaptada às suas realidades e alinhada aos seus valores.
Para o território isso significa menos dependência externa, mais segurança energética, melhoria na qualidade de vida e fortalecimento dos modos de vida indígenas.

Justiça Climática com rosto indígena

A luta pela justiça climática passa, necessariamente, por reconhecer que nossos povos são guardiões da floresta, mas também têm o direito de acessar tecnologias limpas e com controle próprio. O Sollar Rio Negro mostra que é possível fazer isso com respeito, consulta e participação.

Com esse projeto, os povos do Alto Rio Negro estão mostrando que a transição energética não precisa ser uma imposição: ela pode ser construída por nós, com nossos saberes, com nossas lideranças e com nossos sonhos de futuro.

Assessoria de Comunicação: DECOM – FOIRN


Comentários

Deixe um comentário