FOIRN em prol da Educação Escolar Indígena realiza, Oficina de Elaboração do Projeto Político-Pedagógico  no Rio Negro

A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), por meio de seu Departamento de Educação Escolar Indígena (DEEI), em articulação com a Secretaria Municipal de Educação e Educação Escolar Indígena (SEMEDI/SGC) e a Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), com o apoio institucional e financeiro das organizações Nia Tero, Imaginable Futures e Porticus.

Realizou a Oficina de Elaboração do Projeto Político-Pedagógico (PPPI) da Escola Municipal Dom José Song, entre os dias 4 e 8 de agosto de 2025, na comunidade indígena Santo Antônio, localizada no KM 15 da BR-307, na região da CAIBARNX (Coordenadoria das Associações Indígenas do Balaio, Alto Rio Negro e Xié), em São Gabriel da Cachoeira (AM).

Foto: Reprodução

Oficina Pedagógica promove educação diferenciada e enraizada nos territórios

A Oficina Pedagógica e Formação Continuada de Professores Indígenas teve como foco o fortalecimento da Educação Escolar Indígena por meio da construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico Indígena (PPPI), ferramenta essencial para orientar as práticas educacionais com base nos contextos, saberes e línguas dos povos originários do território.

Participaram da oficina educadores(as) indígenas, lideranças comunitárias e estudantes de duas comunidades e seis sítios rurais — Santa Terezinha, KM-36, KM-32, Vila Real, Putira, Novo Horizonte, Pablo, Nova Vida, Projeto de Deus e Santo Antônio —, representando uma rica diversidade territorial, étnica e linguística.

Escuta, identidade e protagonismo: pilares da formação

A oficina foi estruturada como um espaço de escuta qualificada, construção coletiva e fortalecimento identitário, integrando dimensões políticas, pedagógicas e culturais da educação indígena. Utilizando metodologias participativas, ativas e colaborativas, o processo teve como base a educação intercultural crítica — uma perspectiva que rompe com o modelo assimilacionista e valoriza a diversidade como eixo central do currículo e da prática pedagógica.

A construção do PPPI contou com o envolvimento direto de professores, estudantes, lideranças, pais e mães, e se desenvolveu a partir da indagação identitária “Quem somos nós?”, questionamento ético e político fundamental para o redimensionamento das práticas escolares e a construção de um currículo verdadeiramente territorializado.

Para além do PPPI: pedagogia decolonial e justiça cognitiva

O trabalho da oficina não se limitou à elaboração do Projeto Político Pedagógico Indigena (PPPI), mas fomentou a construção de uma pedagogia decolonial, alicerçada nos princípios de reciprocidade, equidade epistemológica, escuta ativa e protagonismo comunitário.

Essa abordagem tem como objetivo construir uma educação anticolonial, comprometida com a justiça cognitiva, capaz de promover a resiliência cultural, a sustentabilidade sociolinguística e o pertencimento coletivo.

Um marco para a Educação Escolar Indígena no Rio Negro

A experiência vivida em Santo Antônio consolida-se como um marco paradigmático na luta pela Educação Escolar Indígena como um direito coletivo inalienável, diretamente relacionado à resistência contra o silenciamento cultural, apagamento histórico e imposição epistemológica.

A sinergia entre FOIRN, SEMEDI, escolas, comunidades e organizações parceiras evidencia que a educação indígena deve ser protagonizada pelos próprios povos, construída a partir de suas cosmologias, valores ancestrais e em constante processo de autodefinição crítica.

A atuação das organizações Nia Tero, Imaginable Futures e Porticus vai além do financiamento: representa um posicionamento ético e político diante da urgência em reconhecer e valorizar as epistemologias indígenas como patrimônios vivos da humanidade.

Educação Escolar Indígena: Construção Coletiva enraizada no Território

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A Educação Escolar Indígena é muito mais do que um direito previsto na legislação brasileira, ela é uma ferramenta essencial de resistência cultural, afirmação identitária e autonomia política dos povos originários. Nos territórios do Rio Negro, especialmente em São Gabriel da Cachoeira, onde mais de 90% da população se autodeclara indígena e se falam mais de 20 línguas, o papel da escola vai muito além da alfabetização: ela é também um espaço de preservação de línguas, modos de vida e saberes ancestrais.

A Oficina Pedagógica de Fortalecimento da Educação Escolar Indígena, promovida pela FOIRN e parceiros na comunidade de Santo Antônio, evidencia como uma educação enraizada no território, construída com e pelos povos indígenas, é possível e urgente. A construção do Projeto Político-Pedagógico Indígena (PPPI), nesse contexto, se torna um instrumento de planejamento e resistência histórica, pois organiza o trabalho pedagógico com base nos conhecimentos tradicionais, nas línguas maternas, nas realidades locais e nas lutas dos povos indígenas por autodeterminação.

Fortalecer a Educação Escolar Indígena significa também fortalecer o próprio tecido comunitário dos territórios indígenas. Como destacam pesquisadores e lideranças da região, a escola deve ser um espaço que fortaleça a cultura e a identidade, e não que as apague. 

Segundo o Plano Nacional de Educação Escolar Indígena (PNEEI) e diretrizes do MEC, a escola indígena deve ser específica, diferenciada, intercultural, bilíngue e comunitária, princípios que vêm sendo implementados com cada vez mais força em São Gabriel da Cachoeira e região, especialmente por meio das formações realizadas em parceria com as coordenações das comunidades e das escolas locais.

A experiência da Oficina em Santo Antônio se soma a outras ações já realizadas no território do Alto Rio Negro, como o fortalecimento das escolas indígenas das etnias Tukano, Baniwa, Yanomami, Baré, Tariano, entre outras, sempre com o objetivo de formar professores indígenas como protagonistas de seus próprios processos formativos, com foco em suas cosmologias, saberes, línguas e visões de mundo.

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Como bem aponta a pedagogia intercultural crítica, a educação escolar indígena não deve reproduzir o modelo colonial de escola, que historicamente desvalorizou os saberes tradicionais, proibiu línguas indígenas e tentou impor uma única forma de conhecimento. Ao contrário: deve partir do princípio da justiça cognitiva, reconhecendo que existem múltiplas formas de saber e ensinar, e que essas formas têm valor, legitimidade e potência educativa.

Por isso, construir um PPPI é também reivindicar o direito à diferença  um currículo que nasce da floresta, dos rios, dos rituais, da oralidade, da vida coletiva. Como destacou uma das lideranças presentes na oficina:

“A educação que queremos não é para esquecer quem somos, mas para lembrar, todos os dias, de onde viemos.”

Iniciativas como essa oficina promovida pela FOIRN, SEMEDI, SEDUC e parceiros como Nia Tero, Imaginable Futures e Porticus, demonstram que a educação indígena não é um favor, mas um direito coletivo que precisa ser defendido, financiado e protagonizado pelas comunidades.

Que mais oficinas como essa floresçam em todos os cantos do Rio Negro e da Amazônia, com a força das vozes que dizem:
“Somos povos originários, temos nossos próprios saberes e queremos uma escola que caminhe conosco, não contra nós.”