Categoria: Educação

Noticias sobre o tema educação no âmbito do Rio Negro

  • Comunidades indígenas do baixo e médio rio Negro discutem educação escolar indígena

    apresentação GT - foto Andre Baniwa
    Na foto Liborio Sodré Diniz, apresenta resultado de trabalhos em grupo durante o Seminário de Educação Escolar Indígena em Itapereira

    A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e a Fundação Nacional do Índio (Funai), em parceria com o ISA, realizaram, na comunidade de Itapereira, de 28 a 30 de janeiro, o seminário de Educação Escolar Indígena. Cerca de 70 pessoas das etnias Arapaso, Baré, Baniwa, Carapanã, Cubeo, Desano, Piratapuia, Tariano, Tukano e Tuyuka, representando 13 comunidades participaram do evento entre lideranças comunitárias, das associações indígenas e representantes da Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro. Além deles estiveram presentes o assessor do Departamento de Assuntos Indígenas da prefeitura de São Gabriel da Cachoeira, professores indígenas, pais e alunos.

    O seminário faz parte do projeto da Foirn, denominado “Seminários de Educação Escolar Indígena” – lançado em 21 de janeiro de 2014.  Tem como objetivo, no âmbito da política dos Territórios Etnoeducacionais, realizar um diagnóstico ampliado e aprofundado sobre a realidade da educação escolar indígena nas cinco regiões administrativas do rio Negro, promover o intercâmbio de experiências, propor, de forma mais específica, melhorias de infraestrutura, metodologias de ensino, formação de professores indígenas, elaboração de projetos políticos pedagógicos indígenas – na perspectiva da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), política instituída pelo decreto 7.747, de 5 de junho de 2012 – e, aprofundar a discussão político-filosófica da educação escolar indígena e suas especificidades rio-negrinas.

    No primeiro dia foram realizadas duas palestras: “Os direitos indígenas no Brasil e políticas de territorialidades do governo federal no Rio Negro” e “A prática da educação indígena e educação escolar indígena: as conquistas e as leis da educação escolar indígena”.  Também foram apresentadas as experiências das escolas Baniwa e Tuyuka.

    Para Andre Baniwa (FUNAI), o Rio Negro tem mais de 200 anos de contato, mas há milênios os ancestrais já estavam ali. “Nós temos que nos reorganizar porque o contato desorganizou a gente. A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro é uma reconstituição das nossas forças, que já existiam no passado. Se a gente pensar nisso as lutas valeram a pena. Muitos já não estão aqui. A gente continua, não só fisicamente, mas também politicamente. Devemos dar continuidade à nossa luta. Que os jovens possam pensar, refletir e dar continuidade à isso. É a nova geração que vai continuar, sempre.”

    A partir disto, lideranças indígenas destacaram a importância da educação como uma conquista do movimento indígena do Rio Negro, na luta por seu território e seu fortalecimento. Nesse sentido, consideraram fundamental prosseguir na consolidação de uma educação escolar indígena no Rio Negro, que valorize as especificidades regionais e faça valer o direito indígena por seus métodos próprios de ensino-aprendizagem.

    André Baniwa apresentou as experiências da Escola Pamáali dizendo que a metodologia de ensino utilizada foi o ensino via pesquisa.  “Antes dela o professor ficava escrevendo na lousa, a criança ficava com sono. Era só bater o sino que as crianças saíam correndo da sala de aula. O ensino via pesquisa mudou isso, e era justamente esse sistema que queríamos quebrar. Queríamos provar que não era preciso se vestir igual, como na época do internato, para poder aprender. Que não era preciso ser rico para aprender. Isso nós conseguimos provar com nossa escola. Nossa escola tem laboratórios de informática, tem criação de alevinos, tem hortaliças. E não consideramos o prédio como um espaço único de aprendizagem”.

    Professores indígenas informaram que no início da discussão sobre educação escolar indígena no Baixo Rio Negro, ouviam dos pais: “Será que meu filho vai voltar a andar nu?”. E contaram que muitos pais ainda sentem dificuldade em compreender a educação escolar indígena, temendo que seus filhos não saibam se relacionar, não sejam respeitados pela sociedade nacional e que não possuam um nível de conhecimento a altura dos não indígenas.

    A preocupação do aprendizado em língua portuguesa ainda é um fator que dificulta a inserção de uma língua indígena como prioritária no processo de letramento das crianças. Mas, por outro lado, consideram importante manter os conhecimentos indígenas vivos, temendo também, que seus filhos os esqueçam.

    O professor Higino Tuyuka ressaltou a importância da língua própria no processo de letramento das crianças e jovens: “Na educação escolar indígena Tuyuka um dos principais objetivos foi o fortalecimento da língua Tuyuka. A língua Tuyuka era nossa língua de instrução em sala de aula. A grafia, o processo de letramento foi realizado na língua Tuyuka. A gente não reprovava, porque o reprovar é da cultura ocidental”.

    Lideranças indígenas apontaram a educação escolar indígena como um espaço de produção de conhecimento e que nesse espaço cabem os conhecimentos indígenas e os não indígenas.

    Uma das propostas que surgiu durante os debates, com necessidade de maior amadurecimento, foi a possibilidade de federalizar a educação escolar indígena, por considerarem mais viável seu fortalecimento a partir de um diálogo direto com o governo federal.

    No segundo dia a pauta foi a organização de grupos de trabalho para a realização de um diagnóstico participativo das escolas indígenas, contendo informações sobre a realidade atual e as demandas sobre infraestrutura; formação; projeto político pedagógico indígena; linguagem; tecnologia da informação e comunicação. Após o trabalho de grupo houve a apresentação, debates em plenária e a sistematização das informações levantadas.

    A partir dessas apresentações o projeto político pedagógico indígena (PPPI) foi apontado como base importante para o reconhecimento das escolas indígenas, mas que há pouco interesse dos conselhos de educação – municipal e estadual – em seu reconhecimento.

    Outro desafio é a construção desses projetos políticos pedagógicos indígenas sem o devido acompanhamento pedagógico das secretarias municipais e estadual de educação, e, sobretudo, o acompanhamento de profissionais com experiência em educação escolar indígena.

    Uma das principais propostas para o tema foi criar uma equipe, coordenada pela Foirn, composta por pela Funai, Forin e Secretaria Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira. A equipe deverá promover oficinas nas regionais do Rio Negro e realizar acompanhamentos durante todo o processo de construção dos PPPIs. Um proposta específica para implementar uma merenda escolar adequada para o território Etnoeducacional do Rio Negro também foi debatida.

    No último dia, Claudia Bandeira, da Funai/Brasília, apresentou a proposta da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas -PNGATI, sobre como incluir a política nacional de gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas na educação escolar indígena do Rio Negro.

    O diretor da Foirn, Nildo Fontes informou que a federação,  hoje, tem como objetivo aliar seus projetos voltados para a linha de ação do PNGATI, através de seus sete eixos (1 – Proteção Territorial e dos Recursos Naturais; 2 – Governança e Participação Indígena; 3 – Áreas Protegidas, Unidades de Conservação e Terras Indígenas; 4 – Prevenção e Recuperação de Danos Ambientais; 5 – Uso Sustentável de Recursos Naturais e Iniciativas Produtivas Indígenas; 6 – Propriedade Intelectual e Patrimônio Genético; 7 – Capacitação, Formação, Intercâmbio e Educação Ambiental). Avaliou que é possível pensar, planejar e incluir algumas diretrizes voltadas para a educação escolar indígena dentro do PNGATI, considerando a formação de gestores ambientais indígenas como um ponto importante.

    Para o professor Higino Tuyuka é preciso planejar o trabalho dentro da PNGATI. “Na educação, como vamos inserir essa politica dentro do currículo da escola? Por aqui estamos acostumados a receber o prato feito de quem vem de fora. Eu sou desconfiado do sistema de ensino. Como dizem os analistas em educação: o currículo vem do “saber sabido”. Por isso é importante ter esse cuidado, precisa pensar em como inserir essa política”, disse. “Uma proposta é pensar na EJA – Educação de Jovens e Adultos Profissionalizante Indígena e dentro dessa EJA estudar o tema Gestão Ambiental, para que esses jovens e adultos virem técnicos e no futuro cuidem de seu território, trabalhando em sua própria comunidade. E é necessário que esse curso profissionalizante seja implementado de forma rápida e que o currículo seja construído em conjunto com professores, lideranças indígenas e alunos”.

    Higino Tuyuka participou como palestrante e colaborador no Seminário de Educação Escolar Indígena, realizado em Itapereira.
    Higino Tuyuka participou como palestrante e colaborador no Seminário de Educação Escolar Indígena, realizado em Itapereira.

    Colaborou: Lirian Ribeiro Monteiro/ISA-Rio Negro e Ivo Fontoura/Foirn-Educação

  • Carta do III Seminário de educação Escolar Indígena, de Santa Isabel do rio Negro

    Santa Isabel do Rio Negro, 01 de agosto de 2013.

     

    Aos Exmos. Srs.:

    Omar Aziz

    Mariolino Siqueira de Oliveira

                        Governador e Prefeito,

            Nos dias 31 de julho e 01 de agosto de 2013, a ACIMRN – Associação das Comunidades Indígenas do Médio rio Negro – promoveu o III Seminário de educação Escolar Indígena, no município de Santa Isabel do rio Negro. Reuniram-se lideranças e professores indígenas das comunidades de Ilha do Pinto, Bacuri, Bacabal, Açaituba, Espírito Santo, Samaúma, Aruti, Tabocal do Enuixi, Mangueira, Castanheira, Campina do Rio Preto, Roçado, Abianai, Boa Vista, Ilha do Chile, Uábada II, Castanheirinho, Tamacuaré do rio Maiá, Irapajé, Massarabi, Tapereira, Acarabixi, Cartucho, Areial II, Iahá, Plano, Malalahá, São João II, Ilhinha, Paraná, Missão Marauiá, Tibahá, Matozinho, Acariquara e Monte Alegre, além de professores da sede, associações indígenas e instituições não governamentais.

    Inicialmente é importante destacar que os direitos voltados às populações indígenas, sobretudo no que se referem às políticas educacionais e inclusive às áreas não demarcadas ou ainda em processo de demarcação, estão asseguradas desde a Constituição de 1988. As discussões sobre a educação escolar indígena também não são novas no município de Santa Isabel do Rio Negro, pois desde 1992 as populações indígenas da região se preocupam com um ensino de qualidade que respeite suas especificidades culturais. Desde o I Seminário de Educação Escolar Indígena, realizado de 27 a 30 de agosto de 2010, lideranças, professores, associações indígenas e demais instituições parceiras discutiram e encaminharam demandas com o objetivo de fortalecer as políticas educacionais voltadas aos povos indígenas.

     

    O objetivo do III Seminário foi o de discutir a realidade atual da educação escolar indígena no município, realizando:

    • mapeamento das escolas existentes nas comunidades com número de alunos, de professores e níveis de ensino e identificação das ações de instituições na região (Secoya, Pró-Amazônia, Rios Profundos)
    • Apresentação das experiências de educação escolar indígena no Alto Rio Negro;
    • Apresentação da política do Território Etnoeducacional e seu andamento no TEE Rio Negro – CGEEI/SECADI/MEC
    • Apresentação das linhas de ação dentro da Política de Educação Escolar Indígena da SEDUC para o município de Santa Isabel;
    • Apresentação sobre o processo de reconhecimento dos Projetos Políticos Pedagógicos Indígenas e o contexto de santa Isabel do rio negro – Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena.
    • Caminhos possíveis de construção da educação escolar indígena em Santa Isabel – Secretaria Municipal de Educação de Santa Isabel.

     

    Infelizmente o Mec, a Seduc, o Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena, o secretário municipal de educação e o prefeito, que foram convidados, não confirmaram presença em nosso III Seminário. Desta forma não foi possível discutir, de maneira mais aprofundada, as ações desenvolvidas no âmbito federal e estadual, assim como não foi possível encaminhar nossas propostas e pactuar planos estratégicos.

    Durante o III Seminário os participantes realizaram um mapeamento da situação das escolas nas comunidades e perceberam que a educação escolar indígena não vem sendo aplicada. Nas comunidades indígenas há falta de professores indígenas preparados, falta de material didático específico, os projetos políticos pedagógicos indígenas não foram elaborados em conjunto com as comunidades, os calendários existentes não são específicos e diferenciados, os currículos existentes não são voltados para a realidade local e ainda não há um sistema de avaliação próprio. É importante ressaltar que a escola diferenciada não é seriada, como vem sendo realizada nas comunidades.

     

    O representante da Secretaria Municipal de Educação pôde apresentar o programa “Escola Ativa” que a nosso ver não condiz com a realidade indígena da região, pois esse programa é mais voltado para populações do campo. O que queremos é o reconhecimento, estruturação e o funcionamento, pelo Município e Estado, das escolas das comunidades indígenas e de um departamento de Educação Escolar Indígena Diferenciada e Específica, que, aliás, está na Constituição de 88 e amparada no artigo 78 da lei 9394/96 da LDB, Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Indígena (aprovada em 2012), artigo 79 da LDB, artigo 1 da CNE/CEB 3/99.

     

                  Diante do exposto, os participantes do Seminário solicitam ao:

     

    Município: Criação de um departamento de educação escolar indígena com equipe técnica com experiência em educação escolar indígena, garantindo recurso para sua criação e manutenção; Criar e reconhecer as escolas indígenas de nível fundamental das regiões de Alto, Médio e Baixo Santa Isabel; Reconhecer as escolas Yanomami; viabilizar a merenda regionalizada; realizar formação específica e garantia de contratação de professores indígenas; criação da categoria “professor indígena”, assegurando suas vagas específicas dentro de um concurso público específico.

    Estado: A criação do ensino médio indígena nas comunidades do Alto, Médio e Baixo Santa Isabel; Formação específica e garantia de contratação dos professores de nível médio indígena; nas comunidades onde há o ensino médio tecnológico deve-se mudar para o ensino médio indígena presencial; criação da categoria “professor indígena”, assegurando suas vagas específicas dentro de um concurso público específico.

    Conselho Municipal de Educação: Apreciação dos Projetos Políticos Pedagógicos das Escolas Indígenas de nível infantil ao fundamental.

    Conselho Estadual de Educação: Apreciação dos Projetos Políticos Pedagógicos das Escolas Indígenas de nível médio.

    Sem mais, agradecemos desde já e contamos com o apoio do Estado e Município para a implementação da política de educação escolar indígena em nossas comunidades, no município de Santa Isabel do Rio Negro.

  • Povo Baniwa e Coripaco, reivindicam a criação de Escolas Estaduais de Ensino Médio Indígena

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    Grupos de trabalho

    A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN, desde sua fundação vem lutando pelos direitos dos povos que representa, nesses seus 26 anos,  conquistou  o  acesso a saúde, educação e alternativas econômicas, nas comunidades,porém está longe do desejo das comunidades o desafio maior ainda é fazer os governantes aceitarem a Educação Escolar Indígena como politica publica para que seja aplicada nas salas de aulas, enrriquecendo a qualidade de formação de jovens indígenas para o mundo atual, para que de fato possa contribuir com sua comunidade e região com a valorização de conhecimentos tradicionais junto com tecnologia de formação ocidental.

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    Participantes do V-Encontro 

    O V – Encontro de Baniwa e Coripaco,  foi realizada na comunidade Tunui Cachoeira nos dias 3 a 5 de junho de 2013. Neste encontro a OIBI (Organização Indígena da Bacia do Içana) em parceria com ACEP (Associação Conselho da Escola Pamáali) reuniu  400 pessoas para discutir principais problemas e dificuldades enfrentadas pelas comunidades Baniwa e Coripaco nos últimos tempos na educação básica como direito especifico da Educação Escolar Indígena. O encontro teve apoio da FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), ISA (Instituto Socioambiental), FUNAI (Coordenação Regional Rio Negro Funai São Gabriel da Cachoeira), SEMEC (Secretaria Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira), SEDUC (Secretaria Estadual de Educação e Qualidade do Ensino no Estado Amazonas), SEIND (Secretaria Estadual para Povos Indígenas do Amazonas) e CEEI (Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena do Amazonas). Os mesmos através de seus representantes estiveram  presentes no encontro.O povo Baniwa e Coripaco vem se organizando formalmente quatro anos depois de nova Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 que destacou capitulo específico dos direitos indígenas. A OIBI por exemplo é de 1992 e a ACEP do ano de 2000. Mas não existem somente essas duas associações. Existem 10 associações Baniwa e Coripaco e uma coordenadoria regional. Essa organização social formal do povo representa mais de 93 comunidades, mais de 6.200 pessoas no lado Brasileiro. Somando da Colômbia e Venezuela fazem mais de 17 mil pessoas pertencentes a família lingüística Aruak. Na avaliação destes povos através de seus representantes lideranças que vem trabalhando e avaliando o trabalho do movimento indígena, já logrou com sua organização o reconhecimento de suas escolas, por exemplo, a Escola Indígena Baniwa e Coripaco – EIBC, pioneiro que deu abertura aos demais criação de outras escolas que se organizaram em uma rede de escolas Baniwa e Coripaco em 2007 com objetivo de fazer intercambio de experiência pedagógica e aperfeiçoar suas atividades para se ter uma boa qualidade de ensino de acordo com a realidade, interesse e objetivo das comunidades

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    A outra parte muito importante da conquista foi na área de  formação de professores. Quando criaram o seu movimento há duas décadas atrás, não havia professores formados. Tinha algumas pessoas que davam aula apenas com objetivo de fazer seus parentes saber ler e escrever. A partir de suas reivindicações o município criou o Magistério Indígena que faz hoje ter quase 200 professores ainda considerados insuficientes. Alguns professores já fizeram faculdades e outros hoje estão nos cursos de licenciaturas interculturais de acordo com as reivindicações do movimento indigena, também ainda insuficientes para suas escolas. Mas comparando uma década atrás, aumentou muito o poder pedagógico próprio. Com estas poucas conquistas hoje o povo Baniwa tem 2020 alunos no ensino fundamental completo, que representa 32% da população total, sendo 1.173 na fase inicial e 720 alunos na fase final segundo dados de 2013 da SEMEC. Este ano estão funcionando 55 escolas nas comunidades e 7 estão paralisadas. Dos 93 comunidades 62 tem escolas (66%) e 31 comunidades não tem escolas (34%). Isso significa que ainda tem muitos Baniwa e Coripaco em idade escolar que estão sem acesso a Educação Escolar. No ensino médio temos mais de 250 alunos segundo levantamento na viagem no Içana e Ayari no final do mês passado ao início deste de Maio. Apenas uma Escola matriz, demais como unidades de formação. Apesar de tudo isso, no Ensino Fundamental Completo apenas uma escola tem PPP (Projeto Político Pedagógico) aprovado no Conselho Municipal de educação. No ensino médio tem apenas uma escola matriz que não tem PPP aprovado no CEE-AM (Conselho Estadual de Educação do Amazonas).IMG_4794

    A partir deste levantamento pela coordenação do encontro dá para se perguntar qual é o nível da boa qualidade do ensino para desenvolvimento sustentável e gestão territorial. É essa problemática que foi discutida no encontro, além de reivindicar a criação das Escolas de Ensino Médio que se basearam na organização regional separada em 04 grupos que definiram o local de funcionamento das escolas e nomes de futuras,O resultado dos trabalhos dos grupos demonstraram a importância e urgência da necessidade da criação de 4 escolas estaduais indígenas para o funcionamento do ensino médio indígena, em seguida encaminhadas e aprovadas por unanimidade (i) ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA BAREKENIWA; (ii) ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA TTOLEE; (iii) ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA KALIKATTAADAPA; (iv) ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA EENO HIEPOLE. E foi deliberado um grupo de liderança para se encontrar com governo do Estado para solicitar a criação da mesma e um encontro de finalização de PPPI no mês de outubro com todas as escolas.

    Entrega de Material para participantes
    Entrega de Material para participantes
  • CARTA SOBRE FORMAÇÃO DE AIS – RIO NEGRO

    Ao Ilmo. Sr.:Alexandre Oliveira Cantuária
    C/C: Ilmo. Sr.: Antonio Alves de Souza – SESAI
    Ex. Senhor  Ministro da Saúde.
    Coord. Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro – DSEI-ARN/SESAI/MS

    Ref.: Curso dos Agentes Indígenas de Saúde e saúde dos povos indígenas do Rio Negro

    Prezado Senhor Alexandre,

    Diante do diálogo através de telefonemas e e-mails trocados entre FIOCRUZ, FOIRN e DSEI, SESAI nos últimos tempos resolvemos elaborar esta carta formal para que as coisas fiquem bem claro entre as instituições, que tem sua missão a cumprir como setores de governo de unidades de execução técnica das políticas de saúde no país. E a federação como representante legítimo dos povos indígenas que vem travando diálogo, acordos entorno da execução correta dos direitos, políticas públicas para os povos indígenas e manifestar sobre interesse dos mesmos de direito constitucional e Sistema Único de Saúde e Subsistema de Saúde Indígena no Rio Negro e no Brasil.

    Primeiro queremos lembrar que os direitos indígenas são conquistados e a saúde indígena como subsistema do SUS foi fruto de longo tempo de luta, e é a única no Brasil onde os povos indígenas tem mais participação na sua construção porque entende que é fundamental e assim os aliados não indígenas parceiros nos ajudam nesta luta para melhoria cada vez mais deste sistema para prestação de serviço nas comunidades aos povos indígenas no Brasil. Por isso o nosso acompanhamento e participação da história, da construção, da conquista, da implantação e avaliação tanto local, regional e nacional. Isto se refere ao sucesso, fracassos , omissão, negligencia, ineficiência da gestão da saúde nos últimos tempos. Tratamos isso não como uma coisa particular, mas como Estado Nacional Brasileiro que teve na sua meta originalmente de acabar com os povos indígenas até ano de 2000. Por isso entendemos que as políticas públicas voltado aos povos indígenas nunca foram adequados para a realidade local que é um dos princípio do SUS. Com as práticas demonstradas até hoje o Estado Brasileiro resiste não buscar entendimento junto aos povos indígenas a fim de superar problemas e dificuldades. Quando nós nos posicionamos, não significa que não somos brasileiros, ao contrário, estamos sendo mais que Brasileiros, povos nativos deste país, de direito originário garantido na Constituição da República Federativa do Brasil.

    Queremos esclarecer que o Curso dos Agentes Indígena de Saúde é de interesse dos povos indígenas do Rio Negro. É um projeto de luta que surgiu antes do DSEI, porque não havia serviço nenhum de saúde nesta época nas comunidades indígenas. Com a criação do Subsistema da Saúde Indígena que criou os DSEIs no Brasil, e que na sua implantação este projeto foi importante  justificativa de experiência positiva no país. Ao se implantar DSEI RN, os profissionais de saúde começava questionar legalidade desta prática e por isso tem sido fraco na sua formação pela FUNASA que praticava os cursos para informar os agentes de saúde, e não formava os agentes de saúde. Mas depois de muito esforço do movimento indígena de esclarecer a importância, justificada pela própria ausência de profissionais em área, voltou a fortalecer esta política fundamental para os povos indígenas e comunidades no Rio Negro. Este projeto de Curso de técnico em agente comunitário indígena foi discutido dentro do Conselho Distrital que deliberou sobre ela através da resolução que é instrumento de qualquer colegiado, conforme orientação da lei do Controle Social no Brasil, especialmente da Saúde; depois buscou-se a parceria com a FIOCRUZ/Manaus que nos ajudou articular ensino médio na SEDUC já concluído; e nós junto a prefeitura municipal através da SEMEC conseguimos convencer para que fosse feita curso para conclusão de ensino fundamental; tudo isto porque entendíamos que assim poderia melhorar e muito o entendimento dos agentes de saúde e consequentemente melhorar o serviço de saúde nas comunidades através deste atores sociais e profissionais das próprias comunidades, resolvendo a fragmentação constantes ou paralisação de meses e muitas vezes de anos da ausência de profissionais de nível superior nas comunidades que continuam até hoje. Esse projeto foi aceito para ser desenvolvido pela FUNASA/MS e SESAI/MS no âmbito experimental. O curso é uma adequação dentro parâmetro curricular do Ministério da educação junto com Ministério da Saúde, dentro dos direitos indígenas que tem política de regionalização. Por isso o curso tem sido pauta do CONDISI e conteúdo do plano trienal do DSEI, além do que hoje o DSEI é uma unidade autônoma.

    Estas citações acima é para que pudéssemos dizer que quando ouvimos do novo Chefe do DSEI Rio Negro dizer que não tem legalidade e repassa o assunto a SESAI de Brasília ficamos triste, pois isto não passa de uma “enrolação” ou “procrastinação” de gestor das políticas públicas. Além disso onde está autonomia do DSEI? Onde está o poder do CONDISI? Se há problema de ilegalidade deve ser indicada claramente, sob entendimento de que as instituições envolvidas são parceiras, pelo menos até antes desta nova gestão. Ao nosso ver o Chefe Distrital precisa que seja transparente nas suas ações e posicionamentos políticos. Seguir a rigor a burocracia, técnicas, direitos administrativos é ser apenas técnico, ser apenas administrador, não gestor de uma política.

    Aproveitando esta oportunidade queremos também nos manifestar sobre as conferencias locais de saúde, a FOIRN não está sendo informada devidamente. Esta preocupação refere-se ao passado para não repetir os mesmos erros da última conferencia nacional da saúde indígena onde a FUNASA manipulou resultados desde conferencias locais até ao nacional, que ao final em termo de prática levou a total paralisação do serviço de saúde nas comunidades no Brasil inteiro.

    Gostaríamos de sugerir que este momento é tempo de diálogo, de entendimento, da flexibilidade sem deixar de seguir as técnicas recomendas pelo SUS, Organização Mundial da Saúde e gestão financeira. Observamos que assim podemos alcançar nossos objetivos comum como pessoas responsáveis pelas vidas das pessoas indígenas.

    Sendo este o nosso objetivo, esperamos daqui em diante que a parceria se retome na sua confiabilidade, re-consolidar os princípios democráticos e execução com boa qualidade de atendimento de serviço de saúde nas comunidades indígenas, não só no Rio negro, mas em todo Brasil. E que o Curso dos Agentes Indígenas de Saúde se conclua com apoio do SESAI, do DSEI Rio Negro que tem suas metas a cumprir, e os AIS são fundamentais para este cumprimento.

    Atenciosamente, lideranças indígenas

    1. Cesar Fernando de Lara
    2. Esmeraldo Maia
    3. Maristela Araujo Cordeiro
    4. Almir Vieira de Lima
    5. Simão Pedro Pedrosa Campos
    6. Maximiliano Correa Menezes
    7. Renato Sampaio Macedo
    8. Leôncio Alba Carvalho
    9. Nelson Cordeiro Aguiar
    10. Maximiliano Correa Menezes
    11. Renato Sampaio Macedo
    12. Leôncio Alba Carvalho
    13. Nelson Cordeiro Aguiar
    14. Adão Henrique
    15. Luiz Brazão dos Santos
    16. Evanildo Mendes Melgueiro
    17. Carlos de Jesus da Silva Ricardo
    18. Ronaldo de S. Apolinario
    19. Franklin Paulo da Silva
    20. Laureano Americo Monteiro
    21. Lucas Felipe da Silva
    22. Abrahão de Oliveira França
    23. Sidnei José  Olar dos Santos
    24. Maria Lucilene L. Fidelis
    25. Orlando Jose de Oliveira
  • Carta de Manifestação da FOIRN para Presidente do Brasil

    CARTA DA FEDERAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DO RIO NEGRO  

    Exma. Sra. Presidente, 

    No dia do nosso aniversário de 26 anos, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN – representante legítimo de 30 povos indígenas do Rio Negro e 750 comunidades indígenas, vem dirigir-se a digna presença da Vossa Excelência a fim de listar a nossa inquietação sobre fatos divulgados por meios de comunicação acessíveis à grande maioria do povo brasileiro contra os nossos direitos como povos indígenas, conquistados com apoio da sociedade Brasileira, cinco séculos depois da colonização.

    Primeiro, manifestamo-nos contra a Proposta de Emenda Constitucional 215/2000 (PEC 215), que sugere transferir do Poder Executivo para o Congresso Nacional a aprovação de demarcação, titulação e homologação de terras indígenas, quilombolas e a criação de Áreas de Proteção Ambiental, uma vez que segundo nossa constituição art. 231, § 4º – …os nossos direitos sobre nossas terras, são imprescritíveis. No Rio Negro há duas terras indígenas em processo de demarcação na região de Santa Isabel do rio Negro e Barcelos; a outra em processo de Homologação.

    Consideramos a PEC 215 inconstitucional. Por causa disso exigimos que tenhamos participação no processo de discussão para falarmos da verdade do direito, pois segundo convenção 169 da OIT, os povos indígenas devem ser consultados como direito fundamental.

    Desta forma podemos enxergar claramente, sem sombra de dúvida, que tudo o que está sendo feito no Congresso Nacional é motivado unicamente pelo interesse de pôr fim à demarcação de terras indígenas, quilombolas e à criação de novas Unidades de Conservação da Natureza em nosso país. Por isso a PEC 215 é um atentado aos princípios constitucionais e aos nossos direitos como povos indígenas de direito originário e histórico.

    Apesar do adiamento da instalação da Comissão Especial para o segundo semestre, isso não nos tranquiliza, não nos satisfaz, pois é apenas alongamento de tempo, não uma garantia de direito, mas de apenas “ganhar tempo” para um forte lobby pela aprovação da PEC 215.

    Sabemos que se trata de interesse da Frente Parlamentar Agropecuária, conhecida como bancada ruralista. A Constituição Federal nos garante o direito como povos indígenas e comunidades quilombolas, territórios tradicionais ocupado e comprovado. Estas terras para nós são muito importantes, pois nos garante a vida de agora e de nossas futuras gerações, além da proteção ao meio ambiente e que é o papel do Estado Brasileiro fazer respeitar nossos direitos. É bem sabido que as Terras Indígenas são locais que preservam o meio ambiente tão importante para o presente e futuro do todos os povos do mundo.

    Exma Sra Presidenta, sua atribuição constitucional é promover o bem estar da população Brasileira. Por isso vimos RE-QUE-RER da Vossa Excelência que apele aos parlamentares a fim de rejeitarem a PEC 215. Pois os nossos direitos são frutos de muitas vidas neste país. Não podemos aceitar isso! Nós temos que lutar até o fim pelos nossos direitos! Pois esta é a terra de povos onde “Verás que um filho teu não foge à luta”.

    Que os interesses políticos e econômicos de uma minoria da sociedade não se sobreponham aos nossos direitos. As conquistas, fruto de longo processo de organização e mobilização da Sociedade brasileira, são agora ameaçadas pela PEC 215 cuja aprovação desfigura a Constituição Federal e significa um duro golpe aos direitos humanos e aos direitos constitucionais do povo indígena.

    Não bastassem as ameaças que nossos direitos sofrem, nossos serviços básicos de saúde e educação na região estão péssimos. Sem infraestrutura básica, vemos profissionais da saúde parados e sem qualquer atuação relevante à saúde de nosso povo. Nossos professores e alunos se encontram sem alternativas apoiadas pelo Estado que contemplem nossas tradições e culturas. É preciso atenção urgente do governo federal a estas áreas.

    Como última demanda, pedimos que considere encarecidamente as situações dos povos indígenas trazidas por suas associações indígenas, organizações que representam nossos povos, moradores e habitantes milenares desta terra. Na luta de garantir nossos direitos apoiamos nossos parentes Munduruku, que resolveram se unir frente às ameaças do governo brasileiro em defesa de suas vidas, sua floresta e seu rio. Apoiamos também a luta dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, principalmente nossos irmãos Guarani Kaiowá, pela demarcação de suas terras e o respeito aos seus direitos.

    Finalizamos com o desejo de ver nossa nação valorizada, o que significa reconhecer todas as contribuições que nós povos indígenas demos e continuamos a dar a ela.

    São Gabriel da Cachoeira,30 de Abril de 2013

    Diretoria executiva da FOIRN

  • “BAYAWI” Significa maloca na Língua Dessano

    Coordenador do ProjetoJose Maria Lana
    Coordenador do Projeto
    Jose Maria Lana

    Lançamento da Cartilha Desana ʉmʉkoɾi mahsã a’ɾa maɾiã, Cds de músicas e de cantos capiwaya, caderno de textos transcritos das gravações e catálogo desana que os produtos supracitados são do Projeto Bayawi executado pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, FOIRN através de uma coordenação técnica e de consultores. O termo “bayawi” em desana significa maloca – casa dos saberes, donde referenciamos o título do projeto. Se analisarmos bem, bayawi representa “casa de convivência entre grupos de famílias do mesmo clã, casa de aprendizado de cantos e danças, ou casa de aprender fazendo no dia a dia”. No sentido mais amplo bayawi é de arquitetura indígena, um projeto arquitetônico padrão igual do ʉmʉkowi. A maloca-bayawi que fica em algum lugar no universo, até em nossos dias é o mais mencionado nas cerimônias.

    Este evento de lançamento da cartilha ʉmʉkoɾi mahsã a’ɾã maɾiã traz mais um significado no que diz respeito a resistência de um povo que vive em meio de ameaças culturais do mundo contemporâneo. Pois, a extinção da língua de forma involuntária, impercebível, está atingindo a cultura desana desde a chegada dos missionários na região. Antes desses tempos, a cultura de nosso povo segue em direção a caminho tão largo e compreensível entre povos.

    Caxiri
    Caxiri

    Nós somos ʉmʉkoɾi mahsã ou ʉmʉko mahsã, ahsiɾi mahsã ou wihu mahsã, ou simplesmente wiɾã, popularmente assim denominados desde os tempos antigos.

    Escrito IndígenaLuiz Lana - Dessano
    Escrito Indígena
    Luiz Lana – Dessano

    O ancestral dos grupos ʉmʉkoɾi mahsã, ou o primogênito dos wiɾã foi criado ao mesmo tempo de yebá goamʉ pela yebá bʉɾo. A yebá bʉɾo surgiu por si mesma, tendo poder sensorial masculino e feminino simultaneamente para gerar novos seres. Foi ela quem transformou os cinco ʉmʉko yehkʉsʉmã, os buhpua que se chamam trovões em português.

    Evocamos que os buhpua que são criaturas imortais, feitos de quartzo branco, porque eles são eternos. Os kumuã acreditam que os buhpua vivem nas malocas que ficam lá no alto. Imaginamos que esse espaço donde vêm as descargas atmosféricas. Ou, pode ser essas malocas invisíveis que estejam em alguma camada do sistema solar para ficar bem próximo do planeta terra.

    Os wiɾikumua dos dias de hoje afirmam sobre a existência desses seres onipotentes quando está fazendo o trabalho de cura das doenças, proteção do corpo, entre outros benefícios aos seres que tem vida.

    A denominação ʉmʉko mahsã pode ser que seja o nome derivado a ʉmʉko mahsʉ, o boɾeka que consideramos o seu primo irmão o yebá goamʉ, porque ambos foram baluartes de grandes acontecimentos no início dos tempos antigos, pós a desobediência dos cinco buhpua que se acomodaram em suas bayawiri (malocas) do universo

    O ʉmʉko mahsʉ boɾeka recebeu poder de yebá bʉɾo, quanto o yebá goamʉ que são dois primos tornaram-se realizadores de muitas obras misteriosas, que são obras vistas no ʉmʉko paatoɾe nos quatro cantos deste mundo.

    A força sobrenatural de ʉmʉko mahsʉ boɾeka era como se fosse relâmpago e suas viagens de visita a yebá bʉɾo e à casa do terceiro buhpu em busca de riquezas culturais, e ao deslocar-se atingia a velocidade de um meteorito ao riscar no firmamento.

    O ancestral dos wiɾã depois de ter recebido poderes de yebá bʉɾo recebeu a missão de negociador de riquezas da casa de terceiro buhpu , que seriam os futuros ossos das articulações do corpo humano contemporâneo.

    E assim, entre a yebá bʉɾo, yebá goamʉ e o ʉmʉko mahsʉ boɾeka não havia grandes distâncias, pois a comunicação era imediata como se fosse o reflexo de espelho ou receptor de antena de telecomunicação conectado em satélite na órbita.

    O boɾeka foi de interlocução 24 horas com o yebá goamʉ seu primo parceiro, reconhecidamente o ancestral do povo tukano, aquele que comandou a canoa de transformação, a embarcação de metamorfose das riquezas culturais, trazidos da casa de terceiro buhpu que passaram pelo processo de mutação em forma de larvas para o esqueleto humano, e todo percurso subaquático até se tornarem adultos. Segundo estudos modernos, essa camada por onde navegou a canoa de transformação, pode ser o lençol freático, situado no subsolo do litoral brasileiro, no subsolo do leito do rio amazonas, e no subsolo do leito das calhas de rios formadores da bacia do rio negro.

    A navegação da canoa de metamorfose humana, conhecida por pa’mʉmʉɾi gahsiɾu ou pa’mʉmʉɾi yhkʉsiɾu, aconteceu no trecho ahpikudihtaɾu e nas calhas de rios do ahpikudiá (o rio negro). Nesse percurso o Boɾeka parecia manter sobrevoo a canoa de transformação, como se fosse a gaivota pronta para tomar devidas providências, caso aconteça algum incidente no bordo da canoa de metamorfose humana.

    O ʉmʉko mahsʉ boɾeka esteve sempre vigilante de forma indireta a canoa de transformação. A canoa metamorfose era como se fosse útero gigante que engravidou os pa’mʉɾi mahsã que concebeu no seu ventre muitos tempos, pois não sabemos exatamente os tempos que as larvas gentes estiveram a bordo.

    Durante a viagem subaquática que durou milhões de anos, todos originários de mais 23 povos que conhecemos hoje, em nossa região, tinham uma comunicação universal monolíngue a bordo da canoa de transformação e na passagem pelas casas de transformação.

    A convenção de línguas dos pa’mʉɾi mahsã e ba’huaɾimahsã que são faladas na região do alto rio negro, aconteceu no diáwi.

    As pesquisas mais aprofundadas sobre a convenção de línguas no diáwi devem acontecer em conjunto com sabedores representantes de todos os povos indígenas que vivem na faixa de fronteira Brasil, Colômbia e Venezuela porque somente eles podem-nos decifrar do ocorrido a milhões de anos atrás. Pois, meu pai dizia que as letras do canto capywaia pertence a época unilíngue, isto é, na época quem cantava, estava expressando algo dos tempos antigos. E, esse diáwi fica em Uriri no baixo rio Uaupés.

    Passaram-se alguns tempos, até chegar sair do buraco peɾagobé onde os pa’mʉɾi mahsã emergiram em humanos completos, já falando a língua do povo que pertence. Por isso a yebá bʉɾo fez o boɾeka e ʉmʉko sulã paɾãmi ambos detentores de poderes extremos, onipotentes, iguais a ela. E assim eles cumpriram a meta, o que ʉmʉko yehkʉsʉma buhpua não conseguiram o resultado esperado em gerar vidas humanas, inclusive as coisas que vemos na natureza.

    Todos esses tempos antigos ou milenares de transformação não contam as épocas cronologicamente, porque para os ʉmʉkoɾi mahsã o calendário dos tempos antigos era definido pela contagem de épocas por meio de calendário sazonal dividido em épocas de pu’ibʉ (enchente) e épocas de bo’hoɾi (vazante) guiados pelas constelações.

    Temos muitas coisas que nos lembra do passado dos tempos antigos, mas é por aqui quero ficar, e o futuro sempre será acompanhado com base desses conhecimentos quando pensamos em projetos culturais e econômicos sustentáveis. Com esses dizeres quero fechar essa primeira parte e continuar com discurso:

    Sobre a Dispersão dos ʉmʉko mahsã

    Os ʉmʉko mahsã depois de compartilhar da convenção universal de línguas no diáwi pelos pa’mʉɾi mahsã e ba’huaɾimahsã tiveram que emergir em humanos no peɾagobé, na cachoeira de Ipanoré para existir sempre na terra como yebá buɾó havia planejado.

    Para os ʉmʉkoɾi mahsã o solo recém-povoado, o pa’mʉɾa nihku tinha que ser uma terra boa para oferecer a vida saudável, com fartura de comida e sem doença. Por isso, o yebá goamʉ colocou seu yegʉ cerimonial no ponto leste ao oeste da terra e em seu entorno fez as terras férteis que margeiam os igarapés nʉɾiyña, bu’sikaya, uñuña e diámʉgãña que são afluentes do dehkoñiɾiya (o rio papuri) e também no kaɾeña que é afluente do diápaya (rio uaupés).

    Com o passar dos tempos os wiɾã kuɾuɾi ou seja, grupos desana constituíram-se em novos chefes de grupos sem perder a ordem genealógica e hierárquica de mahsãtirã (irmãos maiores) e dos yehkʉsʉmã (avôs dos irmãos maiores) que são do grupo boɾeka e do grupo sibiá mahsã – duhputiɾo que seguem 20 subgrupos distintos muito peculiar no dialeto.

    Por isso durante as realizações de espaços-temporais e encontros de monitores, articuladores e assessores pelo projeto bayawi encontramos dificuldades ao discutirmos sobre a linguagem falada para linguagem escrita dos grupos wiɾã ou ʉmʉko mahsã. Na ocasião, o assessor linguista, Wilson Silva explicou-nos sobre a percepção na pronúncia de dialeto entre o uso de “r” e o “tep” e sua pronúncia glotal específico dos grupos desana. A junção desses consoantes foi de grande avanço para nós ʉmʉko mahsã em termo gramatical. E não queremos para por aí, temos que construir gramática em conjunto com demais grupos indígenas da região do rio negro para que possamos escrever de forma unificada e ler de forma diferenciada por conta do dialeto de cada grupo ou subgrupo.

    Mesmo a influencia da diversidade de línguas dos tempos atuais, a fala dos wiɾã kuɾuɾi ainda persiste através das pessoas de terceira idade, e essas pessoas encontram-se dispersos em toda região do alto rio negro, na cidade de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Manaus, até mesmo em outras cidades brasileiras, porque saíram da região de origem em busca de novas oportunidades que o mundo moderno oferece.

    E ainda, sabemos que algumas famílias ʉmʉko mahsã que migraram ao longo de tempo atrás, perderam sua origem e não sabem se identificar mais a que povo indígena pertence, portanto, passam a fazer parte de outras etnias. No entanto, alguns jovens buscam suas origens e muitos deles se já identificam que pertence ao povo desana, porém, não sabem a qual grupo desana faz parte.

    Podemos sentir valorizado, mais ainda, quando dissermos que as nossas terras pa’mʉɾi nihku e pa’mʉɾi wiáɾa existem na margem direita e na margem esquerda do dehkoñiɾiya (o rio papuri) aonde podemos dizer que esse lugar é berço de todos os grupos ʉmʉko mahsã

    Para chegar nestas palavras sintéticas, relembrei de tudo o que o meu pai falava sobre a história dos tempos antigos. Como qualquer criança, não detém de conhecimentos dos velhos, na época não dava muita importância, o que meu pai contava. Pois agora, com o passar do tempo, percebi que, falar da própria cultura é sinônimo de orgulho. E, a partir dessa visão debrucei no livro Antes o Mundo Não Existia, publicado em 1980, coautoria de Umusi PalonKumu Firmiano Arantes Lana, meu pai, que se foi em dezembro de 1988, para nunca mais voltar no meio de nós. Mas a dedicação de Firmiano, de tudo que herdou de seu pai José Lana, de forma oral, ficou para sempre em narrativas de pesquisadores e de acadêmicos da era moderna, sejam eles indígenas e não indígenas. Na lista de coautores brasileiros de narrativas sobre saberes desana, encontramos ainda os senhores, Luis Gomes Lana, Feliciano Pimentel Lana, Américo Fernandes, Durvalino Moura Fernandes, Venceslau Galvão e Raimundo Galvão sem contar os coautores no lado colombiano.

    Produtos Lançados
    Produtos Lançados

    Espero que este discurso formal não venha polemizar a categoria de acadêmicos da área de ciências sociais que aprendem nas faculdades com paradigmas mesclada do neologismo.

    Sobre a revitalização da cultura e da língua dos ʉmʉkoɾi mahsã.

    Os ʉmʉkoɾi mahsã, vivendo no mesmo espaço e tempo com demais povos do alto rio negro não conseguimos lutar de forma organizada para co-oficialização como língua baniwa, tukano e nhengatu em lei orgânica do município e na produção de material didático próprio. Todos esses tempos, atentamos muito pouco principalmente no campo de discussão da gramática desana, da partitura da música, da arquitetura de nossas bayawiɾi, e contar histórias e fábulas em cartilhas escolares. Nem tão pouco preparar nossos professores para ministrar em sala de aula no ensino via pesquisa na própria língua ou na língua de cada 20 subgrupos wiɾã mahsã reconhecidamente distintos.

    Desde a década de 70, no lado brasileiro temos o Feliciano Lana e Luis Lana, ambos do grupo yéboɾeɾã do clã kenhiripõrã que são filhos dos desenhos dos sonhos, em parceria com seus pais, tiveram iniciativa própria em escrever e desenhar à mão para não esquecer. Criar a linguagem de pintura, por meio de arte em ícones do invisível, e com isso mostrar ao mundo como imaginavam que apareceriam as primeiras criaturas do mundo invisível como a de Yebá Bʉɾo .Contado de geração em geração desde os tempos antigos. Suas publicações tem repercussão internacional, no mundo de ciências sociais e da teologia, sobretudo para os ʉmʉkoɾi mahsã o aparecimento de Yebá Bʉɾo e Boɾeka.

    O despertar em busca de revitalização formal da língua dos ʉmʉko mahsã ou dos wiɾã começou na década de 90, porém com muita timidez.

    Em nosso município São Gabriel da Cachoeira, a secretaria municipal de educação, promoveu o curso de magistério indígena em ensino médio no final da década de 90.

    Dentro do modelo de ensino que por ora configurava na metodologia de ensino, os professores indígenas sentiram a necessidade de preparar a cartilha desana como material didático para as crianças desana.

    Podemos dizer que o curso magistério indígena para wiɾã mahsã estimulou para que a cultura contada de forma oral passasse para a escrita. Daí partirmos para o aprendizado da língua desana. Não produzimos muita coisa, mas avançamos. Devido que os 20 subgrupos ʉmʉkoɾi mahsã distintos possuírem o dialeto próprio herdado ao longo do tempo, fez com que os professores desana tivessem dificuldade de formar frases quanto à gramática e a pronúncia de cada palavra.

    Em 2005 tivemos varias reuniões com o tema de resgatar a cultura da língua desana. Depois de algum tempo, com apoio de assessores externos, começamos traçar o projeto bayawi.

    O projeto bayawi tem como proponente, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e o apoio financeiro é do Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI) do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

    A FOIRN começou executar as primeiras atividades do bayawi em novembro de 2007.

    Nas etapas iniciais, a dificuldades maiores foram para aproximar dos grupos e comunidades desana e realizarmos encontros de espaços-temporais nas Referencias Desana, pessoa falante a disposição não era aceito pela comunidade referencia porque ele não pertencia ao subgrupo daquele lugar.

    Com o projeto bayawi ganhamos muita experiência nos moldes de revitalização da língua e compreender a complexidade dos grupos ʉmʉko mahsã dispersos na faixa de fronteira do Brasil e Colômbia.

    Se no momento já temos materiais impressos e digitais, não iremos ficar parados. Daremos continuidade do propósito de revitalizar por meio dos falantes de terceira idade, existe proposta para uma grafia unificada da língua desana e através de uma convenção de língua de povos queremos pronunciar a escrita de forma grupal, isto é, cada subgrupo deverá falar como seus antepassados. Não descartamos de lutar pela criação de escolas desana no nosso município.

    Já vimos grupos de professores e jovens desana com tentativas de viver a sua cultura e tradição, mas o que nos falta, são líderes e dirigentes de categorias para alcançar o que almejam. Muitas vezes o grande empecilho é a falta de material didático produzido com finalidade de resgatar a língua e tradição a grupo que pertence.

    Nós wiɾã mahsã precisamos nos unir mais na questão de resgate cultural. Falar sua própria língua é um orgulho de ser alguém diferente quando está em meio de outro povo. No caso na região do rio negro, algumas línguas indígenas já foram extintas. Esses povos são falantes da língua de seus cunhados. Entre os desana 10% da população da terceira idade falam fluentemente, enquanto a população jovem são falantes da língua tukano. Os tukanos já nos alertaram que falamos a língua emprestada.

    Daburi de comida tradicionais dessano
    Daburi de comida tradicionais dessano

    Somente a experiência de espaços-temporais de convivência que tivemos pelo projeto Bayawi tem como fazer revitalizar a língua dos ʉmʉkoɾi mahsã. Podemos começar com os espaços-temporais de convivência em torno da cidade de São Gabriel da Cachoeira para o público em geral com metodologia participativa em finais de semana. Ou, podemos também promover cursos de língua desana. São várias ideias que podem ser alternativas de revitalização da língua. O publico infantil desana é o alvo principal, porém esse público precisa de ensino-aprendizagem da língua com equipamentos de novas tecnologias que o mundo moderno oferece. O projeto Bayawi é um começo para esse desafio.

    Professores Dessano
    Professores Dessano
  • Fique sabendo

    Brasília!

    O Senhor Erivaldo Almeida Cruz Diretor da FOIRN esteve presente em Brasília, na Reunião Extraordinária da Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena nos dias 30 e 31 de Maio, reunião onde tiveram apresentação e Discussão do Documento sobre o Programa Nacional de Educação Indígena,  esteve presente também na reunião o novo assessor do ministro de Educação o Senhor Marcio Meira,  para assunto de Educação  Escolar Indígena e Senhora Lucia Alberta Assessora da Marta, Presidente da FUNAI, ambos estão nos novos cargos e se colocaram a disposição para contribuir na melhoria de educação aos povos indígena

     I – Reunião de Mulheres Indígenas do Brasil com Presidenta da FUNAI,  aconteceu no dia 06 de junho,que teve como objetivo de reunir todas mulheres indígenas para apresentar suas demandas  a nova presidente da FUNAI. A nossa representante a Coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro,  a senhora Rosane Gonçalves Cruz da Etnia Piratapuia, apresentou os últimos encaminhamento que saíram  na Assembléia Ordinária do DMI/FOIRN, que e conscientizar e apoiar participação de mulheres no movimento social e políticas publicas, realizar oficina de empreendedorismo para mulheres…..