Terminou na tarde desta sexta-feira, 15/03, a II Assembleia Geral dos Agentes Comunitários Indígenas de Saúde-ACIS, Técnicos Agentes Comunitários Indígenas de Saúde – TACIS e conselheiros indígenas de Saúde do RIO NEGRO no Auditório do IFAM –Campus São Gabriel da Cachoeira, o evento reuniu mais de 270 participantes, vindos dos municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e especialmente das calhas do médio e alto Rio Negro/Xié, Rio Içana e afluentes, Waupés e Papuri e Tiquié e afluentes.
Alguns dos objetivos da assembleia foram: – Realizar novo levantamento do perfil dos ACIS, AIS e TACIS que atuam na região do DSEI Alto Rio Negro; – Realizar balanço e avaliação da conclusão do Curso dos TACIS e dos desdobramentos na organização do trabalho dos TACIS nas comunidades e com as equipes; – Discutir a situação e propor alternativas de vínculo empregatício dos ACIS, AIS e TACIS; e – Discutir a forma de organização política dos ACIS, AIS e TACIS para a luta pela regulamentação e reconhecimento profissional.
É criado uma nova associação: ATACISRN – Associação dos Técnicos e Agentes Comunitários Indígenas do Rio Negro.
Diretoria eleita ver os nomes e cargos abaixo (da esq. a dir.). Foto: Ray Benjamim/FOIRN
Gerson Fonseca: REGIÃO DA CAIMBRN, Cargo: Presidente,
Ronaldo Ambrósio Melgueiro: REGIÃO DA CAIARNX, Cargo: Vice presidente,
Agenor Freitas Prado: REGIÃO DA COITUA, Cargo: 1º secretário,
Marilene Ortiz Fontes: REGIÃO DA CABEC, Cargo: 2ª secretária,
Vanilde da Silva Brito: REGIÃO DE COIDI, Cargo: 1ª tesoureira,
Liliane Cordeiro da Silva: REGIÃO DA SEDE/TAUA, Cargo: 2ª tesoureira.
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Após apresentações e extensos debates sobre os principais problemas enfrentados pelos povos indígenas em relação a saúde, foram feiras as deliberações e encaminhamentos, incluídos no documento final a ser enviado as instituições responsáveis ela saúde indígena:
Sobre o Curso Técnico dos Agentes Comunitários Indígenas de Saúde: Estamos informando para as autoridades e instituições acima mencionadas que a conclusão da formação profissional de nível técnico de 140 Agentes Indígenas de Saúde, que atuam no DSEI Rio Negro e no PACS de São Gabriel da Cachoeira (SEMSA/SGC), envolveu a elevação de nossa escolaridade, sendo que concluímos o ensino médio. Ademais envolveu 1.440 horas de formação técnica em saúde. Esse curso técnico seguiu as competências e habilidades determinadas pelo Referencial Curricular Nacional de Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde (MS/MEC, 2004). Com esse processo, avançamos na nossa profissionalização. Ressaltamos que esse curso técnico considerou todas as regulamentações relacionadas ao trabalho e a formação dos Agentes Comunitário de Saúde (ACS) e AIS. Dessa forma, queremos que nós ACIS que concluímos essa formação sejamos reconhecidos como profissionais de saúde de nível técnico, denominados Técnicos Agentes Comunitários Indígenas de Saúde (TACIS), e que possuem atribuições especificas no trabalho da equipe multidisciplinar. Que essa categoria TACIS seja incluída nos planos distritais e na organização das equipes multidisciplinares de saúde indígenas e nas equipes de saúde da família.
Sobre DESAFIOS na regulamentação e ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS AIS, ACIS e TACIS: Nós como TACIS propomos a criação de um plano de carreira que inclua dois diferentes níveis de escolaridade e com remuneração diferenciada: 1) ACIS, com nível fundamental/médio e qualificação inicial; 2) TACIS, com nível médio e formação técnica de no mínimo 1200hs. Reivindicamos que nos próximos planos distritais e municipais de saúde seja incluso nos planejamentos orçamentários do DSEI/RN e SEMSAs (SGC, SIRN, Barcelos) a previsão de pagamento diferenciado dos ACIS com título de técnico, com isonomia salarial em relação aos demais profissionais desse mesmo nível.
Sobre organização política dos AIS, ACIS e TACIS para a luta pela regulamentação e reconhecimento profissional: Criamos aqui uma organização dos ACIS/TACIS para dialogar com instâncias governamentais responsáveis pela organização, regulamentação e inclusão nos sistemas existentes o papel do ACIS/TACIS. Essa organização deve ser reconhecida de utilidade publica e terá os seguintes objetivos:
ATACISRN – Contribuir para a melhoria da Saúde física e ambiental dos povos indígenas do alto rio negro, através da luta pela profissionalização e melhores condições de trabalho.
Sobre as instituições públicas responsáveis pela saúde: Distrito Sanitário Especial Indígena do Rio Negro – DSEI/ARN, Secretarias Municipais de Saúde, Sistema Único de Saúde do Amazonas – SUSAM:
Devem reconhecer e criar a categoria dos TACIS nos municípios de Bacelos, Santa Isabel e São Gabriel da Cachoeira;
O Curso de formação Técnica ministrado pela FIOCRUZ deve dar continuidade para os novos agentes indígenas de saúde nos municípios de SGC, SIRN e Barcelos em parceria com IFAM;
DSEI, SESAI, Fio Cruz criar projeto do curso para formação técnica para novos ACIS e AIS;
A Fio Cruz em articulação com a SEDUC/AM deve agilizar mais breve possível a entrega do certificado de conclusão do curso do TACIS reconhecido pelo MEC urgentemente;
DSEI/ARN providenciar materiais e equipamentos (Medicamento e matérias de insumo) para os profissionais de saúde das comunidades, como também para os TACIS;
DSEI/ARN deve elaborar cronograma de atendimento juntamente com TACIS, lideranças e os conselheiros;
As equipes de saúde do DSEI/ARN devem permanecer 30 dias em área retornando para sede somente após a chegada da outra equipe de profissionais;
DSEI/ARN deve construir polos base e estruturá-las com equipamentos e medicamentos;
TACIS deverão praticar as técnicas aprendidas no curso e realizarão visita domiciliar constantemente;
DSEI/ARN, SEMSA, SUSAM, SESAI rever a política salarial dos TACIS e reconhecer como categoria;
Câmara municipal de Barcelos, Santa Isabel e São Gabriel da Cachoeira propor lei para criação da categoria de TACIS;
DSEI/ARN, SEMSA, SUSAM, SESAI juntamente com os TACIS deverão definir o papel destes profissionais, como também, das equipes multidisciplinares de saúde;
DSEI/ARN, equipar os ACIS, AIS e TACIS com boné, bota, guarda-chuva, protetor solar, colete, caderno, caneta, lápis, fita métrica, balança, etc.
Os TACIS para critérios de regularização devem se cadastrar no COREN-AM.
A II Assembleia Geral dos Agentes Comunitários Indígenas de Saúde-ACIS, Técnicos Agentes Comunitários Indígenas de Saúde foi realizada pela comissão dos ACIS/TACIS e FOIRN, com apoio da Fundação Nacional do Indío (CR Rio Negro) e IFAM/SGC e em parceria com DSEI – Alto Rio Negro.
Grupos de Trabalho durante a VI Assembleia Geral da CAIMBRN. Foto: Acervo FOIRN
A VI Assembleia Geral da Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro (CAIMBRN), iniciou ao som e coreografia da “dança da mandioca” ou “Maniaca Murací” em Nheengatu, apresentada pelos estudantes e professores da escola São Tomé da comunidade Cartucho – Médio Rio Negro (no município de Santa Isabel do Rio Negro), no dia 29 de março.
O evento reuniu até dia 31 de março, representantes de 14 associações de base da região, totalizando cerca de 150 participantes, incluindo representantes de instituições parceiras como o Instituto Socioambiental (ISA), Fundação Nacional do Indígena (CR Rio Negro), Exército Brasileiro (3o Bis/Barcelos) e da FOIRN (departamentos de Educação, Secretaria, Mulheres, Jovens e comunicação).
Na abertura do evento, Braz França, uma das principais lideranças indígenas do Rio Negro, resumiu a importância do evento para a região do médio e baixo Rio Negro e para o movimento indígena: “É mais um dia pra luta do movimento indígena, vocês devem participar das reuniões da FOIRN, prestem muita atenção nas discussões que vão ser feito aqui, temos que nos concentrar nas discussões do futuro, daqui sairão propostas para assembleia geral da a FOIRN, esse é o momento de avaliarmos o que deu certo na nossa região. Vamos contribuir com os nossos pensamentos e nossas discussões”.
Ao longo dos três dias de evento, foram discutidas e trabalhadas os seguintes assuntos: Processo de Demarcação das Terras Indígenas de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, -Situação da Saúde Indígena no Rio Negro e ações do movimento indígena na região, – Educação “Escolar” Indígena na Região do Rio Negro, Desafios e perspectivas, – Extrativismo da piaçaba: situação atual e desafios para organizar a atividade na região, – Manejo e Ordenamento Pesqueiro na região do Baixo Rio Negro “Situações das comunidades em Barcelos, – Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas “Elaboração dos Planos de Gestão das Terras Indígenas do Rio Negro e monitoramento de políticas públicas”, – Turismo em Terras Indígenas: agenda e desafios para elaborar o plano de visitação e Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro: Agenda do plano de Salvaguarda.
Eleição da nova diretoria da CAIMBRN (gestão 2017-2020) e reelege diretor da FOIRN de referência à região do médio e baixo Rio Negro.
Antônio de Jesus – Coordenador/(Associção Indígena de Barcelos – ASIBA)
Vamberto Plácido – Vice Coordenador/ (Associação das Comunidades Indígenas e Ribeirinhas – ACIR)
Andrônico Benjamim- Secretário (Associação das Comunidades Indígenas do Baixo Rio Negro – ACIBRN)
Florizada Cruz Pinto – Tesoureira (Associação de Mulheres Yanomami de Maturacá – AMIKUMIRÃ YÕMA)
Marivelton Rodriguês, diretor da região do médio e baixo Rio Negro. Foto: FOIRN
Por unanimidade, foi reeleito para próximos 4 anos atual diretor da FOIRN de referência à região do médio e baixo Rio Negro, Marivelton Rodriguês Barroso, da etnia Baré. Por ser apenas o único nome (re) eleito dessa região para a próxima gestão, irá concorrer a presidência da instituição na Assembleia Geral previsto para o mês de novembro.
Novos conselheiros para o Conselho Diretor da FOIRN (segundo maior espaço de decisão, depois da assembleia geral), também foram eleitos: Roberto Lopes (AHKÓ ÍWÍ/ACIBRN), Francisco Xavier (AYRCA/AMIK), Carlos Nery (ACIMRN/SIRN) e José Melgueiro (Barcelos (Padauirí/Preto).
Desafios
Atualmente um dos principais desafios para o movimento indígena na região é a luta pela demarcação das terras indígena na região do baixo Rio Negro, que se arrasta há anos. E depois vem o Ordenamento Territorial e Pesqueiro na região, que é uma iniciativa já desenvolvida na região, mas, que ainda precisa ser ampliado e fortalecido nos próximos anos.
Para isso, é considerado fundamental o fortalecimento das associações de base, especialmente a coordenadoria regional, para apoiar e estar presente nas bases para apoiar as ações de fortalecimento.
Objetivos e metas propostos para assembleia, alcançados.
Centro comunitário, local da VI Assembleia da CAIMBRN. Foto: FOIRN
Tanto por parte dos organizadores, como também pelos participantes convidados, a assembleia foi considerado um sucesso. “Na minha opinião a assembleia foi um sucesso, os objetivos foram alcançados, parabenizo a todos e vamos continuando dessa forma”, afirmou Camila Sobral Barra, do ISA, colaboradora na região do médio e baixo Rio Negro.
Nas avaliações realizadas ao final do evento, foi novamente reafirmado a importância do evento para o movimento indígena do Rio Negro: ” Avaliar o movimento indígena do Rio Negro, desafios e suas perspectivas, tema tratado neste evento é muito importante pra nossa região, as nossas expectativas estão nesses novos eleitos aqui nessa assembleia, que vão levar os nossos trabalhos pra frente. Parabenizo a todos pela assembleia, quero dizer que com a força e decisão de todos iremos conseguir realizar todos os nossos trabalhos.
Delegados para Assembleia Geral da FOIRN em novembro: Orlando José de Oliveira (AIACAJ), Sandra Gomes (ACIMRN), Maria Lucilene (ASIBA), Xavier (AIACAJ), Abrahão de Oliveira França (AHKÓ ÍWÍ), José de Melgueiro de Jesus (ACIRP), Carlos Alberto Teixeira Nery (ACIMIRN), Francisco Xavier (AYRCA), Roberto Lopes (ACIBRN), Antônio de Jesus (ASIBA), Cleocimara, Derly, Elcimar, Floriza (AMYK), Anésia (AMYK), Maria Claúdia, Ilma, Laudicéia, Aprigío e Luciano.
A realização das Assembleias Geral e Sub Regional Eletiva da CAIMBRN teve apoio e parceria da FOIRN/CAIMBRN, Comunidades e Associações do Médio e Baixo Rio Negro, ISA, FUNAI/CR RIO NEGRO, H3000, Embaixada Real da Noruega e Aliança pelo Clima.
Audiência Pública lota a Casa do Saber da FOIRN com mais de 500 participantes. Foto: Ray Benjamim/FOIRN
A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) realizou dia 2 de Março de 2016 uma audiência pública na sede da instituição, em São Gabriel da Cachoeira (AM), com a participação do Procurador do MPF do Estado do Amazonas, Dr. Fernando Merlotto Soave e autoridades federais, estaduais e municipais. Durante toda a manhã e boa parte da tarde os lideranças indígenas da FOIRN e das coordenadorias regionais da FOIRN, bem como representantes dos povos Hupd’äh, Yuhupd’äh e Dâw apresentaram a real situação em que se encontram a situação de descaso e de violações dos direitos indígena. O dossiê apresentado ao Procurador além de imagens e filmes retratando essa realidade contem mais cem páginas com mais de 80 páginas.
A audiência pública com a presença do Procurador iniciou com a abertura e apresentação geral da pauta pelo Baré Marivelton Rodriguês, diretor da FOIRN e seguida uma apresentação detalhada do dossiê realizado pelo Tukano Renato Matos, que em seguida passou a palavra para os representantes Hupd’äh: Teresa Saúva, Horácio Penedo, Américo e juntamente com Auxiliadora do povo Dâw fizeram um relato detalhado sobre descaso e precariedade nos serviços públicos e privados em São Gabriel da Cachoeira que vêm aumentando ano a ano, bem como a negligência do poder público em relaçãoaos problemas vivenciados pelos povos Hupd´äh. Yuhupd’äh e Dâw cuja situação social sintetiza e representa de forma mais acentuada o que outros povos indígenas do rio Negro vêm enfrentando com relação ao acesso à documentação e benefícios sociais, saúde, educação, segurança pública e práticas abusivas dos bancos e de comerciantes locais.
Procurador recebendo as cartas de denúncia das lideranças indígenas. Foto: Ray Benjamim/FOIRN
Foi denunciado, também a forma desumana em que as família ficam quando se deslocam para São Gabriel da Cachoeira em busca de documentação básica e benefícios como Bolsa Família, salário-maternidade, aposentadoria, pensão por morte, entre outros. O fluxo desses indígenas tem aumentado significativamente nos últimos anos, permanecendo acampados em condições precárias nas praias, pedras e margens do rio Negro, perto do Porto Queiróz Galvão.
Na cidade eles têm sofrido com a alta incidência de malária, doenças sexualmente transmissíveis, o que tem ocasionado mortes que poderiam ser evitadas. Além disso, bancos e comerciantes locais têm estimulado o endividamento dos indígenas, o que os fragiliza ainda mais, bem como a situação dos suicídios que precisa ser investigado que ocorrem entre eles.
A Hupd’äh Teresa Saúva relatando os descasos dos serviços públicos com seu povo. Foto: Ray Benjamim/FOIRN
A lideranças das coordenações regionais da FOIRN, Protásio Castro, Tukano da COITUA, Artur Ferreira, Tukano da COIDI, João Floretino, Baniwa da CABC, Tarcísio Luciano da CAIARN, Braz de Oliveira França, Baré da CAIARNX e o Tuxaua Julio Gois Yanomami de Maturacá relatam detalhadamente para o Procurador da República e outras autoridades presentes na audiência pública que as instituições públicas, estaduais, federais e municipais, não prestam atendimento adequado, com relação educação escolar indígena que se encontra em situação bastante grave, pois sofre com a falta de infraestrutura e espaço físico nas comunidades. O não reconhecimento e a falta de apoio para elaboração de projetos político-pedagógicos indígenas, a falta de material didático em língua indígena, a falta de merenda escolar (ou quando há muitas vezes está vencida) são alguns aspectos principais.
A professora Sidnéia Miguel, represente da Comissão dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro, denunciou e pediu que sejam respeitadas as pactuações realizadas no Seminário de Educação Escolar Indígena do Rio Negro de 2014 em São Gabriel da Cachoeira, no âmbito do Território Etnoeducacional do Rio Negro que não foram cumpridas nestes últimos 7 anos. Para piorar, apesar dos esforços para pactuação do Plano Decenalde Educação Escolar do município, não há sinalização que será cumprido pelos governantes responsáveis. Ainda, os representantes indígenas informaram ao Procurador da República que a FOIRN protocolou em Janeiro de 2016 uma denúncia ao Ministério Público relatando uma série de problemas vivenciados pelo descaso do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) local como falta de medicamentos, equipamentos precários, negligência médica, e principalmente o não atendimento dos indígenas em seus territórios de origem, a falta de atendimento médico nas aldeias.
Por fim foi denunciado o cenário atual de insegurança pública e impunidade no judiciário do município. A exemplo dos comerciantes condenados em casos de pedofilia e outros crimes no município, que permaneceram presos por pouco tempo. As práticas de vários comerciantes de ficarem com os cartões de benefícios dos indígenas é frequente,apesar de investigação da Polícia Federal. Vários assassinatos de indígenas não são investigados.
O procurador Fernando Merlotto Soave recebeu as denuncias e nos dias 3 e 4 quatro de março estará realizando visitas aos locais mencionados pelos representantes indígenas.
Procurador visita famílias em suas barracas no beiradão de São Gabriel da Cachoeira. Foto: Nivaldo da Silva/FOIRN
A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) está convocando uma audiência pública na sede da instituição, no dia 02 de março (quarta-feira), em São Gabriel da Cachoeira (AM). São convidados a participar representantes da Secretaria de Direitos Humanos, Igualdade Racial e das Mulheres, do Observatório de Direitos Humanos, do Conselho Nacional de Justiça, da FUNAI, representantes das Assembleias Legislativas estadual e federal, além de instituições locais
Esta audiência pública objetiva apresentar e discutir junto a indígenas e não indígenas da região as situações de descaso e precariedade nos serviços públicos e privados em São Gabriel da Cachoeira que vêm aumentando ano a ano, bem como a negligência do poder público em relação aos problemas vivenciados pelos povos Hupd´äh e Yuhupdeh – classificados como de recente contato pela FUNAI – cuja situação social sintetiza e representa de forma mais acentuada o que outros povos indígenas do rio Negro vêm enfrentando.
Serão discutidas na audiência questões relacionadas ao acesso à documentação e benefícios sociais, saúde, educação, segurança pública e práticas abusivas dos bancos e de comerciantes locais. Os indígenas Hup´däh e Yuhupdëh, que habitam os interflúvios dos rios Tiquié e Papuri, se deslocam para São Gabriel da Cachoeira em busca de documentação básica e benefícios como Bolsa Família, salário-maternidade, aposentadoria, pensão por morte, entre outros. O fluxo desses indígenas tem aumentado significativamente nos últimos anos, permanecendo acampados em condições precárias nas praias, pedras e margens do rio Negro, perto do Porto Queiróz Galvão. Na cidade eles têm sofrido com a alta incidência de malária, doenças sexualmente transmissíveis, o que tem ocasionado mortes que poderiam ser evitadas. Além disso, bancos e comerciantes locais têm estimulado o endividamento dos indígenas, o que os fragiliza ainda mais.
As instituições públicas não prestam atendimento adequado, isso faz com que os indígenas permaneçam meses esperando atendimento para solucionar suas pendências (muitas vezes sem êxito). Junto aos altos preços dos alimentos, cria-se uma situação de insegurança alimentar cada vez mais aguda já que eles não dispõem de área para caça, pesca e manejo florestal ao redor da cidade. Por outro lado, a situação não é menos desfavorável quando se trata de atendimento médico. A FOIRN protocolou em Janeiro de 2016 uma denúncia ao Ministério Público relatando uma série de problemas vivenciados pelos indígenas no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) local como falta de medicamentos, equipamentos precários, negligência médica, e principalmente o não atendimento dos indígenas em seus territórios de origem.
A educação escolar indígena também se encontra em situação bastante grave, pois sofre com a falta de infraestrutura e espaço físico nas comunidades. O não reconhecimento e a falta de apoio para elaboração de projetos político-pedagógicos indígenas, a falta de material didático em língua indígena, a falta de merenda escolar (ou quando há muitas vezes está vencida) são alguns aspectos principais. Vale ressaltar que diversas pactuações realizadas no Seminário de Educação Escolar Indígena do Rio Negro de 2014 em São Gabriel da Cachoeira e no âmbito do território etnoeducacional do rio Negro não foram cumpridas nos últimos 7 anos. Para piorar, apesar dos esforços para pactuação do Plano Decenal de Educação Escolar do município, não há sinalização que será cumprido pelo Poder Público.
É importante ainda colocar o cenário de insegurança pública e impunidade no judiciário do município. A exemplo dos comerciantes condenados em casos de pedofilia e outros crimes no município, que permaneceram presos por pouco tempo. As práticas de vários comerciantes de ficarem com os cartões de benefícios dos indígenas é frequente, apesar de investigação da Polícia Federal. Vários assassinatos de indígenas não são investigados.
Esse quadro de vulnerabilidade social gera uma falta de perspectiva que afeta todos os indígenas, o que está vinculado aos graves problemas relacionados ao uso excessivo de álcool e aos altos índices de suicídios registrados na região. Por esses motivos serão apresentados ao Ministério Público dados sobre o atendimento das instituições públicas e privadas, com foco nos Hup´däh e Yuhupdëh, bem como propostas de ações possíveis para mitigar esse conjunto de problemas. Por meio de um extenso dossiê antropológico que dá conta dos últimos três anos de atendimento precário aos indígenas; um quadro sintético apresentando problemas institucionais e possibilidade de articulação envolvendo diferentes esferas do poder público (municipal, estadual e federal); e por fim um compêndio de legislação específica que define os papeis de cada instituição, formam assim as três peças que darão embasamento para iniciativas do Ministério Público.
Aconteceu três oficinas de formação: Comunicadores, Gestão Administrativa e comercialização de artesanato para contribuir no fortalecimento da ACIBRN – Associação das Comunidades Indígenas do Baixo Rio Negro, e assim, promover ações de melhoria da qualidade de vida nas comunidades. As oficinas aconteceram entre 7 a 10 de julho de 2015 na sede do Instituto Socioambiental – ISA, em São Gabriel da Cachoeira
Participaram das oficinas jovens, lideranças das comunidades da ACIBRN previamente selecionados pela diretoria com base no interesse e compromisso e interessados, como membros da CAIMBRN – Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro, FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro e outros.
O objetivo principal da realização dessas oficinas de formação é garantir conhecimentos necessários aos jovens que irão atuar em diferentes funções dentro da associação, como na gestão administrativa, registro e divulgação, como também na comercialização de artesanatos.
O principal foco dessa formação é capacitar recursos humanos para apoiar a gestão na gerencia do Projeto de Pesca Esportiva no Rio Marie, como também outros projetos que poderão ser desenvolvidos no futuro.
“Estou gostando muito da oficina Gestão Administrativa, da qual estou participando, estou aprendendo conhecimentos importantes para mim e para o fortalecimento da associação”,- afirmou Madalena Gosta Horácio, da etnia Baré, 20, moradora na comunidade Itapereira, Baixo Rio Negro.
As oficinas de formação estão sendo realizados pela ACIBRN em parceria com a FOIRN, ISA e a Untamed Angling do Brasil, empresa selecionada para atuar no Rio Marie.
O VII Encontro de Produtores Indígenas do Rio Negro reuniu mais de quarenta participantes na sede do município de Barcelos, entre 13 a 15 de agosto, com o objetivo de discutir a política de preços dos produtos indígenas, o acesso aos programas de incentivo do governo à produção agrícola, e definição da realização do I Festival da Mandioca do Rio Negro.
A proposta do primeiro dia foi realizar um mapeamento de iniciativas que visam promover a sustentabilidade na região, através de alternativas econômicas e geração de renda. Assim, as organizações indígenas presentes no evento apresentaram algumas iniciativas bem sucedidas já em curso – como a “Pimenta Baniwa”, o “banco Tukano” e a “Castanha da Amazônia”, produzida e comercializada pela cooperativa da reserva extrativista do Rio Uninni –, e também experiências em processo de construção e consolidação, como a Associação dos Artesãos Indígenas da Comunidade de Areal (AAICA), a Associação de artesãos da comunidade São Gabriel Mirim, no Alto Rio Negro, e o Núcleo de Artes e Cultura Indígena de Barcelos (NACIB), que desenvolvem um trabalho de organização de artesãos e artesãs para a produção de artesanatos com matérias-prima, cada uma com sua especialidade. Por exemplo, os artesãos de São Gabriel Mirim produzem artesanatos usando mais de uma matéria-prima, como tucum, sementes e arumã, ao passo que a AAICA trabalha exclusivamente com o arumã e a NACIB com a fibra de piaçaba. As ceramistas Tukano, da Associação de Mulheres Indígenas de Taracuá (Amirt), também apresentaram experiências de trabalho.
O que define o preço dos produtos indígenas do Rio Negro.
Um dos objetivos propostos para o VII Encontro de Produtores foi a discussão e a atualização de preços dos produtos. De acordo com Neiva Souza, Gerente da loja Wariró, da FOIRN, a última atualização da tabela de preços foi feita em 2008. Desde então a tabela usada pela loja para comprar produtos dos artesãos e artesãs indígenas é a mesma.
Um artesão Baniwa da AAICA disse que desistiu de vender seus produtos à Loja Wariro há algum tempo, devido à defasagem nos preços e problemas na gerência. “Quando chegava para vender meus produtos na Wariró, não tinha dinheiro para a loja comprar ou as vezes deixava meus produtos para serem vendidos, mas, o dinheiro não era repassado” – lembra o artesão. Contudo, com a troca da gerência e com a nova forma de pagamento aos produtores, adotada pela loja, este artesão voltou a vender seus ali produtos, retomando a parceria e a colaboração no processo de valorização do artesanato indígena, incentivando, assim, o uso dos conhecimentos relacionados à arte indígena para geração de renda.
O exercício de discussão e elaboração de tabelas de preços foi feito por grupos de trabalho, organizados por coordenadorias regionais. O formato de organização dos trabalhos foi proposto pelos participantes, liderados pelo mestre Clarindo Maia Tariano, um dos fundadores do NACIB. Clarindo defende que cada regional do Rio Negro vive em contextos diferentes, especialmente no que diz respeito ao custo de vida. “Hoje o frango, o peixe e todos os produtos industrializados que precisamos ou usamos nas nossas casas estão ficando caros, e porque nossos produtos continuam sendo muito baratos” – disse a professora Elizângela da Costa, da Comunidade São Gabriel Mirim, uma das líderes do movimento de artesãos da região do Alto Rio Negro.
O que considerar para dar preço aos nossos produtos? Wilde Itaborahy e Natasha Mendes, ambos do Instituto Socioambiental, mediaram o debate introdutório para o início dos trabalhos, que terminou com tabelas de produtos e preços, que foram apresentados pelos grupos ao final do segundo dia do encontro.
De acordo com a Gerente da Wariró, algumas propostas elaboradas pelos grupos serão incorporadas daqui por diante; outras passarão por um processo de avaliação e critério, e sofrerão alguns ajustes antes de passarem para a tabela final de preços.
Acesso aos programas do governo
No último dia, foram apresentados alguns programas do governo (as chamadas “Compras Públicas”), como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentação), PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e Compra Institucional.
Contudo, a partir de questionamentos dos próprios participantes da oficina, o expositor esclareceu que, a despeito dos avanços na área, ainda há alguns obstáculos a serem vencidos antes da universalização destes programas. É necessário que os agricultores se organizem, e que estejam com sua situação fiscal regularizada, e com documentação pertinente em dia (como o DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf).
Assim, existem desafios para que os agricultores comecem a acessar a esses programas. Um deles está relacionado com organização e documentação. O outro é a falta de cumprimento da legislação, da parte dos gestores municipais. O recurso destinado para a compra da merenda regionalizada, por exemplo, não é usado como previsto, atestaram participantes vindo dos três municípios do Rio Negro. Ainda há a questão de processos que foram iniciados e que não tiveram continuidade, ou que foram interrompidos por problemas de gestão.
I Festival da Mandioca dos Povos do Rio Negro será em Barcelos
Uma das pautas de discussão foi o Festival de Mandioca, proposto no sexto encontro de produtores, realizado em outubro do ano passado em São Gabriel da Cachoeira. A proposta do festival é reunir representantes de várias etnias indígenas do Rio Negro para um intercambio cultural, e dessa forma disseminar experiências e práticas relacionadas à agricultura e a roça, promovendo a valorização e a divulgação do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em 2010 pelo IPHAN.
Previsto para setembro de 2015, em Barcelos, o I Festival da Mandioca já tem uma pré-programação elaborada no encontro. Apresentações culturais, jogos indígenas, exposição e venda de artesanatos são as propostas iniciais de programação. E, ainda, a apresentação dos processos de fabricação dos produtos derivados da mandioca, como a farinha.
Oficinas, palestras sobre direitos indígenas e sobre a valorização dos conhecimentos tradicionais e a conservação de biodiversidade completam a proposta o I Festival da Mandioca do Rio Negro.
A FOIRN através das 5 Coordenadorias Regionais está realizando assembleias nas regionais para discutir e propor ações junto com os parceiros e instituições locais para os principais problemas e desafios enfrentados hoje pelos povos indígenas do Rio Negro.
Neste ano, o tema principal em debate no Rio Negro é “Valorizando Conhecimentos Tradicionais e a Conservação da Biodiversidade”, com a proposta de buscar caminhos que as associações, as coordenadorias e a própria FOIRN deve trilhar para que os conhecimentos relacionados ao uso dos recursos naturais e a própria forma de viver e de se relacionar com a natureza, que são fundamentais para a conservação da biodiversidade, continuem fortalecidos.
Dessa vez, entre 30 de julho a 01 de agosto, foi a Coordenadoria das Associações Indígenas do Baixo e Médio Rio Negro (CAIMBRN) que realizou sua V Assembleia Regional Ordinária. Onde mais de 80 participantes, entre estes, lideranças representantes de 11 organizações Indígenas e de instituições parceiras como ISA, FUNAI, IPHAN, Cimi, FVA apresentaram as atividades realizadas direcionadas ao tema central da assembleia.
Experiências e ações
As experiências iniciadas por algumas organizações indígenas junto com a FOIRN e parceiros foram apresentadas. A ACIBRN (Associação das Comunidades Indígenas do Baixo Rio Negro), sediada na comunidade Tapuruqura Mirin – médio Rio Negro, apresentou a inédita experiência de construção participativa de um modelo de Turismo de Pesca Esportiva a ser desenvolvido no Rio Marié, prevista para entrar em operação ainda esse ano. A ACIR (Associação das Comunidades Indígenas e Ribeirinhas) apresentou o trabalho que está sendo organizado para extração da borracha e a participação como parceira e colaboradora na construção com as organizações indígenas do Alto Rio Negro nesse mesmo processo e proposta de trabalho.
A ACIMRN (Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro) apresentou em parceria com o IPHAN no processo de criação dos “Conselhos da Roça”, que faz parte de uma série de ações de salvaguarda do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro (SAT-RN), uma discussão que também está sendo feita em outras regionais. O objetivo é que esse espaço (Conselho) sirva para compartilhamento e transmissão de conhecimentos relacionados ao SAT-RN.
Ordenamento Pesqueiro e Cadeia de Produtiva da Piaçava no Rio Xié também foram temas de exposição durante o evento. O primeiro tema debatido foi o levantamento realizado pela ACIMRN e ASIBA (Associação Indígena de Barcelos) em parceria com a FOIRN e ISA, um trabalho que já resultou em publicações como a série “O que fazer para o peixe não acabar”. O segundo, apesar de ser uma proposta em processo no Alto Rio Negro, sobretudo no rio Xié, foi exposto, pois, a piaçaba é uma das atividades realizadas no Baixo Rio Negro, principalmente no município de Barcelos.
Carta de repúdio ao ataques aos Direitos Indígenas em Barcelos
Um dos encaminhamentos feitos na V Assembléia Regional foi a moção de repúdio contra ataques aos direitos indígenas que se tornou freqüente através de mobilizações, notas públicas e publicações em meios de comunicação, feitas por organizações não-governamentais constituídas em associações de classe, como de pescadores, patrões de piaçaba e de operadores de turismo, contrárias à demarcação das terras indígenas. Estas associações negam a identidade étnica e incitam o ódio aos povos indígenas, o desrespeito aos direitos originários garantidos constitucionalmente, com o fim de que as terras indígenas não sejam demarcadas e os índios não possam exercer o seu direito de uso livre dos recursos naturais para a sobrevivência e bem viver na região.
O documento diz ainda:, “estes ataques contêm mentiras e incitam a prática de crimes contra nossos parceiros e aliados, como a ameaça de morte feita a um voluntário que trabalha conosco, visando impedir que continuemos a receber apoio para realizar os nossos trabalhos em favor das comunidades indígenas localizadas na calha do Rio Negro, especificamente no município de Barcelos”.
A carta finaliza com o pedido de medidas por parte dos órgãos públicos federais para garantir a integridade física das lideranças e dos parceiros e aliados do movimento indígena do Rio Negro. Leia a carta no linka abaixo:
Organizações Indígenas que participaram da V Assembleia da CAIMBRN em Barcelos.
– Associação Indígena de Barcelos (ASIBA).
– Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro (ACIMRN).
– Associação Indígena AHKOIWI (Água e Terra).
– Associação das Comunidades Indígenas do Baixo Rio Negro (ACIBRN).
– Associação das Comunidades Indígenas e Ribeirinhas (ACIR).
– Associação Indígena da Área de Canafé e Jurubaxi (AIACAJ)
– Associação das Comunidades Indígenas do Rio Preto (ACIRP).
– Associação Indígena de Floresta e Paudauri (AIFIP).
– Associação de Base Demini e Aracá (AIBAD).
– Associação Indígenas do Baixo Rio Negro e Caurés (AIBRNC).
– Núcleo de Arte e Cultura Indígena de Barcelos (NACIB)*
* – A proposta de adesão foi apresentada e aprovada na Assembleia, a partir de agora passa a fazer parte das organizações Indígenas filiadas à FOIRN, coordenadas pela CAIMBRN.
O blog da FOIRN conversou com o Domingos Sávio Camico, liderança da etnia Baniwa, atual vice-prefeito e secretário de educação do município de São Gabriel da Cachoeira, durante o Seminário Rio Negro de Educação Indígena.
“ Ter a experiência de gestor público é positiva e desafiadora, considerando que teve toda a sua formação no movimento indígena, novos aprendizados e muitas batalhas a serem vencidas no exercício de secretário municipal.
A proposta na atuação da SEMEC é a consolidação da política de educação escolar indígena no município, desde a formação dos professores indígenas, incluindo as ações de apoio produção de material didático, elaboração de projetos políticos pedagógicos e merenda regionalizada. Mas existe muitas dificuldades e enfrentamentos na gestão municipal, a formação do corpo técnico da SEMEC para garantir a atuação em campo é a primeira urgência a ser garantida. Além de toda dificuldade com as burocracias da gestão pública.
Quanto a política do Território Etnoeducacional a participação do governo municipal é assegurar o cumprimento das responsabilidades pactuadas no termo de acordo entre as instituições. A expectativa é ter um apoio maior de financiamento do Ministério de Educação, que considere um financiamento que garanta a logística do município (mais de 200 mil km2).
A expectativa ter o apoio do MEC para o município de São Gabriel da Cachoeira ter um Plano de Ações Articuladas – PAR diferenciado e específico, considerando a diversidade dos 31 povos indígenas na região do alto rio Negro e pretendemos retomar o projeto de formação do quadro de Assessores Pedagógicos Indígenas – APIs.”
Por Renato Martelli/ISA, Ray Benjamim/FOIRN e Laise Diniz/ISA
No último dia de seminário, mais uma vez com a maloca da FOIRN cheia, os trabalhos se iniciaram com uma roda de conversa formada por lideranças indígenas, professores e coordenadores. Foi a primeira roda do evento formada inteiramente por indígenas. Karim Juruna, da etnia Yudjá e liderança da ATIX (Associação da Terra Indígena do Xingu), expôs alguns dos trabalhos que valorizam a cultura, reflorestam o território e unem as comunidades para enfrentar pressões como plantações de soja, criação de gados e grandes obras como a hidrelétrica de Belo Monte. Apesar do Parque do Xingu ter 28 municípios ao seu redor, somente sete deles atendem escolas indígenas. Para os participantes foi uma oportunidade de conhecer um contexto bastante diferente ao do Rio Negro, principalmente no tocante à pressão pelo território, mas que tem suas similaridades como as atividades que fortalecem o poder e autonomia indígena.
Em seguida gestores das escolas de Taracuá, no rio Uaupés e de Pari-Cachoeira no rio Tiquié expuseram como o sistema convencional de educação está enraizado em idéias do dia a dia e como vários pais são resistentes à educação indígena. O sistema convencional não atende às realidades indígenas, afirmou Armando da Silva Menezes de Taracuá. Isso acaba formando alunos com falta de senso critico e sem o poder de pensar e somente reproduzindo conhecimento. Outra crítica foi o foco demasiado na teoria, neste sistema falta prática afirmaram os coordenadores. Mais uma vez, a falta de implementação de leis e direitos dos povos indígenas foi mencionado.
Em Pari-Cachoeira, afirma o professor Protásio Machado, falta energia elétrica mesmo com a existência de uma pequena central hidrelétrica. O professor lembrou ainda que a colonização de indígena para indígena é um tema que deve ser lembrado para que possa ser impedido e que o caminho deve ser de valorizar as próprias identidades de cada grupo diferente.
Justino Sarmento, tuyuka padre salesiano e professor no rio Marauiá, reforçou a questão de identidade indígena e leu um texto, definido por ele como poético e político, sobre os direitos originários dos povos indígenas (confira o texto na íntegra abaixo).
Custódio Benjamim Baniwa e Clarice Cohn falam do Observatório de Educação Escolar Indígena.
Ainda pela manhã o Observatório da Educação Escolar Indígena da Universidade Federal de São Carlos foi tema da segunda roda de conversa do dia conduzida pela antropóloga Clarice Cohn e Custodio Benjamim, baniwa formado em pedagogia pela UFSCar. Este observatório busca pesquisar, através de etnografias de escolas indígenas, conceitos e ações que são naturalizadas no dia a dia mas que contêm significados específicos de acordo com cada contexto. São questões como o respeito aos conhecimentos indígenas, a comparação entre escolas diferenciadas e não diferenciadas, a infância indígena e as práticas pedagógicas. Conceitos que fazem parte do dia a dia de escolas mas que são problematizados e analisados através das pesquisas do Observatório. Entre os desafios metodológicos para isto foram citados a bagagem da formação de cada pesquisador, a dificuldade de fazer etnografias de si mesmo no caso de professores e a formação e posição do pesquisador dentro da escola, este “adulto diferente’ entre jovens e crianças. Em seguida, Custódio disse que um dos grandes problemas da educação indígena está na esfera da micropolítica, onde as pessoas se acomodam e buscam somente obedecer ao sistema. Afirmou que o movimento indígena deve ser pensado como a matriz para as discussões e reflexões sobre educação indígena. Lembrou ainda que conceitos como ensino técnico podem ter diferentes significados. Se para a maioria das comunidade isto significa a habilidade de desenvolver trabalhos para a comunidade, que busquem sua sustentabilidade, para vários programas do Estado, ensino técnico é para formar mão de obra pra o mercado de trabalho.
A sessão da tarde foi toda dedicada para a elaboração conjunta do Documento de Encaminhamentos e Propostas do Seminário. Este documento será disponibilizado neste blog mas adiantamos que ele considera questões como reconhecimento de projetos políticos pedagógicos indígenas, promoção da temática de gestão territorial, retomada do Plano de Ações Articuladas do Ministério da Educação e audiência pública convocando, não convidando, os poderes executivos dos três municípios do Território Etnoeducacional do Rio Negro (São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos), certificação de professores e o encaminhamento dos depoimentos do seminário para o Ministério Público Federal. Todas estes foram detalhados e explicam quem serão os responsáveis, os participantes e qual seu período de educação. Junto com este documento, as autoridades receberam as propostas dos seminários locais realizados desde ano passado pela FOIRN, FUNAI e ISA.
O Seminário termina oficialmente hoje, mas nos próximos dois dias o Território Etnoeducacional do Rio Negro será objetivo de discussão na Maloca. Esperamos que as notícias tenham despertado interesse para o tema da educação escolar indígena para que este transborde para além da escola, que seja parte dos direitos efetivos dos povos indígenas, parte da vida da comunidade e que apóie o bem viver das comunidades.
Equipe de comunicação do Seminário: Renato Martelli/ISA e Ray Benjamim/FOIRN
Pe. Justino Sarmento Rezende, Casa dos Saberes/FOIRN – SGC, 04/06/2014
Pe. Justino Sarmento Rezende, na maloca Casa dos Saberes da FOIRN, durante Seminário Rio Negro de Educação Indígena. Foto: Renato Martelli/ISA
Estou sentado num banco que significa o útero materno, banco da vida, banco que os meus avós sentaram diariamente e nos rituais conversando sobre a vida: passado, presente e o futuro.
Uma Casa Grande, Sagrada, cheia de vida e simbolismo me cerca, me envolve nesse momento. Sinto-me pequeno dentro da grandeza dessa Casa e diante do difícil tema para falar: Direitos Indígenas e Desafios de Gestão Pública no Brasil e na América Latina.
Não sou um Advogado para falar dos Direitos Indígenas, não sou Gestor Público para falar da Gestão Pública e não sou um conhecedor da América Latina.
Da América Latina eu sei apenas dizer que nela habitam muitos povos indígenas como nós, homens bonitos e mulheres lindas, cada povo com suas riquezas.
Diante desse tema: o que eu faço? Dá vontade de ficar calado, ficar com raiva, ficar revoltado. Mas olhando para vocês fico muito feliz, pois eu vejo centenas de olhares voltados para nós, querendo ouvir algo bom, com certeza.
Meus parentes eu pergunto para vocês: o que os vossos corações gostariam de ouvir de mim? O que é que vou falar para vocês sobre os nossos Direitos Indígenas?
Permitam-me criar asas para voar no tempo, num tempo muito longe, no mundo imaginário que eu não conheci, no mundo dos indígenas imaginários de nossos antepassados.
Os nossos direitos indígenas surgiram lá, quando vivíamos somente nós indígenas em nossas terras! Ah! Como era bom, como era diferente dos dias de hoje!
Nós vivíamos as nossas riquezas. Vivíamos as nossas simplicidades, alegrias, nossa nudez significava nossa originalidade, nossa beldade, dignidade, indianidade.
A nossa nudez não era sinônimo da pobreza, era nosso estilo de vida naquelas épocas histórias, era exibição do corpo humano-divino.
Lá era o tempo em que contávamos histórias que eram somente nossas histórias, ouvíamos atentos sentados e deitados nos nossos bancos, redes de fios de buritizeiro…
Ouvíamos histórias que despertavam vontade de conhecer as personagens. Achávamos graça à vontade! Também ouvíamos histórias assustadoras e ficávamos arrepiados.
Vivíamos dia a após dia na tranquilidade, diariamente saíamos em busca de nossa alimentação espalhada nas grandes florestas, nos rios, igarapés. Buscávamos alimentação nas nossas pequenas e grandes roças.
Em cada estação nas nossas ricas e lindas florestas encontrávamos frutas gostosas.
Nos caminhos das coletas nossos cachorros caçadores marupiaras encontravam cutias, pacas, queixadas, caititus, quatis, macacos, com as zarabatanas e outras armadilhas pegávamos mutuns, inambus, jacus…
Pescávamos e matávamos os peixes com arco-flecha, fruta-veneno-de-peixe, matapi.
Fazíamos festas rituais masculinos, femininos, festas longas, cheias de benzimentos de apaziguamentos das doenças, benzimentos de curas, prevenção das doenças… Fumávamos cigarros benzidos, mascávamos ipadu benzido para proteger nossas vidas contra os ataques dos males.
Andávamos pintados com urucum, jenipapo, carajuru. Andávamos com os nossos corpos com odores das puçangas, para pegar peixe, caça e também pessoa desejada.
Traçávamos com nossas mãos artistas linhas avermelhadas de urucum em nossos belos rostos, ficávamos orgulhosos com pinturas e seus simbolismos.
Nossas pinturas faciais e corporais, colocavam em contatos com as forças divinas, contatos com as forças da natureza: gente-florestas, gente-peixes…
Casávamos com gente certa, prometidas desde ventre materno. Visitávamos nossos parentes, irmãos, cunhados, tios…
Levávamos nossas riquezas para outros povos, fazíamos nossas festas de ofertas- dabucuri, recebíamos em troca outros produtos.
Bebíamos bebidas fermentadas e alucinógenas que nos levavam para os mundos das sabedorias, entrávamos em transe, conversávamos com os espíritos da vida-deuses.
Bebidas alucinógenas, caxiris, cigarros benzidos, conduziam-nos até às nossas Casas de Origem, Casas dos Trovões, Casas de Pedras Quartzo.
Depois de grandes rituais tínhamos um tempo de descanso, para dormir à vontade, recuperar nossas energias, forças. Refeitos seguíamos novamente ao movimento da nossa vida.
Assim éramos conscientes de sermos donos de saberes, conhecimentos que recebemos por iluminação durante nossas meditações noturnas cotidianas.
Somos amigos, irmãos, primos, cunhados, netos da natureza, das águas, dos trovões, das cobras grandes, dos seres vivos originadores das vidas indígenas.
Meus parentes assim é que nós vivíamos nossos direitos de povos indígenas específicos e diferenciados.
Somos povos de inteligência, sabedoria, povos de famílias, da aldeia e comunidades, pessoas que amam e educam; famílias organizadas que constroem vidas, facilitam boas convivências, ensinam o respeito aos irmãos-parentes-cunhados; respeitar irmãos maiores-chefes, menores; respeitar tuxauas, caciques, mestres de danças, de rituais, pajés.
Nossos líderes tomam conta da vida, animam os trabalhos, festas rituais, danças, convidar para comer quinhapira juntos, tomar caxiri juntos.
Assim vivíamos nossos direitos de povos indígenas específicos e diferenciados.
Mas tudo começou a mudar há muito tempo atrás. Agora estamos aqui sentindo- nos como povos fora de nossos lugares de origem.
As histórias de contatos com o mundo do branco tornaram-nos povos do medo, dentro de nossas próprias terras, com medo em nossas próprias Casas de origem, Casas de origens das vidas. Casas da Alegria, da Sabedoria, do Equilíbrio.
Ó “estranhos homens brancos”, vocês tornaram nossas aldeias em centro de medo, de fuga, de insegurança.
Meus parentes! Quem roubou a nossa tranquilidade de viver a vida indígena? De viver os nossos direitos indígenas?
Não foi um temporal, relâmpagos, trovoadas, não foram os bichos do mato, espíritos maus, curupiras, não foram as imensas florestas, gentes-florestas, não foram os Peixes, gente-peixes, botos, cobras grandes, não foram as larguras e profundezas dos rios amazônicos, não foram as águas negras, azuis, verdes, vermelhas. As perigosas cachoeiras não tiraram nossas tranquilidades.
Quem tirou a nossa alegria de viver, de viver em paz, foi o próprio ser humano, vindo de longe, um estranho, um aventureiro que chegou aqui sem nos conhecer, não conhecia nossas terras, nossas culturas, nossas línguas.
Um ser humano tão estranho, barbudo, peludo chegou aqui com ares de dono de tudo e de todos, andava com o corpo coberto com panos para esconder seu corpo estranho, era homem branco enorme, cara-séria-assustadora.
Donde apareceu esse ser antes inexistente e nunca visto? Caiu do alto, saiu das
florestas, veio com as nuvens? Quem lhe convidou para chegar aqui? É nosso parente? Tem algum parente aqui? Ele carregava nas costas, espingarda, na cintura outra arma pequena, nos seus braços exibia terçado para nos assustar.
Ó homem branco, de onde você veio? O que veio fazer entre nós?
Sim, homem branco, você nos assustou, invadiu nossas casas, abusou de nossas parentas, obrigou os homens a trabalhar sem parar, matou muitos parentes nossos, nossas famílias e nossas aldeias ficaram medrosas. Agora nós sabemos quem é você, você modificou nossas histórias, nossas culturas, nossas vidas, nós aprendemos suas sabedorias e suas malícias.
Não queremos que as suas maldades nos dominem e estraguem nossas vidas, não queremos que as nossas riquezas desapareçam. Queremos que a sabedoria do homem branco nos ajude a vencer, vencer na vida, nas histórias, conquistar outros bens, reservados para nós.
Ó homem branco, oxalá seja nosso aliado! Para perdermos o medo, o susto. Reconquistemos a confiança e a alegria de viver .
Meus parentes agora nós estamos aqui dependendo dos outros, pedindo que eles façam escolas para nós, tragam merenda para nossos alunos, que pague ao trabalhador-indígena baniwa, tuyuka, tukano, tariano, baré, wanano, werekena, yanomami, dessano, piratapuia, kubeu e demais povos.
Hoje o desejo de entrar na cultura escolar seja ela indígena ou outros modelos, é muito forte! Temos vontade louca de estudar. Estudam as crianças, adolescentes, jovens, casados, professores aposentados ainda estão estudando.
Sabemos que os estudos não nos dão condições de SABER CUIDAR DA NOSSA VIDA indígena. Na atualidade esses estudos estão conseguindo estragar nossas vidas, pois geram sofrimentos, angústias, raivas, desgastes de nossas forças humanas, criam brigas entre nós.
Hoje quem começou estudar quer estudar mais e mais. Estou há cinco anos em meio ao povo Yanomami do rio Marauiá, município de Santa Isabel, todas as reuniões eles reivindicam escola boa, querem ter aulas, querem professores, mas os governantes não chegam lá, governantes municipais não querem nem saber dos Yanomami. O que fazer?
No contexto atual eu ainda nunca escutei dizer: padre, nós decidimos não ter mais escolas. Estudando, estudando até aonde vamos parar? Até aonde esses estudos vão nos levar? Vale a pena estudar tanto na vida?
Vivemos momentos de encontros e desencontros em nossas vidas e em nossa região do Rio Negro: temos alunos, escolas, professores, mas falta o salário; outras vezes temos escolas, mas não temos alunos.
Eu me pergunto: nós não sabemos construir escolas com os recursos que as nossas florestas nos oferecem? Poderíamos, sim, mas hoje nós não queremos escolas feitas com palhas, queremos de zinco, alvenaria…
Nossos sonhos foram alcançados nas nossas histórias do Rio Negro, outros ainda alcançarão. Temos terras demarcadas, mas muitas famílias preferem abandoná-las, vão viver nas cidades; temos terras, mas não temos farinha.
Temos dificuldades em gerenciar os benefícios implantados e conquistados: novos modelos de educação escola, com suas próprias metodologias; projetos criação de peixes, laboratórios, manejo florestal, etc.
Penso: se todos esses projetos estivessem funcionando não estaríamos dependendo damerendaescolar ,teríamosnossos peixes, poderíamos comer a caldeirada de peixe, poderíamos fazer mujeca e comer com nosso beiju, nossa farinha; teríamos mel de abelhas para adoçar sucos de frutas que existem em nossos povoados; as nossas crianças poderiam merendar bananas, cucura, ingá, etc.
Na falta dos resultados de nossos trabalhos estamos sempre esperando um pouquinho de merenda que vem e ficamos brigando em nossas comunidades, dizendo que o professor comeu tudo, que alguém roubou.
Essas situações que nós sofremos aqui na região existem em todo o Brasil e em América Latina. Existem situações piores do que as nossas situações, povos indígenas sem terras, pedindo esmolas nas beiradas das estradas.
Amigos e amigas representantes da política pública, gestores públicos temos que estar mais comprometidos com as vidas. Os gestores públicos somos nós mesmos, pois muitos de nós somos professores municipais, estaduais e universitários.
Os gestores da administração pública têm um papel importante, pois eles se comprometeram com isso publicamente, nas campanhas eleitorais.
As histórias estão mostrando que as coisas estão mudando, está assumindo perfil indígena. Algumas décadas atrás nessas mesas sentavam somente homens e mulheres não-indígenas. Hoje já temos muitos indígenas e futuramente serão mais indígenas. Há mudanças de atores históricos.
Isso também tem suas consequências: antes nós brigávamos com os não-índios e agora brigamos com os nossos próprios parentes.
Meus parentes, hoje, eles e nós mesmos sabemos que é difícil resolver os problemas sem a interferência direta do papelzinho chamado dinheiro. Esse pedacinho de papel que o homem inventou está nos deixando doidos, dominando e paralisando nossas vidas e nossas atividades.
Nós indígenas não fabricamos dinheiro até o momento. Quem sabe um dia! Mas meus parentes nós estamos vivendo dentro e em cima das riquezas naturais, minerais, biodiversidade. Mas temos medo de usar. Até quando vamos ficar esperando que os governantes façam o que nós queremos? Será que eles vão conseguir nos atender em tudo? Não vão conseguir tudo, mas podem fazer melhor o que estão fazendo.
Meus parentes o que acabo de dizer é algo muito poético, mas também é muito político, pois estou dizendo algo que tem muito a ver com as nossas histórias, nossas vidas e nossos trabalhos. Muitas mudanças dependem de nós mesmos, vocês sabem disso, se você não faz as coisas acontecer lá na sua comunidade as coisas não acontecem, já foi dito aqui, você mesmo gastando o seu dinheirinho para comprar diesel, gasolina, usando seu motor-rabeta, visitando as escolas. Esses gestos são demonstrações de compromissos com o povo, com os alunos, com os ideais que carregamos no nosso coração. Os governantes não vão repor todos os recursos que você utilizou para ajudar seus parentes, algumas vezes nem os alunos nem os pais vão reconhecer seus trabalhos.
Todos nós que estamos aqui não podemos desanimar, pois ser indígena é muito bom, pois somos pessoais especiais e únicas no mundo. Com a gente o mundo fica mais bonito. Temos que fazer bem o que temos que fazer. Ultimamente é isso procuro viver, ser bom indígena, ser bom padre.
Somos herdeiros de pessoas fortes, corajosas e vencedoras que nunca dependeram dos homens e mulheres brancas para viverem.
Também somos herdeiros de pessoas que lutaram pelos nossos povos no movimento indígena, muitos deles estão vivos e outros nos deixaram. Outros foram para os poderes públicos. E, dentro desse grupão devem estar os futuros vereadores, vereadoras, prefeitos, vice-prefeitos, deputados estaduais, federais e senadores. Nada é impossível, chegará o momento para isso. Quem chegar lá, saiba que você saiu daqui, lembra do que você reivindicava aqui e faça algo bom para nós.