Categoria: Lugares sagrados-Rio Negro

  • III Reunião Técnica Binacional Brasil/Colômbia.

    25, 26 e 27 de Novembro de 2013.

    Agenda Conjunta para Cartografia Cultural do Noroeste Amazônico

    Os representantes de instituições governamentais, não governamentais e organizações indígenas abaixo mencionados, reunidos em Mitú, Uaupés (Colômbia) durante os dias 25, 26 e 27 de Novembro de 2013, acordaram o seguinte:

    Considerando:

    Que no marco do Convênio Cultural entre a República de Colômbia e República Federativa do Brasil, se realizou a IV Comissão Mista de Cultura, Educação e Desporto, em junho de 2009, na qual se acordou um Programa de Cooperação entre os dois países para o período de 2009-2012, sendo um de seus componentes a: “V. Preservação e Salvaguarda de Bens Culturais”;

    Que Colômbia e Brasil tem Constituições Políticas que reconhecem os direitos dos Povos Indígenas; que ratificaram instrumentos multilaterais como o Convênio 169 da OIT, a Convenção da UNESCO para Salvaguarda do Patrimônio Imaterial de 2003 e a Convenção da Diversidade Biológica, e desenvolveram tais instrumentos através de sua legislação e jurisprudência;

    Que a Convenção da UNESCO para Salvaguarda do Patrimônio Imaterial de 2003, reconhece a importância da salvaguarda do patrimônio cultural imaterial como fundamento para manutenção e sobrevivência cultual dos povos indígenas e que assim mesmo o Convênio da Diversidade Biológica em seu artigo 81 reconhece a importância que tem os conhecimentos, as inovações e práticas tradicionais dos povos indígenas na conservação e manejo da diversidade biológica;

    Que Brasil e Colômbia são membros do Centro Regional para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da América Latina – CRESPIAL;

    Que ambos países se encontram realizando processos de salvaguarda do patrimônio natural e cultural e tem compartilhado as experiências de ambos países , tanto de instituições governamentais, não governamentais e organizações indígenas;

    Que salvaguarda dos sítios sagrados e de importância cultural deve ser assegurada por políticas de Estado com um enfoque de direitos humanos;

    Reconhecendo que o patrimônio cultural imaterial dos povos indígenas transcende as fronteiras e que portanto os Estados devem cuidar para que as ações que se desenvolvem em zonas limítrofes respeitem esta unidade cultural;

    Reconhecendo os direitos coletivos dos povos indígenas sobre seu patrimônio cultural imaterial;

    Entendendo a importância dos esforços de cada país para a salvaguarda do patrimônio natural e cultural;

    Respeitando as formas nacionais e tradicionais de abordar os diferentes assuntos relacionados com a salvaguarda do patrimônio natural e cultural, as políticas públicas e legislações relacionadas com o tema;

    Reconhecendo o papel e a importância que os lugares sagrados e as cosmovisões dos povos indígenas tem para a conservação do patrimônio natural e cultural da região do noroeste amazônico;

    Reconhecendo e respeitando o direito próprio dos povos indígenas à gestão de seu patrimônio natural e cultural.

    Objetivos de trabalho conjunto:

    Somar esforços de cooperação, fortalecer e facilitar a articulação entre instituições governamentais, não governamentais e organizações dos povos indígenas para salvaguarda do patrimônio cultural imaterial associado à conservação (español) preservação (português) da diversidade nos territórios indígenas do noroeste amazônico.

    Fortalecer a capacidade de gestão dos povos indígenas e as comunidades de base para impulsionar a salvaguarda e a proteção do patrimônio natural e cultural frente às ameaças ou riscos.

    Adiantar um processo interinstitucional conjunto entre organizações governamentais, não governamentais e indígenas, que reúna, identifique, reconhece e valorize o patrimônio imaterial dos povos indígenas do noroeste amazônico em Colômbia e Brasil, em especial o sistema de sítios sagrados e os conhecimentos associados.

    Pontos de comum acordo:

    1. Fomentar o intercambio de experiências em curso na região orientadas à salvaguarda do patrimônio cultural e natural através de encontros binacionais (encontros, oficinas, recorridos, entre outros) que reconheçam o protagonismo dos povos indígenas.
    2. Fomentar o conhecimento, intercâmbio e articulação de instrumentos políticos metodológicos existentes ou outros que surjam no processo de intercâmbio binacional.
    3. Consolidar a elaboração de cartografia cultural como ferramenta para dar a conhecer a importância dos sítios sagrados e conhecimentos associados, para incidir nas políticas nacionais e internacionais relacionadas com sua proteção e salvaguarda.
    4. Avançar no processo de reconhecimento do patrimônio cultural imaterial a nível nacional e elaborar um plano de salvaguarda binacional.
    5. Desenvolver um processo orientado à sua solicitação de declaratória, seja para lista de Patrimônio Mundial (Convenção 72) ou a lista representativa de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade (Convenção de 2003) da UNESCO do sistema de sítios sagrados, lugares de alto valor cultural e conhecimentos tradicionais associados no Noroeste Amazônico.

    Ações prioritárias

    A curto prazo (2014)

    –      Socialização e posicionamento do informe de avanços a nível local, regional e binacional.

    –      Gestão política para reunir as (os) Ministras (os) de Cultura de Colômbia e Brasil em 2015 para socializar os avanços da iniciativa e buscar apoio na gestão de políticas de Estado orientadas à salvaguarda dos sítios sagrados e de alta importância cultural, ao menos na região amazônica.

    –      Estratégia de comunicação para dar a conhecer a importância dos sítios sagrados e os conhecimentos associados ao território da Amazônia, e a necessidade de incluí-los em políticas e instrumentos de ordenamento territorial, desenvolvimento, vida e setoriais, a nível local, regional e nacional.

    –      Fomento à articulação com outras entidades, governamentais e não governamentais, que estejam relacionadas com salvaguarda dos sítios sagrados e de importância cultural.

    –      Intercâmbios de experiências entre organizações indígenas que fazem parte da iniciativa no Brasil e na Colômbia, e entre estas  e outras que estejam interessadas em participar .

    –      Apoio e articulação das iniciativas das mulheres relacionadas com o fortalecimento dos conhecimentos e práticas associadas a seus papeis tradicionais de gênero.

    A médio prazo (2015 – 2016)

    –      Formalização de acordos de manejo de sítios sagrados entre organizações e comunidades indígenas nas zonas fronteiriças de Brasil e Colômbia (Rio Uaupés; zona de Iauareté; rio Içana; rio Tiquié).

    –      Identificação de instrumentos para salvaguarda dos sítios sagrados e de importância cultural a nível internacional.

    –      Apoio mútuo e participação na definição de políticas para salvaguarda dos sítios sagrados e de importância cultural.

    –      Definição, conjuntamente com os indígenas, de um protocolo binacional para o intercâmbio, acesso e manejo da informação cartográfica.

    –      Realização do IV Reunião Técnica Binacional em 2015 para socializar os novos avanços e atualizar a agenda comum.

    –      Fazer um segundo informe de avanços incorporando as recomendações ao primeiro informe realizadas durante esta reunião, que figuram na ata anexa.

    Firmantes:

    1. Faustino Benjamim – Delegado de Meio Ambiente da ACAIPI
    2. Reynel Ortega – Coordenador Tradicional do Meio Ambiente da ACAIPI
    3. Higino Pimentel Tenório – Liderança da FOIRN
    4. Ivo Fontoura – Assessor Indígena da FOIRN
    5. Nildo Fontes – Diretor da FOIRN
    6. Daniel González – Representante legal da ACURIS
    7. Julio López – Tesoureiro da ACURIS
    8. German Valencia – Secretário Geral da ACURIS
    9. Edgar Tanimuca – Operário PPN Yaigojé Apaporis

    10. Aldemar Macuna – Comité de Territorio PNN Yagojé Apaporis

    11. Silvia Gómez – Grupo de Patrimônio Imaterial/Ministério da Cultura da Colombia

    12. Aline Scolfaro – Instituto Socioambiental/ISA

    13. Renata Alves – Instituto Socioambiental/ISA

    14. Francisco Von Hildebrand – Diretor da Fundación Gaia Amazonas

    15. Carolina Duque – Fundación Gaia Amazonas

    16. Andrés Spath – Fundación Gaia Amazonas

    17. Jorge Gonzáles – Fundación Gaia Amazonas

    18. Andrés Llanos – Fundación Gaia Amazonas

    19. Natalia Hernández – Convênio Ministério da Cultura da Colômbia/Fundación Etnollano

    20. Marcela Jiménez – Convênio Ministério da Cultura da Colômbia/Fundación Etnollano

    Para saber mais leia:  Brasil e Colômbia debatem salvaguarda de locais sagrados indígenas do noroeste amazônico

  • Lideranças indígenas discutem e debatem principais problemas na região do Rio Negro durante a Reunião do Comitê Regional.

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    Participantes da reunião aprovam o relatório de atividades e o plano bienal 2014-2015 da CRRN-Funai

    A reunião do Comitê Regional do Rio Negro- Funai, realizado nos dias 05 a 07 deste mês, serviu como mesa de discussão, debates e proposição das ações para minimizar os principais problemas enfrentados atualmente pelos povos que vivem no rio Negro, como o alcoolismo nas aldeias e segurança.

    O Comitê Regional Rio Negro, instituído pelo Decreto 7.056 de 28 de Dezembro de 2009, na sede no município de São Gabriel da Cachoeira, é um órgão colegiado vinculado à Coordenação Regional Rio Negro da Fundação Nacional do Índio- FUNAI, e tem como objetivo garantir a participação dos povos indígenas e suas organizações em instancias do Estado que definem políticas públicas que lhes digam respeito, conforme a Convenção nº 169 da OIT, §2º, sobre os povos indígenas e tribais, promulgada pelo Decreto nº 5.051/04/2004; espaço de governança do PNGATI conforme Decreto 7.747 de 5/06/2012.

    O Comitê Regional é composto por 9 representantes titulares e suplentes da Coordenação Regional do Rio Negro – Funai e 9 representantes titulares e suplentes das organizações indígenas do Rio Negro. À ele compete: i) – formular políticas públicas de proteção e promoção territorial dos Povos Indígenas do Rio Negro; ii) propor ações articuladas com outros órgãos dos governos federal, estadual e municipal e organizações não governamentais; iii) colaborar na elaboração, discussão e aprovação do plano anual para a região; iv) apreciar o relatório anual e a prestação de contas da Coordenação Regional; v) promover a articulação com outros Colegiados existentes na região;  vi) monitorar e avaliar políticas públicas, pesquisas cientificas e outras atividades que impactem positiva e negativamente as comunidades em terras na região.

    A reunião do CRRN teve como tema a  Promoção e Proteção dos Direitos Indígenas do Rio Negro para o Bem-Viver, baseando-se na nova Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas – PNGATI, instituída pelo Decreto nº 7.745, de 5 de Junho de 2012, cujas diretrizes são: i) Proteção territorial e dos recursos naturais; ii) Governança e participação indígena; iii) Áreas protegidas, unidades de conservação e terras indígenas; iv)  Prevenção e recuperação de danos ambientais; v) Uso sustentável de recursos naturais e iniciativas produtivas indígenas; vi) Propriedade intelectual e patrimônio genético e vii) Capacitação, formação, intercambio e educação ambiental.

    A abertura da reunião foi realizada no Auditorio Wayuri do IFAM- Campus Sao Gabriel da Cachoeira, pela parte da tarde do dia 05/12, com discursos de abertura feitos pelo Coordenador do CRRN-Funai, Domingos Barreto, Almerinda Ramos- Presidente da Foirn, Lucia Alberta – Assessora da Presidencia da Funai/Brasilia, Carlos Travasso -Coordenador da CGIRC/FUNAI/Brasília-DF, e Valmir Parintintin- Chefe da Divisão da FUNAI. Lucia Alberta iniciou seu discurso apresentando o panorama atual da questão indígena, que segundo ela, é critico e exige o fortalecimento do movimento indígena brasileiro como o do rio Negro na luta pela defesa pelos direitos garantidos na Constituição Federal.  Pois, os direitos indígenas estão sofrendo ataques frequentes por parte do interesse do agronegócio por meio de elaboração de PECs e instrumentos por seus representantes no Congresso Nacional com objetivo de tirar os direitos conquistados pelos povos indígenas. ” Antes de começar a discutir nossas demandas, precisamos conhecer a situação atual em que vivemos” – disse.

    Almerinda Ramos, presidente da Foirn disse que o momento era muito importante para discutir e apresentar as demandas de cada regional, que serão  incluídas no plano bienal do CRRN-Funai 2014-2015, por isso, as lideranças precisavam participar, e fazer da reunião uma mesa de discussão, debate e definição de debates. “O momento de apresentar e falar das nossas demandas é agora, pois vocês estão aqui representando suas comunidades e associações. A reunião vai servir como mesa de discussão e debates” -concluiu a presidente. O segundo dia (06/12) começou com a apresentação de relatório de atividades pelo Domingos Barreto coordenador do CRRN-Funai e Andre Baniwa, onde foram apontando as realizações, avanços e dificuldades. E após a apresentação cada servidor da CRRN-Funai teve o espaço para compartilhar as dificuldades e desafios.

    Depois houve um espaço de debate, onde as lideranças questionaram, tiraram suas dúvidas e colocaram suas propostas. Algumas lideranças afirmaram que ficaram insatisfeitos com a desativação dos Postos de Fiscalização, que antes da reestruturação funcionavam nos pontos estratégicos da região. O professor Protásio, gestor da Escola Estadual Dom Pedro Massa de Pari Cachoeira, Alto Tiquie, disse que com a desativação dos postos de fiscalização, significou o aparecimento de sérios problemas, como a entrada de bebida alcoólica nos principais rios da região, afluentes do rio Negro, como Waupes, Içana e outros.

    Lideranças do distrito de Iauaretê, relataram casos de brigas e até de mortes causadas pelo consumo de bebidas alcóolicas, na “cidade do indio”, como é comumente conhecida, por ser um povoado multiétnico, que concentra maior número de pessoas. Segundo eles, a bebida alcoólica é vendida livremente do lado Colombiano, e para chegar lá é só atravessar o rio.

    Demandas para próximos anos: Plano de Trabalho 2014-2015.

    Participantes da reunião aprovam o relatório de atividades e o plano bienal 2014-2015 da CRRN-Funai
    Participantes da reunião aprovam o relatório de atividades e o plano bienal 2014-2015 da CRRN-Funai

    Manejo de Piaçava, Manejo de Recursos Pesqueiros, estudo de viabilidade de Turismo em Terra Indígena, Oficinas de Formação e Intercâmbio, Intensificar as fiscalizações em parceria com orgãos competentes, Comunicação e Energia Alternativa foram os destaques do Plano Bienal aprovado pelo Comitê. Mulheres Indígenas e Juventude também não ficaram de fora. As propostas encaminhadas ao final da V Assembleia Geral das Mulheres, realizado pelo Departamento de Mulheres Indígenas, foram apresentados e incluídas. Estão previstas a realização de encontros de formação e conscientização de jovens indígenas, para discutir e elaborar estratégias para minimizar os problemas enfrentados, como o alcoolismo, prostituição e outros

    Em paralelo, também foi discutido e proposto a realização de um grande encontro, denominado de “Parlamento Indígena”, que segundo o professor Gabriel Tukano de Taracúa – Médio Waupés, pode ser um meio de discutir e apresentar propostas de solução para os problemas comuns nas regiões do rio Negro. “Se os orgãos de fiscalização não conseguem estar presentes na região sempre, devemos mostrar que também somos capazes de criar nossas leis (indígenas), fiscalizar e cuidar das nossas terras, colaborar e somar forças com o que já é feito por eles (orgãos) na região”- completou o professor.

    Carta para Presidente da Funai 

    Nós indígenas representantes de 31 povos diferentes, 40 mil habitantes, 4 famílias lingüísticas, 750 comunidades indígenas que vivem em mais de 15 milhões de hectares das Terras Indígenas demarcadas e homologadas na região do Rio Negro e áreas requeridas em andamentos e servidores da Fundação Nacional do Índio – FUNAI/CRRN reunidos no período de 5 a 7 de dezembro de 2013 na maloca da FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) no Comitê Regional Rio Negro apresentamos o nosso plano de trabalho para o biênio 2014 e 2015. Solicitamos a Vossa Senhoria, além das ações propostas no Plano, a seguinte providência para viabilização de algumas propostas que requerem articulações interministeriais conforme as mais importantes prioridades que possam contribuir significativamente para diminuição de problemas sociais enfrentados pelos povos indígenas nas faixas de fronteiras internacionais e nas fronteiras de terras indígenas por onde entram bebidas alcoólicas e outras drogas.

    1. Articular com OTCA, Ministério da Justiça, Ministério dos Direitos Humanos, OIT, MRE, SESAI/MS, Secretaria Geral da Presidência da República para uma reunião juntos aos povos indígenas do Rio Negro com objetivo de discutir problemas enfrentados nas faixas de fronteira com entrada de bebidas alcoólicas e outras drogas com países vizinhos para que se planeje ação integrada de países para promoção e proteção dos direitos e bem estar da população indígena.

    Outra grande prioridade desta regional é dar continuidade às ações para regulamentar o processo de implantação do Turismo de Pesca Esportiva no Rio Marié com ações previstas a partir de janeiro de 2014. É importante regulamentar a atividade como fonte de geração de renda. Neste ano de 2013 realizamos os estudos ambientais e socioculturais necessários, organizando as comunidades para receber a atividade. Impedimos com o auxílio dos indígenas a entrada dos empresários, para garantir os levantamentos e organização das comunidades de abrangência da ACIBRN. No momento, necessitaremos dar continuidade ao processo de regulamentação e do apoio da FUNAI-sede. Segue abaixo a agenda de trabalho: – Assembleia da ACIBRN – 15 de janeiro. – Apresentação/aprovação do Termo de Referência para firmar acordo de pesca esportiva – 30 e 31 de janeiro. – Publicar o Termo de Referencia (abertura para empresas apresentarem propostas conforme o Termo) – 03 de fevereiro. – Oficina/Assembleia sobre Plano de Manejo da região da ACIBRN, discutir e votar sobre as propostas apresentadas pelas empresas interessadas – 23 a 27 de fevereiro. – Firmar contrato/acordo com a empresa conforme deliberações da oficina/assembléia. Segunda quinzena de março. Outra grande prioridade é apoiar os processos de demarcação das Terras Indígenas na região de jurisdição da CR Rio Negro, sendo estas: Terra Indígena Cué Cué Marabitanas (homologação) e Baixo Rio Negro I e II (identificação, declaração e homologação).

    Moção de repúdio sobre a Minuta de Portaria do Ministério da Justiça sobre novos procedimentos de Demarcação de Terras indígenas foram elaborados pelos participantes da reunião.

    A carta destaca:

    – não há motivos técnicos e jurídicos que fundamentem essa mudança dos procedimentos administrativos de reconhecimento territoriais indígenas, mas sim atendendo propósitos políticos de setores econômicos poderosos que visam o esbulho dos territórios indígenas e retrocesso das conquistas democráticas do estado brasileiro.

    –  o Ministério da Justiça tem por dever fazer “justiça” orientado pela Carta Magna brasileira, defendendo os direitos das populações indígenas, mas vem instaurando nas vidas das populações indígenas o sentimento de instabilidade e insegurança, mal sofrido há tantos séculos, antes da promulgação da constituição de 1988.  

  • Oficina de Legendagem e tradução reúne cineastas indígenas em São Gabriel da Cachoeira

    Na abertura oficial, foram apresentados os vídeos que serão traduzidos durante a oficina.
    Na abertura oficial, foram apresentados os vídeos que serão traduzidos durante a oficina.

    A Oficina de Tradução e Legendagem dá seqüência às atividades realizadas no âmbito do Projeto Mapeo, uma iniciativa pioneira de valorização do patrimônio cultural dos povos indígenas do Noroeste Amazônico que vem sendo desenvolvida pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro-FOIRN em parceria com Instituto Socioambiental-ISA, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional-IPHAN/Minc, Vídeo nas Aldeias e mais algumas instituições governamentais, não-governamentais e organizações indígenas da Colômbia.

    O objetivo da oficina é traduzir para o português e legendar as 20 horas de gravações captadas no curso da expedição anaconda pelas câmeras dos cinegrafistas indígenas João Arimar Noronha Lana, da etnia Tariano, Adelson Meira, da etnia Tuyuka, e do cineasta Vincent Carelli do Vídeo nas Aldeias, quem coordenou os trabalhos de filmagem e registro da expedição. Com a participação de diversos conhecedores indígenas das calhas dos rios Uaupés, Papuri e Tiquié e mais alguns documentaristas, lideranças e assessores, a expedição, que ocorreu entre fevereiro e março deste ano, teve como intuito refazer parte da rota de origem dos povos indígenas da famílias linguística Tukano. Os participantes percorreram mais de 800 quilômetros no curso do rio Negro entre Manaus e São Gabriel da Cachoeira, identificando 23 sítios sagrados localizados neste trajeto e fazendo o registro dos conhecimentos e das histórias a eles relacionadas. A viagem foi apenas a primeira de uma série que vem sendo planejada no intuito de registrar o caminho percorrido pela cobra-canoa ancestral que levou os grupos indígenas de língua Tukano até os locais em que hoje vivem, na região do Alto Rio Negro. A próxima expedição terá a cidade de São Gabriel da Cachoeira como ponto de partida e a cachoeira de Ipanoré, no médio rio Waupés, como destino.

    Uma das integrantes da expedição e também uma das organizadoras da oficina, Aline Scolfaro do Programa Rio Negro do ISA-Instituto Socioambiental, explica que com o material produzido na oficina de tradução e legendagem, será possível produzir um videoclipe para divulgação externa do projeto, com o objetivo de mostrar a importância do registro e preservação dos lugares sagrados para os povos do rio Negro. “É importante que o trabalho de registro dos lugares sagrados, iniciado pela expedição Anaconda seja divulgado para chamar a atenção da sociedade em geral e principalmente o governo para a importância desta iniciativa e para a necessidade de se obter apoio para expandir essas experiências”, explica Aline.

    João Arimar, Tariano, 33, é cineasta de Iauaretê/Médio Waupés. O primeiro contato com uma câmera filmadora foi em uma oficina realizada após o registro da “Cachoeira das Onças”, documentário que ocorreu há 5 anos e que foi produzido no processo de registro pelo IPHAN da Cachoeira das Onças como lugar sagrado dos povos indígenas dos rios Uaupés e Papuri e Patrimônio Cultural do Brasil. Segundo ele, participou da expedição Anaconda como “câmera. Na oficina traduz as falas em Tukano para o português. Ele disse que a parte mais difícil da tradução é “tentar” traduzir termos de difícil interpretação, “algumas palavras vão assim mesmo”, afirma.

    Tatiana Andrade ou Tita, Pernambucana, 30, é a facilitadora da oficina. A respeito das palavras difíceis, deixa claro: “Ainda que seja necessário dois ou até três linhas para traduzir o significado de apenas uma palavra, vamos colocar. Isso é importante para as pessoas que não entendem as línguas usadas nas gravações, para que entendam a importância daquele lugar”.

    Ela atua há 4 anos no Vídeo das Aldeias, que é parceiro no projeto Mapeo e que realiza as filmagens junto aos cineastas indígenas, faz a sistematização e a pré-edição do material. Segundo ela, a oficina é mais que o trabalho de colocar legenda, é também um encontro das ferramentas tecnológicas (programas de computador) com as narrativas. “Os participantes da oficina estão aprendendo a usar as ferramentas e fazendo os recursos dialogarem com as narrativas”, explica. A respeito dos avanços da oficina ela elogia os tradutores dizendo que “são bem detalhistas, como têm experiências e uma vivencia frequente com os antropólogos, possuem conhecimento de termos e recursos linguísticos apropriados para o trabalho, por isso, espero que o vídeo possa também ter um aproveitamento acadêmico, em algum nível”.

    Higino Tenório, 58, Tuyuka, na expedição Anaconda teve a função de articulador e mobilizador junto aos conhecedores e também foi um aprendiz, ressaltando que  “durante a viagem aprendi com os velhos e completei meus conhecimentos”. Na oficina é tradutor da língua Bará e Tuyuka. A respeito da oficina e ao uso das novas tecnologias como aliadas na preservação e valorização das culturas indígenas, disse que o “uso das ferramentas tecnológicas garante a perpetuação destes conhecimentos para futuras gerações”. E ainda ressalta, “mostrar para a sociedade em geral, principalmente os não-indígenas que a região do Rio Negro é ocupado desde tempos remotos e que não é uma área vazia como muitos pregam”.

    Adelson Marques Tuyuka, 20, Ivo Fernandes Fontoura, 39, Nivaldo Castilho, 40, completam a equipe de tradutores na Oficina de Legendagem que começou no dia 29 de julho e vai até 13 de agosto no Pontão de Cultura do Rio Negro/FOIRN em São Gabriel da Cachoeira.

    Expedição Anaconda: “Seguindo os rastros dos ancestrais”.

    Sítio Temendawi, médio Rio Negro, um dos lugares sagrados visitados pela expedição.
    Sítio Temendawi, médio Rio Negro, um dos lugares sagrados visitados pela expedição.

    A expedição Anaconda foi realizada durante 14 dias, no período de 03 a 24 de março deste ano, que visitou 23 lugares sagrados compartilhadas na tradição narrativa grupos étnicos da família linguística Tukano. O próximo trecho do percurso a ser realizado é entre São Gabriel da Cachoeira à Ipanoré médio rio Waupés de está prevista, se tudo correr bem, para o mês de fevereiro do próximo ano. “Nas narrativas de origem a viagem da Cobra Canoa de Transformação, começou do Lago de Leite, Baía de Guanabara, que fica no rio de Janeiro até Ipanoré, Médio Waupés, foram os ancestrais totalmente “espíritos”, que ao longo da viagem se transformavam. E somente a partir de Ipanoré que nasceram os ancestrais físicos que ocuparam os territórios dados pelo criador” – explica Higino. Por isso, segundo ele, a primeira parte da expedição só será concluída quando completar o percurso que será a chegada em Ipanoré. “Do trecho de São Gabriel-Ipanoré serão visitados 20 lugares sagrados”- completa Higino.

    Saiba mais:

    – Entrevista com Aline Scolfaro – A Expedição Anaconda e a valorização da cultura indígena.

    – Expedição inédita sai de Manaus e sobe o Rio Negro para mapear lugares sagrados

    – Expedição Anaconda chega a Barcelos depois de 14 pontos de parada em uma semana de navegação

    – Expedição Anaconda chega ao seu destino depois de duas semanas navegando pelo Rio Negro