Tag: Produtores Indígenas

  • Professores indígenas lançam livro Impressões Geográficas dos Povos Indígenas do Amazonas – Terra Indígena Alto Rio Negro

    Professores indígenas lançam livro Impressões Geográficas dos Povos Indígenas do Amazonas – Terra Indígena Alto Rio Negro

    A obra retrata dificuldades para cursar universidade e o olhar dos professores indígenas sobre a paisagem do Alto Rio Negro.

    Professores indígenas lançam o livro na Casa do Saber da FOIRN em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Juliana Albuquerque/FOIRN

    Organizado por Emádina Gomes Rodrigues, Helenice Aparecida Ricardo, professoras do curso Licenciatura Intercultural Formação de Professores Indígenas (FPI/UFAM), o livro mostra a diversidade cultural e linguística dos povos do Rio Negro, as belezas e as vivências e ao mesmo tempo retratar as dificuldades que os indígenas enfrentam para cursar o ensino superior. Esses são os tópicos tratados no livro Impressões Geográficas dos Povos Indígenas do Amazonas – Terra Indígena Alto Rio Negro, lançado por professores indígenas nessa sexta-feira, 9/7, na Casa do Saber da FOIRN, em São Gabriel da Cachoeira (AM).

    A publicação é resultado de um trabalho da disciplina de geografia do curso de Formação de Professores Indigenas – Turma Alto Rio Negro da Faculdade de Educação (Faced-Prolind) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que está formando 54 professores indígenas do Rio Negro esse ano de 2021, que são coautores da publicação.

    Conforme Sileusa Monteiro, da etnia Desano, o livro não apenas fala das dificuldades, mas também incentiva os jovens indígenas a ingressarem na universidade. “A partir desse livro, os jovens vão poder ver, aprender, sonhar que um dia ele podem fazer o ensino superior”, afirma ela, que é uma das autoras da publicação.

    Sileusa Monteiro do Povo Desano é uma das autoras do livro. Foto: Juliana Albuquerque/FOIRN

    As dificuldades geográficas enfrentadas pelos indígenas no percurso até ao local do curso foi tema do Documentário Caminho da Amália, que mostra as dificuldades e desafios da estudante Amália Rodrigues Kubeo, da comunidade Querari – Alto Rio Uaupés, para participar das aulas.

    O documentário está disponível no Youtube (https://bit.ly/3AKtMQ5).

    Presente no lançamento, Amália reafirmou a importância do livro para a educação escolar indígena no Rio Negro, pois mostra os desafios e as dificuldades que são enfrentadas pelos estudantes na região do Rio Negro. “Para quem não conhece a realidade pode achar que é fácil, mas não é. O livro vai ajudar a mostrar a realidade que enfrentamos”, disse.

    Mesmo a distância, professores da Ufam e alunos do curso das comunidades indígenas do Rio Negro, incluindo alguns alunos do curso da Turma Alto Solimões, assistiram pela internet a cerimônia do lançamento.

    Um dos mentores do curso, o professor Gersen Baniwa lembrou que o curso é resultado dos esforços do movimento indígena do Rio Negro, que por vários anos vem lutando para que professores indígenas consigam ingressar na universidade. “É muito bom ver que o livro está sendo lançamento na maloca, Casa do Saber da FOIRN, onde também passei por vários anos trabalhando e lutando através de encontros e eventos para discutir e reivindicar cursos de formação para os professores indígenas. E o curso e o livro lançado hoje são resultado dessa luta”, disse.

    Para a cerimônia, professores, gestores e representantes de instituições locais foram convidados para prestigiar e comemorar a conquista dos professores e da educação escolar indígena do Rio Negro.

    Vão receber essa publicação as escolas indígenas do Rio Waupés, Tiquié, Rio Içana e Ayari, Rio Negro e Xié, Baixo Rio Negro. E para os demais interessados, a coordenação da produção do livro vai disponibilizar o e-book para o acesso gratuito.

    Criado em 2015, o curso Formação de Professores Indígenas tem três áreas de formação, sendo que os alunos podem fazer suas escolhas observando também as necessidades de sua região: Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, Ciências Exatas e Biológicas.

  • VII Encontro de Produtores Indígenas do Rio Negro foi realizado em Barcelos/Am

    ENCONTRO DE PRODUTORES

    O evento

    O VII Encontro de Produtores Indígenas do Rio Negro reuniu mais de quarenta participantes na sede do município de Barcelos, entre 13 a 15 de agosto, com o objetivo de discutir a política de preços dos produtos indígenas, o acesso aos programas de incentivo do governo à produção agrícola, e definição da realização do I Festival da Mandioca do Rio Negro.

    A proposta do primeiro dia foi realizar um mapeamento de iniciativas que visam promover a sustentabilidade na região, através de alternativas econômicas e geração de renda. Assim, as organizações indígenas presentes no evento apresentaram algumas iniciativas bem sucedidas já em curso – como a “Pimenta Baniwa”, o “banco Tukano” e a “Castanha da Amazônia”, produzida e comercializada pela cooperativa da reserva extrativista do Rio Uninni –, e também experiências em processo de construção e consolidação, como a Associação dos Artesãos Indígenas da Comunidade de Areal (AAICA), a Associação de artesãos da comunidade São Gabriel Mirim, no Alto Rio Negro, e o Núcleo de Artes e Cultura Indígena de Barcelos (NACIB), que desenvolvem um trabalho de organização de artesãos e artesãs para a produção de artesanatos com matérias-prima, cada uma com sua especialidade. Por exemplo, os artesãos de São Gabriel Mirim produzem artesanatos usando mais de uma matéria-prima, como tucum, sementes e arumã, ao passo que a AAICA trabalha exclusivamente com o arumã e a NACIB com a fibra de piaçaba. As ceramistas Tukano, da Associação de Mulheres Indígenas de Taracuá (Amirt), também apresentaram experiências de trabalho.

    O que define o preço dos produtos indígenas do Rio Negro.

    Um dos objetivos propostos para o VII Encontro de Produtores foi a discussão e a atualização de preços dos produtos. De acordo com Neiva Souza, Gerente da loja Wariró, da FOIRN, a última atualização da tabela de preços foi feita em 2008. Desde então a tabela usada pela loja para comprar produtos dos artesãos e artesãs indígenas é a mesma.

    Um artesão Baniwa da AAICA disse que desistiu de vender seus produtos à Loja Wariro há algum tempo, devido à defasagem nos preços e problemas na gerência. “Quando chegava para vender meus produtos na Wariró, não tinha dinheiro para a loja comprar ou as vezes deixava meus produtos para serem vendidos, mas, o dinheiro não era repassado” – lembra o artesão. Contudo, com a troca da gerência e com a nova forma de pagamento aos produtores, adotada pela loja, este artesão voltou a vender seus ali produtos, retomando a parceria e a colaboração no processo de valorização do artesanato indígena, incentivando, assim, o uso dos conhecimentos relacionados à arte indígena para geração de renda.

    O exercício de discussão e elaboração de tabelas de preços foi feito por grupos de trabalho, organizados por coordenadorias regionais. O formato de organização dos trabalhos foi proposto pelos participantes, liderados pelo mestre Clarindo Maia Tariano, um dos fundadores do NACIB. Clarindo defende que cada regional do Rio Negro vive em contextos diferentes, especialmente no que diz respeito ao custo de vida. “Hoje o frango, o peixe e todos os produtos industrializados que precisamos ou usamos nas nossas casas estão ficando caros, e porque nossos produtos continuam sendo muito baratos” – disse a professora Elizângela da Costa, da Comunidade São Gabriel Mirim, uma das líderes do movimento de artesãos da região do Alto Rio Negro.

    O que considerar para dar preço aos nossos produtos? Wilde Itaborahy e Natasha Mendes, ambos do Instituto Socioambiental, mediaram o debate introdutório para o início dos trabalhos, que terminou com tabelas de produtos e preços, que foram apresentados pelos grupos ao final do segundo dia do encontro.

    De acordo com a Gerente da Wariró, algumas propostas elaboradas pelos grupos serão incorporadas daqui por diante; outras passarão por um processo de avaliação e critério, e sofrerão alguns ajustes antes de passarem para a tabela final de preços.

    Acesso aos programas do governo

    No último dia, foram apresentados alguns programas do governo (as chamadas “Compras Públicas”), como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentação), PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e Compra Institucional.

    Contudo, a partir de questionamentos dos próprios participantes da oficina, o expositor esclareceu que, a despeito dos avanços na área, ainda há alguns obstáculos a serem vencidos antes da universalização destes programas. É necessário que os agricultores se organizem, e que estejam com sua situação fiscal regularizada, e com documentação pertinente em dia (como o DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf).

    Assim, existem desafios para que os agricultores comecem a acessar a esses programas. Um deles está relacionado com organização e documentação. O outro é a falta de cumprimento da legislação, da parte dos gestores municipais. O recurso destinado para a compra da merenda regionalizada, por exemplo, não é usado como previsto, atestaram participantes vindo dos três municípios do Rio Negro. Ainda há a questão de processos que foram iniciados e que não tiveram continuidade, ou que foram interrompidos por problemas de gestão.

    I Festival da Mandioca dos Povos do Rio Negro será em Barcelos

    Uma das pautas de discussão foi o Festival de Mandioca, proposto no sexto encontro de produtores, realizado em outubro do ano passado em São Gabriel da Cachoeira. A proposta do festival é reunir representantes de várias etnias indígenas do Rio Negro para um intercambio cultural, e dessa forma disseminar experiências e práticas relacionadas à agricultura e a roça, promovendo a valorização e a divulgação do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em 2010 pelo IPHAN.

    Previsto para setembro de 2015, em Barcelos, o I Festival da Mandioca já tem uma pré-programação elaborada no encontro. Apresentações culturais, jogos indígenas, exposição e venda de artesanatos são as propostas iniciais de programação. E, ainda, a apresentação dos processos de fabricação dos produtos derivados da mandioca, como a farinha.

    Oficinas, palestras sobre direitos indígenas e sobre a valorização dos conhecimentos tradicionais e a conservação de biodiversidade completam a proposta o I Festival da Mandioca do Rio Negro.

  • VI Encontro de produtores indígenas do Rio Negro foi realizado nos dias 29 a 31 de outubro

    Coordenado pela Wariró – Casa de Produtos Indígenas do Rio Negro, com apoio da CRRN-FUNAI, o encontro reuniu produtores e produtoras dos Municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos no Pontão de Cultura/FOIRN, no final de outubro.

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    O encontro possibilitou a troca de experiência dos participantes. Na foto, grupo de trabalho elabora propostas de projetos que podem estimular a economia indígena no Rio Negro.

    O encontro: “estamos aqui para aprender com as experiências dos outros”

    Troca de experiências entre produtores e avaliação da Wariró foram as principais pautas do encontro, que também serviu para discutir e definir o que é economia indígena, e exercitar o entendimento e discussão de propostas para solucionar dificuldades e problemas em torno dessa temática.

    Como bem disse a Professora Francisca de Santa Isabel do Rio Negro – representante da ACIMIRN (Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro), – durante sua apresentação: “estamos aqui para aprender com as experiências dos outros”. E foi o que o encontro possibilitou ao longo dos dias do encontro.

    O que é economia indígena? Foi a pergunta de abertura da rodada de apresentação de experiências em andamento na região do Rio Negro. Na mesa, Renato Martelli/ISA, Rosilda da Silva/AMIRT (Associação de Mulheres Indígenas da Região de Taracúa), Ronaldo Apolinário/Gerente de Produção da Pimenta Baniwa, Marilda Ferreira/ASSAI (Associação de Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira).

    Para um entendimento inicial sobre o assunto/termo que será constantemente usado nos três dias do encontro, Renato Martelli, abordou – na apresentação – o que é a economia no sentido geral e buscou apresentar experiências no mundo afora, para exemplificar e deixar claro que as experiências que seriam expostas na seqüência serem exemplos, do que se chama “economia indígena”.

    E disse ainda que, quanto mais pessoas começarem a usar o termo ou buscar osentido esta será melhor definida. Ressaltou que o tema da “economia indígena” será um dos objetivos do VI Encontro de produtores.

    Durante os três dias de encontro, foram discutidos e apresentados experiências em andamento na abrangência das cinco coordenadorias regionais da FOIRN (CABC, COITUA, CAIMBRN, CAIARNX e COIDI). Além das experiências já conhecidas, reconhecidas e amplamente divulgadas como a Pimenta Baniwa e Banco Tukano, foram também apresentados iniciativas em processo de organização como a de “Seringa”na região do médio Waupés, Piaçaba/região de Barcelos e feiras de produtos indígenas na região do Alto rio Negro, na região de abrangência da Escola Aí Waturá.

    Como já mencionado, um dos focos do evento foi a avaliação da Loja Wariró, pelos participantes, como a possibilidade de institucionalização da Casa, que desde sua criação, em 2005, é vinculada à FOIRN.

    O encontro ainda possibilitou o levantamento de novas necessidades de conhecimentos para o desenvolvimento da economia indígena, e de projetos e atividades estimuladoras dessa atividade na região do Rio Negro. E ainda, contribuiu para o exercício de descrição dos valores dos produtos, levando em conta o valor social e ambiental dos produtos.

    O próximo encontro vai ser realizado no próximo ano, mas, com data e local ainda a definir. Contudo, a pauta, que já foi definida entre os participantes, será: Marketing e definição de preços dos produtos.

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    Além dos Diretores Marivelton Barroso e Renato Matos, André Baniwa (em pé) foi um dos coordenadores do VI Encontro de Produtores Indígenas, junto com a Gerente da Wariró.

    Por que Wariró?

    Wariró é um personagem mítico, presente na maioria das narrativas dos povos do Rio Negro. Na narrativa, versão do povo Baré, ele tinha muitas filhas. E era o que ele tinha de melhor, o que ele podia usar para “conseguir” o que ele não tinha.

    A narrativa conta que na mesma época, vivia o Basebó, que conhecia e fazia todos os tipos de artesanatos. Vendo isso, Wariró deu uma filha ao Basebó para ter em troca todos os tipos de artesanatos, que ele – Basebó – sabia fazer.

    Portanto, produzir e vender produtos que agregam conhecimentos milenaresé uma maneira dos povos indígenas do Rio Negro acessar e ter o que eles não podem fazer, no caso, produtos industrializados.

    “Ele não era um artesão, mas, um estrategista”- explica André Baniwa, expositor da Linha de Tempo da Loja Wariró, que também contou, o motivo pelo qual a loja recebeu este nome, que hoje funciona como centro de comercialização dos produtos indígenas do Rio Negro