O mês de Abril indígena chegou,um período em que a luta e a voz dos povos originários ganham ainda mais força, com destaque na realização do Acampamento Terra Livre (ATL), a maior mobilização indígena do país. Em sua 21ª edição, o ATL se firma como um espaço essencial para que as reivindicações e a importância dos povos originários na defesa da Constituição sejam ouvidas.
Tendo como deste tema “APIB somos todos nós: Em defesa da Constituição e da vida”, Este encontro, considerado a maior assembleia do movimento indígena tanto no Brasil quanto globalmente, celebra também os 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), evidenciando sua trajetória e força na luta pelos direitos originários.
A delegação do Rio Negro foi composta por representantes das cinco coordenadorias regionais da área de abrangência da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) a federação que representa os 24 povos indígenas do Rio Negro



Essa delegação incluía lideranças indígenas de diversos povos do Rio Negro e organizações como a : COIDI – Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê, NADZOERI- Organização Baniwa e Koripako, DIAWI’Í- Coordenadoria das Organizações Indígenas do Tiquié, Uaupés e Afluentes, CAIMBRN- Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro, CAIMBARNX- Coordenadoria das Associaçoes Indigenas do Balaio, Alto Rio Negro Xié, Associações Yanomami, ASIBA AMIDI, Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (DMIRN), Departamento de Jovens e Adolescentes do Rio Negro (DAJIRN), Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN), Rede Wayuri de comunicadores e o Jurídico Indígena da FOIRN. Um time diverso e preparado para atuar nas incidências e temáticas que serão debatidas durante toda a programação do ATL.



Brasília, se tornou novamente o chão de grandes discussões para os povos originários. Onde aconteceu nos dias 7 a 11 de abril de 2025, o ATL juntou milhares de indígenas para discutir e apresentar suas propostas em relação a temas urgentes que vivenciam diariamente em seus territórios.
A longa jornada de 4.338 quilômetros dos Rionegrinos, que partiu de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas – município reconhecido por sua vasta diversidade cultural –, até a capital federal, Brasília, .Essa longa jornada simboliza a determinação incansável para se fazer presente nesta luta encansavel.
A delegação do Rio Negro (AM) levou para a discussão política pautas cruciais para suas comunidades, incluindo educação escolar indígena de qualidade, saúde integral e acessível, os impactos das mudanças climáticas em seus territórios e mais participação Indigena na COP30 que buscam também fortalecer as associações regionais, promover seu empoderamento e autonomia.
O diretor da FOIRN, Hélio Tukano, marcou presença na roda de conversa da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (APIAM), onde trouxe reflexões urgentes sobre a transição energética na Amazônia.


Ele reforçou a necessidade de garantir energia limpa e sustentável para os territórios indígenas, alertando:
“A Amazônia precisa de fontes de energia renováveis. Muitos só querem usufruir do presente, mas esquecem das futuras gerações.”
Apesar dos impactos ambientais, muitos povos indígenas ainda são forçados a utilizar fontes de energia tradicionais, poluentes e insuficientes. A luta é por justiça energética com protagonismo indígena.
Mulheres Indígenas em Destaque e a Realidade Yanomami


O Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (DMIRN/FOIRN) teve um encontro importante com a presidenta da FUNAI, Joenia Wapichana. O objetivo central foi apresentar demandas cruciais para o bem-estar das mulheres e a proteção do território do Rio Negro. Foi apresentado um relatório sobre violências contra as mulheres indígenas em São Gabriel da Cachoeira, elaborado em 2024 pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com o DMIRN/FOIRN. Este relatório destaca a urgência da construção de uma Casa da Mulher Indígena, um espaço essencial para acolher e cuidar das mulheres rionegrinas em situação de vulnerabilidade. Além disso, foi entregue um documento formal solicitando a criação de um Centro Territorial de Logística (CTL) na região do Médio Rio Negro (CAIMBARNX).



O povo Yanomami do Rio Negro também participou ativamente do ATL, levando suas demandas para a roda de conversa “O Caso dos Yanomamis: Emergência Indígena” na tenda da COIAB. O encontro reuniu indígenas da Terra Yanomami da região do Rio Negro e do território de Roraima para debater a grave crise em seus territórios.
A liderança Yanomami Carla, representante da Associação de Mulheres Yanomami da comunidade de Maturacá, trouxe um relato impactante e urgente. Ela enfatizou a importância do espaço para dar voz aos desafios enfrentados, destacando as dificuldades que as mulheres e lideranças enfrentam para participar de grandes eventos como o ATL, e o crescente preconceito contra as mulheres Yanomami.
Carla fez um apelo por mais representatividade feminina, especialmente para aquelas que vivem em áreas de difícil acesso e para a juventude. Ela denunciou as ameaças diárias em seus territórios: doenças, prostituição e a devastação causada pelo garimpo ilegal.
“Passamos por esses riscos diariamente em nosso território, estamos perdendo os nossos jovens pelas doenças transmissíveis, bebidas alcoólicas e drogas, isso não faz parte da nossa cultura. Hoje trago a minha voz da aldeia, que ela se multiplique, que olhem de fato os nossos territórios, que a fiscalização seja mais comprometida”, lamentou Carla, clamando por mais atenção e fiscalização comprometida em seus territórios.
Ela finalizou sua fala com um apelo poderoso: “Hoje trago a minha voz da aldeia, que ela se multiplique, que olhem de fato os nossos territórios, que a fiscalização seja mais comprometida, deixo essa mensagem em nome de todas as mulheres Yanomami. Sua luta é a nossa luta!”

A busca por um futuro digno e sustentável, é o anseio central dos povos originários para as gerações presentes e futuras, que envolve principalmente a proteção da rica biodiversidade e da fauna de seus territórios ancestrais. Além disso, é fundamental a promoção de uma educação escolar indígena específica e de qualidade, que valorize suas culturas e conhecimentos. O acesso a uma saúde integral, que considere suas práticas tradicionais e necessidades culturais, é igualmente essencial. Por fim, essa visão de futuro exige o constante combate a todas as formas de violência, discriminação e racismo que ainda enfrentam.

A 21ª edição do ATL firmou-se manifestando suas reivindicações e reafirmando seu papel essencial na salvaguarda da Constituição e da vida.














