A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), através do Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (Dmirn), a coordenadora Maria do Rosário Piloto Martins representou a instituição na participação do I Seminário do GT para Incidência Internacional Indígena na Área de Clima.
Este evento foi realizado pela Rede de Cooperação Amazônica-RCA e Operação Amazônia Nativa – OPAN na cidade de São Paulo no período de 26 a 27 de maio de 2022.
O Seminário foi realizado com o objetivo de apoiar a criação de um grupo de trabalho de referência indígena voltado à pauta de incidência internacional em clima; Contextualizar as oportunidades de incidência internacional de povos indígenas na área de clima e ampliar para mais representes indígenas das organizações de base da Amazônia brasileira, membros da RCA e parceiros da OPAN; Iniciar um processo contínuo de intercambio de experiências entre os participantes; Tecer conjuntamente uma linha estratégica que parta das realidades, saberes, necessidades e expectativas das comunidades e organizações de base da Amazônia, com ênfase no protagonismo indígena; Favorecer que as vozes indígenas, iniciativas e alertas alcancem as instancias de negociação e decisão sobre as políticas, acordos e financiamentos internacionais de clima.
Estavam presentes neste seminário a Jessica Maria da Conceição Nascimento-CIR; Sineia Bezerra do Vale- CIR; Maria do Rosario Piloto Martins- DMIRN/FOIRN; Luene Anica dos Santos- AMIM; Eldo Carlos Gomes Barbosa Shanenawa- OPIAC; José Marcondes Rosa- AMAAIAC; Andreia Fanzeres- OPAN; Mariana Lacerda- OPAN; Yaiku Suya- AIT; Herman Hudson de Oliveira- FORMAD; Eliane Rodrigues de Lima- FEPOIMT; Kaianaku Fogaça Kamauira- FEPOIMT; Stela Hershmann- OC; Luiz Donizete Grupioni- IEPÉ/RCA; Lucas Gomes- RCA; Patricia de Almeida Zuppi- RCA.
O Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira é uma conquista do Movimento Indígena Amazônico
Valeria Paye e Marivelton Rodrigues Baré. Foto: Reprodução
O Diretor presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) Marivelton Rodrigues Baré e a Coordenadora do Departamento negócios socioambientais da Foirn, Luciane Lima, no dia 04/05 estiveram em reunião com a Valeria Paye, Diretora Executiva do fundo Podáali. Foi um momento de troca de experiências sobre os processos de construção de fundos e o lançamento do primeiro edital do fundo Rio Negro, que conta com o apoio direto da Embaixada da Real da Noruega e tem fortalecimento da gestão pautado.
Para saber mais informações sobre o Fundo Rio Negro, acesse este link https:
O Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira, uma construção e conquista do Movimento Indígena Amazônico, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), foi criado com o propósito de apoiar planos e projetos de vida dos povos, comunidades e organizações indígenas, que reforcem a autodeterminação e protagonismo, valorizem as culturas e modos de vida, fortaleçam a sustentabilidade e promovam a gestão autônoma de territórios e recursos naturais. Podáali, na língua do povo Baniwa do tronco linguístico Aruak, significa “doar sem querer receber nada em troca”. É sinônimo de celebração, reciprocidade e promoção da sustentabilidade para o bem viver dos povos indígenas.
O Presidente da Foirn também é membro do Conselho Deliberativo do Fundo Podáali, que junto com outras 10 lideranças amazônicas, constroem o fortalecimento do Podáali. As lideranças à frente das organizações reforçam a importância do fortalecimento da gestão e segurança para os fundos e também das suas equipes técnicas de trabalhos, para que possam cumprir o objetivo que é chegar ao financiamento das Associações de base para desenvolverem ações nas suas comunidades nos territórios indígenas ao qual têm abrangência destes fundos!
A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), organização da sociedade civil de interesse público que representa os 23 povos indígenas do rio Negro, fundada em 1987, vem a público manifestar-se a respeito da reportagem publicada hoje pela Folha de São Paulo, pelo repórter Vinicius Sassine, a respeito do avanço do garimpo na bacia hidrográfica do Rio Negro, no Amazonas.
Intitulada “General Heleno autoriza avanço de garimpo em áreas preservadas na Amazônia”, a matéria revela que em 2021, o general Augusto Heleno, ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), da Presidência da República, autorizou sete projetos de pesquisa para exploração de ouro no Noroeste Amazônico, região mais preservada de toda a Amazônia. Heleno é também secretário-executivo do Conselho de Defesa Nacional, órgão que aconselha o presidente em assuntos de soberania e defesa.
Nós, que habitamos essa região há mais de 3 mil anos, em 10 terras indígenas demarcadas, manifestamos nossa indignação com a postura do general Heleno, que demonstra estar fazendo uma pressão política a favor dos interesses empresariais da mineração e do garimpo.
A assessoria jurídica da Foirn está analisando os processos mencionados na reportagem da Folha de São Paulo e tomará todas as atitudes cabíveis e legais para não permitir que a região mais preservada da Amazônia seja ameaçada pela política predatória do atual governo.
Sem considerar aspectos socioambientais e as políticas públicas que vem sendo articuladas para o desenvolvimento local na região, baseadas na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental nas Terras Indígenas (PNGATI), o GSI e o Conselho de Defesa Nacional colocam em risco a vida da floresta e a vida de mais de 45 mil indígenas.
Ao invés de autorizar que empresas façam pesquisa de extração de ouro em nossos territórios, o que só trará poluição, degradação ambiental e ainda maior injustiça social, as autoridades do governo federal deveriam conhecer a realidade local e nos apoiar a fomentar a economia indígena sustentável, que gera renda, trabalho e conserva os benefícios da floresta em pé.
Repudiamos atitudes autoritárias amparadas em ideais superados de desenvolvimento econômico, que só trouxeram doenças, morte e degradação para a Amazônia e seus povos. A política do atual governo, que avança sobre a floresta e sobre nossos territórios, tem apenas um interesse imediatista: dar lucro aos setores políticos empresariais que negam à emergência climática, a importância da Amazônia para a manutenção da vida e, sobretudo, desrespeitem os povos indígenas brasileiros que moram e protegem esta vasta região na tríplice fronteira com a Venezuela e a Colômbia.
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Assessoria de Comunicação da Foirn: (97) 9810-44598
Nós, 23 povos indígenas do Rio Negro, representados pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), organização fundada em 1987 para defender nossos direitos à terra e à autodeterminação, deixamos pública a nossa profunda insatisfação com a conduta do presidente da República, Jair Bolsonaro, em sua visita ao município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, nos dias 27 e 28 de maio de 2021.
Sede da Foirn, no Centro do município de São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro, Amazonas (Juliana Radler/ISA)
Finalizamos em 2020 os nossos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), previstos na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI). Esses planos, feitos junto com a Funai, são documentos nos quais apontamos os rumos para o desenvolvimento nos nossos territórios. Entretanto, mesmo a Foirn sendo a instituição que há mais de três décadas trabalha em prol de políticas públicas para os povos da região, não fomos incluídos na agenda e sequer convidados para qualquer diálogo com o presidente da República a respeito destes planos de gestão e outros temas de nosso interesse.
O líder máximo do Brasil, contudo, preferiu uma agenda feita “as escondidas”, na qual ele e seus assessores se deram ao trabalho de “preparar palanque” para fotos e vídeos de sua campanha eleitoral para 2022. Ao invés de convidar as lideranças e instituições reconhecidas e comprometidas com o coletivo, privilegiou uma agenda com líderes autoproclamados, como ocorreu na Terra Indígena do Balaio, para mais uma vez produzir fake news e narrativas grotescas sobre nosso povo e nossa cultura. Em sua live semanal, gravada ontem no Pelotão de Fronteira de Matucará, o presidente comparou a medicina tradicional indígena com o kit Covid, tentando ridicularizar a CPI do Senado, que investiga às denúncias de prescrição de remédios sem eficácia, como a cloroquina. Mais uma vez, Bolsonaro demonstra apreço em confundir a opinião pública para se livrar de acusações graves em relação à condução da gestão da pandemia de Covid-19, que já matou mais de 450 mil brasileiros.
O desprezo por nosso povo indígena é tanto que o presidente sequer se deu o trabalho de conhecer nossa diversidade, criando ao seu bel-prazer uma nova etnia, a do povo Balaio, que não existe no Brasil e em nenhum lugar do mundo. Seu ato de simplificar e generalizar não condiz com sua posição de presidente da República. “Bolsonaro mais uma vez ignora os problemas e humilha o povo brasileiro. O presidente não encontrou com as instituições que mais ajudaram a combater a pandemia de Covid-19 aqui na região e sequer fez menção ao combate ao garimpo ilegal, narcotráfico e outros assuntos graves que assolam as terras indígenas aqui na região da tríplice fronteira com a Venezuela e Colômbia”, ressalta Marivelton Barroso, do povo Baré, presidente da Foirn.
Foirn / www.foirn.org.br / Mais informações para a imprensa: 97 9810-44598
São Gabriel da Cachoeira (AM), 07 de agosto de 2020
A Foirn – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – entidade que representa 750 comunidades indígenas de 23 etnias no Amazonas, vem a público manifestar sua profunda indignação com o veto do Governo Brasileiro à participação da liderança Nara Baré na 3ª Semana Interamericana de Povos Indígenas, na Organização dos Estados Americanos (OEA).
Como base da Coiab, Foirn repudia o veto de participação de Nara Baré em reunião da OEA
Como coordenadora executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Nara falaria hoje de forma virtual sobre o tema “Covid-19 e Resiliência dos Povos Indígenas”. Entretanto, o governo brasileiro silenciou a voz da nossa liderança, em um ato explícito de racismo institucional e censura.
“Diante de todas as violações de direitos, o governo brasileiro agora tenta impedir que nós lideranças indígenas da Amazônia possamos falar nas instâncias internacionais sobre o que estamos passando no Brasil com a pandemia do novo coronavírus. Sobre o descaso e a negligência que o Governo brasileiro nos trata”, enfatiza Marivelton Barroso, também do povo Baré.
Conforme explicou a nota de repúdio da Coiab, Nara teria o papel de informar ao Conselho Permanente da OEA, e outros convidados da sessão, sobre os impactos da Covid-19 entre os povos indígenas, e como as organizações e comunidades estão combatendo o vírus por sua iniciativa própria. Jaime Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) também teve sua participação vetada.
O Conselho Permanente da OEA é composto de um representante de cada Estado membro e se reúne regularmente em Washington (EUA). Executa as decisões da Assembleia Geral, exercendo importantes funções políticas em conformidade com a Carta Democrática Interamericana, e servindo como um fórum político de discussão. A OEA é o mais antigo organismo regional do mundo, fundada em 1948 com o objetivo de promover relações pacíficas nas Américas.
Lideranças indígenas se reúnem em conselho para debater e definir agenda do movimento no segundo semestre de 2020, em São Gabriel da Cachoeira (AM)
Participantes da XXXVIII Reunião do Conselho Diretor da Foirn – São Gabriel da Cachoeira.
O Conselho Diretor da Foirn, a segunda instância mais importante de deliberações no âmbito do movimento indígena do Rio Negro, depois da assembleia geral, reuniu-se no último dia 4 de agosto para discutir e encaminhar novas datas para as assembleias sub-regionais e geral da Federação em decorrência da pandemia de Covid-19. Por recomendações das autoridades de saúde, foi necessário adiar toda a programação prevista para o primeiro semestre.
Por conta do cenário atual da pandemia no Rio Negro, a reunião do Conselho Diretor foi um evento diferente, com menos participantes e muitos cuidados para seguir as normas sanitárias. Foram realizados também testes rápidos de Covid-19 para todas as lideranças participantes e kits de higiene e proteção (álcool em gel e máscaras), incluindo o distanciamento social.
A reunião seguiu todos protocolos e recomendações sanitárias.
Durante a reunião, as discussões e debates se voltaram para o impactos do novo coronavírus nas comunidades indígenas e sobre a agenda de realização das assembleias sub-regionais e a geral da Foirn, tendo em vista que a atuação da federação e uma das suas coordenadorias regionais, a Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro (Caimbrn) abrange três municípios – São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. Assim, pela sua extensão, a região possui diferentes situações epidemiológicas e de enfrentamento da pandemia até agora.
As lideranças presentes manifestaram suas preocupações com a realização das assembleias sub-regionais diante das condições atuais. Mas, também defenderam a importância desses eventos como espaços democráticos de escolha de seus representantes regionais, assim como da diretoria da Foirn para a próxima gestão.
Para o Coordenador do Conselho Diretor, Carlos Nery Teixeira Piratapuia, de Santa Isabel do Rio Negro, a situação no município ainda continua crítica. “Acredito que em Santa Isabel ainda não chegamos ao pico de contaminação. Diante dessa situação, precisamos avaliar e sermos cautelosos”.
O presidente da Foirn, Marivelton Barroso Baré, lembrou que para a realização da reunião do Conselho Diretor, muitos fatores foram levados em consideração, principalmente as orientações sanitárias. E que as assembleias sub-regionais e a geral também precisarão ser realizadas de acordo com essas orientações e recomendações. “Para essa reunião reduzimos os dias de reunião, participantes e as pautas a serem discutidas devido às condições que estamos por causa da pandemia”, afirmou.
Temas e novas datas das assembleias
Pandemia e os saberes tradicionais dos Povos Indígenas do Rio Negro será o tema central das assembleias, que será trabalhado nas regionais de acordo com as especificidades locais. Os jovens e mulheres terão nas suas assembleias esses temas para abordar.
Veja abaixo as novas datas aprovadas:
– Nadzoeri (Bacia do Içana e Afluentes) – 23 a 24 de setembro de 2020, comunidade de Santa Rosa – Médio Içana;
– Coidi (Médio, Alto Uaupés e Rio Papuri) – 03 a 04 de setembro de 2020, Vila São Domingos – Distrito de Iauaretê.
– Caiarnx (Alto Rio Negro e Xié, TI Balaio) – 17 a 18 de setembro de 2020, na comunidade Tabocal dos Pereira – Alto Rio Negro.
– Caimbrn (Médio e Baixo Rio Negro) – 02 a 03 de outubro, na comunidade de Canafé – Baixo Rio Negro.
– Diawii (Baixo Uaupés, Rio Tiquié e Afluentes) – 09 e 10 outubro de 2020, comunidade Matapí – Baixo Uaupés.
– Assembleias das Mulheres Indígenas do Rio Negro (Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro/Foirn)- 29 a 31 de outubro de 2020.
– Assembleia dos Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro (Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro), 05 a 06 de novembro de 2020. Tema: Pandemia da Covid-19 e a Emergência Climática: Desafios para a juventude indígena do Rio Negro.
– Assembleia Geral da Foirn – 26 a 27 de novembro de 2020, Casa dos Saberes da Foirn, São Gabriel da Cachoeira.
Vale frisar que em caso de piora da situação epidemiológica na região, essas datas acima poderão ser alteradas, conforme definiu o Conselho Diretor.
É com muita tristeza que recebemos e compartilhamos a notícia do falecimento do Firmiano Lobo, conhecedor tradicional e kumu Miriti-Tapuya de Iraity, do médio Tiquié, Terra Indígena Alto Rio Negro (AM). Firmo foi mais uma vítima do Covid-19, faleceu no dia 09/07 em Manaus, aos 71 anos.
Como conhecedor tradicional participou ativamente das atividades da Associação das Comunidades Indígenas do Médio Tiquié – ACIMET e da formação dos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental da região do Tiquié.
A Foirn se solidariza com os familiares e com a comunidade Iraity pela perda irreparável para os povos indígenas do Rio Negro.
Participe da Campanha “Rio Negro, Nós cuidamos!”, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) para ajudar 750 comunidades de 23 etnias
Com o sistema de saúde colapsado no Amazonas e sem nenhum leito de UTI nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, a população indígena do Rio Negro está entre os grupos mais vulneráveis à pandemia de Covid-19 no mundo. Além disso, os números de contaminados cresce na Panamazônia e as extensas fronteiras brasileiras com a Venezuela e a Colômbia também preocupam os moradores da região mais preservada da Amazônia brasileira.
Índia Yanomami com pintura e ornamentos na Assembléia da AYRCA (Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes)
Mulher baniwa indo para roça de pimenta. Comunidade Canadá. Alto Rio Negro
Almerinda Ramos fala sobre gestão territorial e ambiental. Mulheres indígenas de 25 diferentes povos da Amazônia, do Brasil e do Peru, participaram de encontro no Centro de Formação dos Povos da Floresta, em Rio Branco, capital do Acre. O intercâmbio aconteceu entre 29 e 31 de agosto de 2017 e teve cerca de 100 participantes. Elas discutiram sua participação na gestão territorial, seu papel na manutenção da língua, questões de saúde, saberes e práticas tradicionais e os espaços de representação política
Da esquerda para a direita: as lideranças Janete Figueiredo Alves e Almerinda Ramos de Lima mostram pimentas nos balaios para filmagem de cena da campanha do ISA #PovosDaFloresta, em Presidente Figueiredo (AM), fevereiro de 2019
Quem mais protege a floresta e ajuda o equilíbrio climático do mundo está agora sendo ameaçado por essa pandemia. Os quatro primeiros casos de Covid-19 foram confirmados em São Gabriel da Cachoeira neste último domingo (26) e acendeu o alerta máximo para a transmissão comunitária no município. Com parte da população indígena vivendo em meio urbano e parte distribuída por 750 comunidades na bacia do rio Negro, é urgente a necessidade de se manter o isolamento social máximo.
Por isso, a Foirn, através dos esforços dos seus funcionários, parceiros e do seu Departamento de Mulheres Indígenas, lança a campanha “Rio Negro, Nós Cuidamos!”. A iniciativa visa captar recursos urgentes para a compra de produtos de limpeza, ferramentas agrícolas, combustível, kits de pesca, alimentos não perecíveis e ampliação de serviços de comunicação fundamentais via radiofonia, carros de som e informes de áudio.
“Estamos apoiando nossos parentes a ficarem em suas comunidades e não virem para a cidade, onde o vírus já está circulando. Sabemos que o nosso único jeito de sobreviver a essa pandemia é fazendo o isolamento social”, ressalta Elizângela Silva, do povo Baré, liderança feminina da Foirn.
Para apoiar é fácil! Basta acessar https://noscuidamos.foirn.org.br/ e fazer a doação via cartão de crédito, PayPal ou depósito direto na conta do Fundo Foirn. Vamos ajudar os 23 povos indígenas do Rio Negro a se manterem vivos e saudáveis. A campanha conta com apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e a Foirn integra o Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao Covid-19 do município de São Gabriel da Cachoeira junto com instituições como Funai, Exército Brasileiro, Diocese, Marinha, IFAM (Instituto Federal do Amazonas), entre outras.
O Conselho Diretor da Foirn realizado em São Gabriel da Cachoeira, de 10 a 13 de março, reuniu lideranças de todas as calhas do Rio Negro e definiu o regimento das assembleias sub-regionais e da assembleia geral da Foirn 2020
A 37ª Reunião do Conselho Diretor da Foirn, a segunda maior instância de discussão e deliberação de pautas de interesse das comunidades e povos indígenas do Rio Negro, se reuniu para definir regimentos internos das assembleias sub-regionais das coordenadorias e da assembleia geral da Foirn 2020 e tratar de outros temas importantes, como trabalhos da Comissão Fiscal e planos de trabalho anual. O evento contou com a participação de cerca de 50 conselheiros e lideranças de todas as calhas de rios da região de abrangência da Federação.
A abertura oficial começou na Casa dos Saberes, onde as pautas foram definidas. Como também foram lembrados os motivos da luta do movimento indígena, as conquistas, bem como os desafios atuais, motivo pelo qual o movimento indígena do Rio Negro precisa se fortalecer e continuar lutando e defendendo os direitos, como vem fazendo há mais de 30 anos.
Marivelton Barroso Baré, presidente da Foirn, lembrou aos conselheiros a importância do Conselho Diretor e a responsabilidade que eles têm junto com as comunidades que representam. “Vocês têm uma responsabilidade muito grande como conselheiros, para trazer demandas, representar as bases e deliberar temas importantes, como também levar informações para suas comunidades”, afirmou.
O primeiro dia de atividades foi marcado pela apresentação dos trabalhos da Comissão Fiscal, que também integra o Conselho Diretor, com responsabilidade de avaliar, recomendar e elaborar pareceres sobre o desempenho financeiro e contábil da federação. Após a apreciação das apresentações, foi aberto um espaço de debates sobre o tema.
As lideranças presentes lembraram da importância da transparência institucional do uso dos recursos dos projetos, e que deve seguir de acordo com o estatuto, o regimento interno e nos contratos dos projetos junto com os apoiadores para evitar qualquer problema para a instituição no futuro.
Plano de trabalho integrado
Foi apresentado no Conselho Diretor o plano integrado de atividade realizado entre a Foirn, Coordenadorias Regionais e o Instituto Socioambiental (ISA) elaborado no mês de fevereiro. No plano de ações deste ano estão distribuídas nos eixos temáticos de Economia Sustentável Indígena, Manejo Ambiental, Governança Territorial e Ambiental, Comunicação, Controle Social e Incidência Política e Rede de Gênero e Juventude.
Em cada ação, as instituições envolvidas terão seus papéis específicos definidos, respeitado as determinações do Termo de Cooperação Técnica vigente e das demandas apresentadas pelas associações de bases e coordenadorias regionais nos seus planejamentos.
Um dos primeiros frutos de trabalho de construção coletiva iniciada em 2019 é o Fundo Indígena do Rio Negro, que se encontra no processo final de elaboração. Até o final do ano essa iniciativa deverá ser alternativa para a Foirn apoiar as ações e projetos das associações de base. O fundo terá como principal objetivo captar recursos financeiros para os projetos a serem realizados nas bases. A estrutura e a gestão desse fundo foram um dos temas discutidos durante a reunião.
Assembleias sub-regionais e assembleia geral da Foirn 2020
Entre os temas centrais da reunião estavam as assembleias sub-regionais e a assembleia geral eletiva da Foirn, esta última prevista para o final do ano. Para esses trabalhos foi formada uma comissão de lideranças indígenas para elaborar o regimento dos eventos. No documento final foram aprovadas recomendações e orientações gerais para as assembleias que irão acontecer nas bases. Ainda foi criada uma comissão eleitoral composta por uma liderança de cada regional da Foirn, que irá acompanhar todas as assembleias, especialmente as eleições das novas diretorias das coordenadorias regionais.
Lideranças indígenas mais antigas aproveitaram a oportunidade para lembrar aos jovens o histórico de luta dos povos indígenas do Rio Negro. “Foram momentos muito difíceis para nós, os mais velhos aqui lembram muito bem disso. Com esse novo projeto do governo (PL 191), eles querem trazer isso de volta”, afirmou José Maria de Lima, do povo Piratapuia, sobre a invasão de garimpeiros e mineradoras nos territórios indígenas do Rio Negro e sobre o PL 191 apresentada recentemente pelo Governo Bolsonaro.
O PL 191/2020, encaminhado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, para o Congresso Nacional, pretende viabilizar o acesso de terceiros interessados às Terras Indígenas e a seus recursos naturais para fins de garimpo, mineração industrial, exploração de petróleo e de gás, implantação de obras de infraestrutura e plantio de transgênicos. Apesar dos impactos óbvios que essas atividades trariam para as Terras Indígenas, as comunidades afetadas, caso as rejeitem, não teriam sua vontade respeitada.
Auxiliadora Dâw, Karine Viriate da Silva e Carolina Rodriguês
A importância da valorização e compartilhamento dos saberes tradicionais indígenas sobre as plantas medicinais – a chamada farmácia viva – foi um dos temas tratados durante a oficina “Conhecimento das Mulheres Dâw e Baniwa para o bem viver”. O encontro foi realizado pelo Departamento de Mulheres da Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN) na comunidade Yamado, nos dias 20 e 21 de fevereiro, em parceria com o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Alto Rio Negro. Também participaram das atividades lideranças e representantes das comunidades Waruá e Cewari.
“Viemos reforçar sobre a necessidade de valorizar as plantas medicinais. Indígenas devem passar seus saberes para filhos e netos. Mas sem esquecer também da medicina ocidental”, disse a coordenadora do Departamento de Mulheres da FOIRN, Elizângela da Silva (Baré). “Estamos fortalecendo assim a rede de mulheres. E com mulheres fortalecidas, estamos reforçando a organização social dessas comunidades”, completou.
As mulheres da comunidade Yamado abriram suas casas – e seus quintais – para mostrar plantas medicinais cultivadas. A liderança do Waruá, professora Auxiliadora Fernandes da Silva, levou plantas medicinais para compartilhar com os indígenas das outras comunidades. “Não pode roubar nem pegar muda. Tem que trocar”, explicou Elizângela da Silva.
Durante os dois dias, o compartilhamento de saberes marcou o encontro, que também se destacou pela acolhida da comunidade do Yamado à equipe que promoveu a atividade. Mulheres, homens, crianças e alguns jovens participaram das palestras. Também houve refeição compartilhada, como é de costume. Com generosidade, a indígena Adelina Leopoldina Rodrigues, moradora antiga do Yamado, abriu sua cozinha e ofereceu vinho de pupunha aos visitantes.
Elizângela Silva ressaltou também que, durante os encontros, a FOIRN busca mobilizar e fortalecer as comunidades, além de levar informações sobre leis e direitos, inclusive de estar em seus territórios. “São leis que não são indígenas, mas que podem favorecê-los”, diz.
Coordenadora do Departamento de Jovens da FOIRN, Adelina Sampaio participou da ação e falou da importância do fortalecimento da participação e valorização juvenil. “Durante as oficinas há o fortalecimento dos laços de mães e filhos. E isso tem continuidade. Além disso, os jovens ficam curiosos sobre as lideranças jovens, como vão falar, e participam mais. Têm curiosidade de aprender e participam mais”, explica.
Oficina em Yamando reuniu moradores das comunidades Waruá, Yamando e Cewari
PLANTAS TRADICIONAIS E PROTAGONISMO DAS MULHERES
A indígena Karine Viriate da Silva, da etnia Baniwa, foi quem reivindicou a realização da oficina no Yamado, onde mora. Ela é agricultora e foi uma das mulheres que mostrou as plantas medicinais que cultiva. Muito animada, ficou feliz de ver seu quintal cheio de gente. “Essa planta aqui é a Jiboia. Ela serve para atrair pessoas à sua casa. E olha como minha casa está cheia”, disse, com sorriso no rosto.
Ela mostrou ainda a folhagem chamada Orelha. A plantinha guarda um pouco de água. Esse líquido deve ser jogado no ouvido da pessoa de uma maneira especial, levando-a a ser mais inteligente. Karine ainda indicou uma planta boa para passar no cabelo. Mas, como todo indígena tem seus segredos, não quis revelar o nome dessa folhagem.
“Minha mãe me ensinou muita coisa. Aprendi vendo ela fazer. Precisamos dividir nosso conhecimento com os outros. Os jovens não querem aprender nossa cultura. Ficam só com celular. Se precisar fazer a pimenta jequitaia, não vai saber. Para tirar o remédio para dor de cabeça, não vai saber. Não vão ter nem onde tirar sabedoria”, disse.
Karine Viriate da Silva compartilha conhecimentos com os participantes da oficina
A indígena Adelina Leopoldina Rodrigues compartilhou seus saberes mostrando o Pirarucu, uma folhagem usada contra feridas. Também mostrou o Dapuru, muito usado para dores no corpo. Ela ainda indicou uma pequena raiz que, ralada, deve ser colocada nos olhos para curar dor de cabeça. O nome? Não pode revelar. É segredo indígena.
Já no quintal de Caroline Leodoldina Rodrigues é cultivada a Piripiriaca, usada contra picada de cobra. Há ainda a Borboleta, uma pequena folha utilizada pelas pessoas que estão precisando incrementar as vendas de seus produtos.
Liderança da comunidade Waruá, a professora Auxiliadora Fernandes da Silva explica que há remédios indígenas para diversos males, como diarreia, malária, gripe, contra picada de cobra, cólica, para emagrecer. Ela explica que os remédios caseiros são muito usados na comunidade, mas nem todos os indígenas sabem prepará-los. Ela acredita que os jovens podem se interessar pelo assunto se forem realizadas mais oficinas. “Pelo menos é assim no meu povo. Eu procuro dialogar”, disse.
Assessora do Dsei, a indígena da etnia Tukano Maria Miquelina compartilhou seus conhecimentos sobre a saúde dos povos tradicionais e também sobre medicina dos homens brancos. “Cada família indígena tem em seu quintal um pedacinho de remédio. E é preciso saber usar. Tem preparo especial, dosagem, como utilizar, o tempo, o período. É a chamada farmácia viva”, explicou, com sabedoria, Dona Mique, como é conhecida. “Eu tenho que compartilhar o que sei”, completa. Ela busca organizar as informações sobre plantas tradicionais e seus usos e, além disso, integra um grupo que tenta viabilizar a manipulação de remédios tradicionais pelos próprios indígenas.
MEDICINA DOS BRANCOS
Ainda durante o encontro foi abordada a importância da chamada medicina dos brancos. A enfermeira Kleice Almeida, do Dsei, falou sobre a saúde da mulher, ressaltando os temas pré-natal, parto e puerpério. “É muito importante que a mulher procure o serviço médico assim que souber da gravidez. Temos uma dificuldade de adesão ao pré-natal no primeiro trimestre gestação, o que aumenta o risco”, explica. Houve ainda palestra sobre dengue e malária.
Também integraram a ação os pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) professor e doutor José Miguel Nieto Olivar e a enfermeira obstétrica Danielle Ichikura Oliveira. Olivar falou sobre violência contra mulheres, na devolutiva de pesquisa realizada em São Gabriel.
O professor Alcir Ricardo Rodrigues, da comunidade Yamado, pediu que haja palestras para jovens sobre consequências da gravidez da adolescência. Ele informou que na comunidade há 60 jovens, sendo 30 homens e 30 mulheres. O professor Jaime Lopes, da comunidade Waruá, ressaltou também que é necessário alertar contra o uso de bebidas.
Capitão da comunidade Yamado, Paulo Lino Romero informou que na comunidade moram cerca de cem indígenas, a maioria da etnia Baniwa, havendo também Curipaco e Baré. O indígena Victor Camico da Silva, capitão do Cewari, informou que na sua comunidade vivem 72 pessoas da etnia Curipaco. Na comunidade Waruá vivem cerca de 145 pessoas, a grande maioria da etnia Dâw.
Também participaram do encontro no Yamado a integrante da coordenação do Departamento de Mulheres da FOIRN, Janete Alves; o coordenador do Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro (DAJIRN), Lucas Matos (Tariano); Departamento de Comunicação, com atuação de Ednéia Teles (Arapasso); Maria do Rosário Piloto Martins, a Dadá Baniwa, que é mestranda do Museu Nacional do Rio de Janeiro em linguística e línguas indígenas; Anair Sampaio, aluna do curso de serviço social da Unip, que acompanhou o encontro como atividade complementar de seu curso. O antropólogo João Vitor Fontanelli Santos, que desenvolve pesquisa junto aos Dãw, acompanhou os indígenas do Waruá durante o encontro.
Colaborou jornalista Ana Amélia Hamdan e Dadá Baniwa