Tag: Juventude Indígena

  • FOIRN PARTICIPA DA VII ASSEMBLEIA ESTADUAL DA JUVENTUDE DE RORAIMA

    FOIRN PARTICIPA DA VII ASSEMBLEIA ESTADUAL DA JUVENTUDE DE RORAIMA

    || Cerca de 800 lideranças participaram da Assembleia para discutir o desenvolvimento dos povos indígenas em Roraima.

     VII Assembleia Estadual da Juventude de Roraima realizada no Centro Regional Lago Caracaranã, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, reuniu lideranças para discutir pautas pertinentes às comunidades de diversas etnias cerca de 800 lideranças participando, no período de 12 a 15 de maio de 2022.

    A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) através do Departamento de Adolescentes e Jovens do Rio Negro (DAJIRN) representados pelos coordenadores Elson Kene Baré e Sheine Diana Baré estiveram participando.

    As lideranças da juventude de todas as regiões apresentaram projetos e propostas de aquicultura e agricultura, se tratando de plantação onde defendem a agricultura familiar, porque as sementes enxertadas estão trazendo muitas doenças, poços para criadouros de peixe, e cuidados com os rebanhos que faz parte da sua alimentação do dia a dia.

    As lideranças mais antigas repassaram os seus conhecimentos para os jovens, experiências, onde colocaram que a melhor escola é dentro da aldeia, nos ensinamentos de seus avós e pais que ainda continuam a praticar as tradições de danças e rituais. Foi relatado que depois que os jovens saem da aldeia pra estudar não querem mostrar que são indígenas depois que se formam, e fizeram a cobrança de professores indígenas nas escolas para ensinar os seus alunos na língua indígena para voltar e trabalhar com seu próprio povo.

    As pautas discutidas foram sobre política do malocão, desenvolvimento, sustentabilidade, empreendedorismo, saúde mental, eleição para a nomeação da nova Coordenação Estadual da Juventude, além de organização de atos contra o garimpo ilegal prestando apoio aos povos indígenas da Terra Indígena Yanomami.

    Entre as lideranças estiveram presentes representantes dos povos indígenas Macuxi, Wapichana, Sapará, Taurepang, Warao, Kokoma, Saterêmawe, Baniwa, Kanbeba e Baré, contando também com a participação majoritária de jovens das Regiões Tabaio, Alto Caumé, Murupu, Serra da Lua, Amajari e São Marcos.


    Participaram também da assembleia a Deputada Joênia Wapichana, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a Hutukara (Associação Yanomami), o Instituto Socioambiental, o Instituto Federal de Roraima (IFRR), o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Levante Popular da Juventude.

    A VII Assembleia Estadual da Juventude de Roraima foi organizada pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) através do Núcleo da Juventude Indígena, com apoio do Projeto Bem Viver, Instituto Clima e Sociedade e da Embaixada Real da Noruega.

    Os representantes da Coordenação Executiva Edinho Batista (Coordenador Geral), Maria Betânia (Secretária de Mulheres) e Enock Taurepang (Vice Coordenador) participaram também da assembleia. As lideranças tradicionais da região estiveram presentes, Jacir Souza um dos símbolos da luta pela demarcação da T.I Raposa Serra do Sol, Clóvis Ambrósio liderança com referência de luta pela saúde diferenciada indígena, Enilton André Coordenador dos professores indígenas de Roraima, Cacique Kretã Kaingang e a Pajé Mariana curandeira, parteira, preservadora da língua e da cultura Macuxi.

  • DAJIRN PARTICIPA DA RODA DE  CONVERSA COM A EQUIPE DO IAJA

    DAJIRN PARTICIPA DA RODA DE CONVERSA COM A EQUIPE DO IAJA

    A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), através do departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro (DAJIRN) representados pelos Coordenadores Elson Kene Baré e Sheine Diana Baré, participam a roda de conversa com a equipe do Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia – IAJA.

    IAJA é uma associação civil de direito privado sem fins lucrativos que atua na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes na Amazônia Brasileira, fundada em 20 de setembro de 2011. É uma organização liderada por jovens que tem o objetivo de contribuir na perspectiva de vida dos adolescentes e jovens nas áreas social, ambiental e cultural. Visa contribuir na formação dos adolescentes e jovens; no fortalecimento das politicas públicas existentes; na formulação de politicas direcionadas; na criação de iniciativas de preservação ambiental; lutar pela equidade nas relações de gênero, geração e etnia.

    O diretor da IAJA Marcos Rodrigues apresentou os trabalhos da Instituição e o histórico do qual o saudoso Délio Dsana fez parte da fundação. A coordenadora de projetos Ana Vitoria que vem desempenhando os trabalhos nas comunidades indígenas, sobre saúde das adolescentes logo após a primeira menstruação. O DAJIRN também apresentou seus objetivos e agendas de trabalho com o intuito de estreitar a parceria.

  • FOIRN realiza oficina para fortalecer a juventude e mulheres indígenas no Médio e Baixo Rio Negro

    FOIRN realiza oficina para fortalecer a juventude e mulheres indígenas no Médio e Baixo Rio Negro

    Participantes da II Oficina de Formação de Jovens e Mulheres Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro realizado na comunidade Canafé, município de Barcelos (AM). Foto: Juliana Albuquerque/FOIRN

    A II Oficina de Jovens e Mulheres Indígenas aconteceu na comunidade Canafé no município Barcelos (Am), nos dias 14 a 16 de outubro. Participaram da oficina, sete associações de base da Foirn da região do Médio e Baixo Rio Negro.

    Realizado pela Foirn através do Departamento de Juventude (Dajirn) a II oficina teve como principal objetivo a criação de Núcleos de Jovens e Mulheres Indígenas da região do Médio e Baixo Rio Negro.

    Organizados em núcleos, a juventude e as mulheres indígenas vão atuar efetivamente nas mobilizações e articulações no âmbito da Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro (Caimbrn), que coordena e mobiliza as associações de base da Foirn na região.

    Participaram da oficina as associações de base: Acir – Associação das Comunidades Indígenas e Ribeirinha, Acimrn – Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro, Acirpp – Associação das Comunidades Indígenas do Rio Preto e Padauiri, Associação das mulheres, Amiarn – Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro, Aiacaj – Associação Indígena da Área de Canafé e Jurubaxi, e, Aibad – Associação Indígena do Baixo Rio Aracá e Demeni, e – Associação Yanomami Kurikama.

    Coordenadora do Departamento de Jovens Indígenas do Rio Negro (Foirn), Sheine Diana apresentou a estrutura organizacional do departamento, atividades já realizadas e planejamentos do departamento para esclarecer aos participantes dúvidas referente aos trabalhos de atuação e incentivar a participação dos mesmos nos eventos realizados pelo departamento.

    Na oficina foram realizados trabalhos em grupo por associação discutindo sobre o que é articulação e a importância da criação do núcleo por associações de base onde foi detalhado passo a passo para facilitar o entendimento dos jovens e mulheres.

    Jovens indígenas indicados para fazer parte da Rede de Juventude Indígena do Rio Negro coordenado pelo Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro (Dajirn). Foto: Juliana Albuquerque/Foir,

    A coordenadora destacou a importância do repasse de informações sobre os trabalhos do departamento a juventude da região. “Está sendo muito importante para mim, tanto pelo repasse de informações sobre o trabalho do Dajirn, como a realização das atividades previstas na região”. “Onde os jovens e mulheres estão participando e contribuindo nas discussões do movimento indígena”, completa.

    Presidente da Associação das Mulheres indígenas do Alto Rio Negro (Amiarn) e Coordenadora do Departamento das Mulheres Indígenas do Rio Negro da Foirn na gestão 2017-2020, Elizângela da Silva Baré foi a palestrante da oficina.

    Elizangela apresentou o histórico da luta das mulheres no movimento indígena. Ressaltou a importância da criação da rede e núcleo de mulheres e jovens indígenas para fortalecer a implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas (PGTAs) da região, processo da qual ela participou diretamente durante a sua gestão no Dmirn.

    “Hoje fico feliz de ver que a atual coordenação do departamento esta dando continuidade dessas ações do movimento indígena. O movimento indígena é isso, continuidade dos trabalhos, das ações, das coisas que a gente vê que são necessários para as nossas regiões, para nossas coordenadorias, comunidades e nossas terras indígenas. Por isso precisamos fortalecer e trazer as mulheres e jovens para participar e dar mais voz aos jovens e mulheres dentro do movimento indígena”, disse Elisangela.

    Mulheres Indígenas de diferentes comunidades participaram da oficina representando suas associações. Na imagem, mulheres indicadas para fazer parte da Rede de Mulheres Indígenas no âmbito da Foirn. Foto: Juliana Albuquerque/Foirn

    Carlos Teixeira Nery, coordenador da Caimbrn, participou da oficina onde falou a importância da regularização das organizações da região para fortalecer a participação e o desenvolvimento de projetos e iniciativas na região.

    Presidente da Foirn, Marivelton Barroso Baré, presente na oficina, apresentou os trabalhos desenvolvidos e destacou a importância das associações de base e a formação de novas lideranças no movimento indígena, que de acordo com ele, é importante garantir oportunidade aos jovens e mulheres nos encontros, reuniões, seminários, assembleias que são espaços de formação para novas lideranças.

  • CARTA DA JUVENTUDE INDÍGENA DO RIO NEGRO: LEVANTE PELO BEM VIVER DO RIO NEGRO E ALERTA CONTRA A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

    CARTA DA JUVENTUDE INDÍGENA DO RIO NEGRO: LEVANTE PELO BEM VIVER DO RIO NEGRO E ALERTA CONTRA A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

    São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, 11 de agosto de 2021

    Nós, jovens indígenas do Rio Negro, representantes dos povos das 23 etnias da região, presentes no I SEMINÁRIO DE ADOLESCENTES E JOVENS INDÍGENAS E EMERGÊNCIAS CLIMÁTICAS DO RIO NEGRO – O FUTURO DO PLANETA DEPENDE DA NOSSA LUTA, na Casa do Saber, Maloca da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), em São Gabriel da Cachoeira, no Estado do Amazonas, Amazônia do Brasil, viemos por meio desta carta reiterar todo apoio à Carta da Juventude Indígena Brasileira “Levante Pela Terra”, datada de 26 de junho de 2021, redigida após encontro em Brasília/DF, e demonstrar a nossa preocupação com o futuro dos Povos Indígenas do Rio Negro e de todo o mundo que, com suas práticas tradicionais, contribuem para a sustentabilidade e para o bem viver no planeta.

    O I SEMINÁRIO DE ADOLESCENTES E JOVENS INDÍGENAS E EMERGÊNCIAS CLIMÁTICAS DO RIO NEGRO – O FUTURO DO PLANETA DEPENDE DA NOSSA LUTA foi o espaço para apreender, compreender, debater e propor soluções para que os direitos dos Povos Indígenas a seu território e modos de vida sejam respeitados e não sejam ameaçados pelos retrocessos nas políticas socioambientais que atualmente ganham força em nosso país.

    Nós, jovens indígenas do Rio Negro, nos sentimos no dever de ser, estar e somar força às nossas lideranças que estão mobilizadas pela FOIRN na luta pelo direito à vida e a um meio ambiente equilibrado e saudável para as presentes e futuras gerações.

    Nós, adolescentes e jovens indígenas do Rio Negro, exigimos que nosso presente seja resguardado para que possamos levar ao futuro as sementes e raízes de nossos ancestrais, conhecedores e anciãos. Nosso futuro e nossas tradições dependem da proteção e respeito do direito ao território e carregam em si a conexão da natureza e a integração com o ambiente, o que leva à prática da economia sustentável que promove o bem viver e a proteção das plantas, rios, pedras, animais, sendo uma barreira aos avanços dos impactos da emergência climática.

    O I SEMINÁRIO DE ADOLESCENTES E JOVENS INDÍGENAS E EMERGÊNCIAS CLIMÁTICAS DO RIO NEGRO – O FUTURO DO PLANETA DEPENDE DA NOSSA LUTA teve início em 9 de agosto de 2021, mesma data da divulgação de novo documento do Painel Internacional sobre a Mudança Climática (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) alertando que é inequívoco que a humanidade tenha aquecido a atmosfera, o oceano e a terra, o que resultou em mudanças generalizadas e rápidas no planeta. Essa coincidência de datas reforça a necessidade de sermos ouvidos e atendidos.

    Dessa forma, nós, jovens indígenas do Rio Negro presentes no I SEMINÁRIO DE ADOLESCENTES E JOVENS INDÍGENAS E EMERGÊNCIAS CLIMÁTICAS DO RIO NEGRO – O FUTURO DO PLANETA DEPENDE DA NOSSA LUTA, encaminhamos as seguintes recomendações e demandas à Organização das Nações Unidas (ONU) e ao Estado Brasileiro:

    • Emergência climática

    1 – Amplificar o alerta dado por nós – jovens indígenas do Rio Negro vivendo em comunidades da floresta Amazônica e em cidades da região – de que já estamos sendo atingidos pelos danos provocados por ações e políticas agressivas ao meio ambiente, mesmo sendo os que menos causam degradação. Nas comunidades, ouvimos os velhos narrarem as mudanças dos ciclos: os eventos climáticos não coincidem mais exatamente com as constelações. Entendemos que essas narrativas mostram os impactos da emergência climática na floresta Amazônica, nossa casa.

    2 – Repudiar e agir para barrar propostas como o Projeto de Lei 490 e o Marco Temporal, que ameaçam nossos direitos constitucionais, incentivando práticas predatórias dentro de nosso território e reduzindo a autonomia dos Povos Indígenas.

    3 – Substituir projetos e propostas que ameaçam os direitos dos Povos Indígenas por políticas públicas que incentivem as práticas sustentáveis e a cultura tradicional, estabelecendo contrapartidas às ações de proteção ambiental.

    4 – Combater o preconceito aos povos originários e promover a valorização da juventude indígena como forma de assegurar que levaremos adiante os saberes ancestrais que conciliam economia, bem viver e floresta em pé.

    Saúde

    1. Conciliar a medicina tradicional com a medicina ocidental – Apoiar, respeitar e promover os saberes tradicionais, com implementação das “farmácias verdes”, com hortas de plantas medicinais dentro dos territórios, e de universidades adequadas à realidade e saberes indígenas.

    2. Incentivar formações continuadas para a juventude em medicina tradicional junto aos mestres em saúde tradicional, respeitando a cultura e identidade de cada povo;

    3. Criar Núcleos Multidisciplinares de Saúde Tradicional Indígena nos territórios, hospitais e postos básicos de saúde para acompanhamento a curto, médio e longo prazo dos pacientes indígenas, com participação dos anciãos e jovens formados na área de saúde, promovendo os tratamentos tradicionais;

    4. Garantir a participação dos profissionais indígenas da área da saúde em encontros realizados na região para dar apoio aos participantes indígenas presentes;

    5. Criar um centro de apoio à saúde da mulher indígena nos territórios, promovendo a cura, o acolhimento e o cuidado.

    6. Reforçar as medidas preventivas e o atendimento médico-hospitalar voltados a atendimento de pacientes com a Covid-19, levando em conta a realidade indígena, além de ampliar as campanhas de vacinação.

    Política

    1. Promover formação política específica para jovens indígenas, dentro e fora dos territórios;

    2. Realizar mutirões nas comunidades para que os jovens indígenas sem títulos de eleitor, carteira de identidade ou outros documentos oficiais possam ter acesso a esses documentos;

    3. Promover palestras instrutivas sobre o Direito dos Povos Indígenas e sobre como acessar Políticas Públicas que tratem dos nossos direitos;

    4. Promover o mapeamento de jovens nas comunidades que buscam uma formação política;

    5. Incentivar a ocupação de cargos parlamentares, bem como de outros espaços de tomada de decisão no próprio Legislativo, no Judiciário e no Executivo, por parte de representantes dos Povos Indígenas, sendo esses legitimados para exigir nossos direitos.

    6. Incentivar a criação de aplicativos que veiculam informações de políticas indígenas, adaptadas às linguagens tradicionais;

    7. Apoiar organizações de jovens indígenas que estão dentro das comunidades e que buscam junto às lideranças criar políticas públicas para o bem-estar dos Povos Indígenas e tradicionais.

    Cultura

    1. Promover o resgate cultural como forma de aproximação entre os mais jovens e os mais velhos. Incentivar os grafismos, artesanatos, música e a arte como resistência;

    2. Realizar encontros intergeracionais para promover o diálogo, troca e valorização dos conhecimentos tradicionais, bem como o intercâmbio tecnológico;

    3. Incentivar a juventude, dentro e fora dos territórios, a conhecer suas raízes e não se esquecer delas;

    4. Investir na educação tradicional e promover a participação dos mais jovens no processo de tomada de decisões;

    5. Evitar que grupos religiosos atuem no território indígena sem respeitar as tradições dos Povos Indígenas, bem como o seu modo de ser.

    Território

    1. Criar estratégias para defender os direitos sobre nossos territórios tradicionais;

    2. Exigir que o Estado Brasileiro cumpra o que está garantido na Constituição Brasileira (art. 231, art. 232 e art. 225) e nos Acordos Internacionais, como na Convenção 169 da OIT e nos demais tratados internacionais sobre os Direitos dos Povos Indígenas e o Meio Ambiente, dos quais o Brasil é signatário;

    3. Garantir que os territórios sagrados indígenas autodemarcados sejam reconhecidos e respeitados pelo Estado e pela sociedade em geral;

    4. Incentivar a juventude indígena a estar inserida na luta pela demarcação dos territórios e pela garantia dos direitos dos Povos Indígenas;

    5. Garantir a participação da juventude indígena nas pautas relativas às questões climáticas;

    6. Apoiar os projetos de gestão territorial interna dos Povos Indígenas e o automonitoramento dos territórios;

    7. Promover a capacitação em gestão territorial de jovens indígenas nos territórios e a criação de grupos de Guardiões do Território;

    8. Incentivar e garantir recursos para o reflorestamento dos territórios nas áreas degradadas pelas queimadas, pastagens, madeireiros e garimpos, bem como responsabilizar os culpados pela execução de atividades ilegais em nossos territórios.

    9. Incentivar a promoção da Economia da Floresta, por meio do empoderamento das comunidades, promovendo cadeias de valores que fortaleçam a soberania dos territórios;

    10. Apoiar a proteção dos territórios indígenas por meio da promoção da capacitação da Juventude Indígena para que possamos continuar a luta iniciada por nossos Anciãos.

    Educação Indígena

    1. Incentivar formações diferenciadas para professores indígenas que irão atuar ou atuam dentro das comunidades;

    2. Criar concursos públicos específicos para educação escolar indígena que tenham vagas específicas reservadas para profissionais indígenas;

    3. Fortalecer a inserção dos conhecimentos tradicionais por meio do PPP (Projeto Político Pedagógico), como forma de garantir a identidade cultural dentro das escolas indígenas;

    4. Exigir o aumento no número de vagas reservadas para estudantes indígenas designada pela Lei de Cotas nas Universidades Públicas, bem como que essas apresentem um programa para promover a permanência e acolhimento destes estudantes.

    Comunicação/Mobilização

    1. Criar um fundo financeiro para que a juventude indígena possa participar dos movimentos e conferências em todo o Brasil e no exterior, respeitando o direito de fala e consulta prévia da juventude;

    2. Incentivar encontros de comunicadores indígenas, na forma de oficinas, para a troca de saberes entre os povos tradicionais;

    3. Viabilizar o turismo de base comunitária como forma de divulgação da cultura, usando as diversas formas da linguagem para comunicação e para atingir o maior público;

    4. Utilizar as ferramentas de comunicação para o combate às fake news sobre a luta dos Povos Indígenas;

    5. Incentivar a participação de mulheres indígenas comunicadoras para que elas possam ocupar mais espaços de voz e liderança;

    6. Fortalecer as redes de comunicação das organizações e influenciadores indígenas para que tenham maior alcance e maior impacto na população não-indígena que desconhece a diversidade e a realidade dos Povos Indígenas do Brasil;

    7. Garantir o acesso a uma internet de boa qualidade e recursos para aquisição de equipamentos, bem como para projetos audiovisuais que incentivem a participação dos jovens da base;

    8. Criar um sistema de divulgação de editais e projetos que facilite a participação da juventude indígena;

    9. Fortalecer a rede de comunicadores da juventude indígena, usando a comunicação como ferramenta para a descolonização do pensamento e do estereótipo do que seria o “índio”, de forma a mostrar a nossa pluralidade étnica cultural indígenas.

    Alimentação

    1. Incentivar a produção de alimentos saudáveis nas comunidades e fazer com que a produção seja usada como merenda nas escolas indígenas. A culinária e a soberania alimentar devem respeitar a diversidade dos nossos povos;

    2. Incitar os Estados para que garantam a compra dos produtos alimentícios produzidos nas aldeias como merenda escolar, bem como a valorização dos nossos produtores e da nossa alimentação tradicional livre de agrotóxicos;

    3. Incentivar, por meio de projetos, a reconexão e o consumo dos nossos alimentos tradicionais, fortalecendo a valorização da cultura e a produção de alimentos que respeitem as nossas terras;

    Segurança pública

    1 – Elaborar e executar um plano de segurança pública que considere a criação de redes protetivas que garantam aos jovens indígenas a plena participação na vida pública em suas cidades e comunidades com confiança e sem medo;

    2 – Melhoria da estrutura dos serviços de segurança pública;

    4 – Considerar que as adolescentes e as jovens indígenas estão mais expostas a riscos e, por isso, demandam uma atenção especial na criação de redes protetivas, com garantia da presença de uma delegada mulher à frente da Delegacia da Mulher nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.

    5 – Estruturar e melhorar os serviços voltados ao acompanhamento de adolescentes e jovens;

    6 – Criar políticas de conscientização e combate ao uso de álcool e drogas, levando em conta a realidade local.

    7 – Apoiar o Fórum Interinstitucional de Políticas Públicas de São Gabriel da Cachoeira na carta de repúdio encaminhada aos órgãos competentes quanto ao assassinato de uma jovem indígena da etnia Baré, de apenas 15 anos, esfaqueada por um soldado do Exército no final do mês de julho de 2021.

    • Políticas Públicas de Juventudes (PPJs)

    1 – Fortalecer as PPJs para que os jovens tenham melhor oportunidade de emprego, melhoria na educação, cultura, lazer, esporte, saúde, segurança, agricultura etc.

    2 – Reativar os trabalhos do Conselho Municipal de Juventude de São Gabriel da Cachoeira/Am (COMJUVE-SGC/AM).

    3 – Criar o Conselho Municipal de Juventude de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.

    4 – Propor a criação a Secretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer em Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.

    • Movimento indígena

    A juventude indígena do Rio Negro reivindica do movimento indígena do Rio Negro, na ocasião representada pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN):

    1. – Solicitar junto ao conselho diretor da FOIRN a composição de 5 (cinco) coordenadorias do DAJIRN/FOIRN para referência nas 5 (cinco) coordenadorias regionais da instituição. 

    2 – Providenciar espaço físico destinado a alojamento para jovens e lideranças das comunidades que participam de encontros e assembleias em São Gabriel da Cachoeira.

  • Jovens indígenas relatam impactos da emergência climática na Amazônia e cobram proteção ao território

    Jovens indígenas relatam impactos da emergência climática na Amazônia e cobram proteção ao território

    Jovens apresentam propostas durante o I Seminário realizado em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Juliana Albuquerque/FOIRN

    Adolescentes e jovens indígenas – muitos deles vivendo em comunidades na floresta Amazônica – denunciam o agravamento dos impactos da emergência climática e exigem que o poder público tome providências para evitar o agravamento da situação, principalmente com a garantia e proteção do território. Esses foram alguns dos resultados do I Seminário de Adolescentes e Jovens e Indígenas e Emergências Climáticas do Rio Negro – O futuro do nosso planeta depende de nossa nossa luta! que aconteceu na Casa do Saber da FOIRN, em São Gabriel da Cachoeira (AM), de 9 a 11 de agosto. A organização do encontro é do Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas da FOIRN (Dajirn/FOIRN), com apoio de parceiros.

    Ao final do seminário, os participantes fizeram protesto contra o PL 490 e o Marco Temporal, cobrando proteção ao território como forma de manter as práticas tradicionais indígenas que protegem a floresta e o meio ambiente como um todo. Os jovens repudiaram projetos que ameaçam seus direitos e territórios.

    Neste mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve analisar ação avaliando a tese Marco Temporal, princípio que considera que só podem reivindicar terras indígenas as comunidades que as ocupavam na data da promulgação da Constituição, 5 de outubro de 1988. Já o PL490 prevê, entre outros pontos, modificações nos direitos territoriais indígenas garantidos na Constituição Federal de 1988, gerando um retrocesso quanto à demarcação de terras e abrindo brechas para que terras demarcadas sejam exploradas por diversos setores, como agronegócio, mineração e construção de hidrelétricas.

    Presidente da FOIRN, Marivelton Barroso participou do encontro e falou da importância do seminário para que o jovem indígena possa ter um futuro sustentável e saudável. Ele também traçou um panorama sobre a mobilização e participação dos jovens no movimento indígena. “O Departamento de Jovens da FOIRN tem o papel importante de controle social: monitorar políticas públicas e cobra soluções para os jovens. E isso é primordial para a construção de um futuro sustentável”, disse.
    Ao longo do encontro, os jovens trocaram experiências e relataram suas percepções sobre o clima na região do Rio Negro. Entre os principais impactos citados estão dois eventos ocorridos este ano: as cheias do Rio Negro – que bateram recorde em 2021 – e o frio por um período mais prolongado que o habitual. Na região, há o período de temperaturas amenas, conhecido por muitos como Aru, mas este ano o frio durou mais.

    GT de Trabalho durante o seminário. Foto: Juliana Albuquerque

    Além disso, pelo calendário tradicional do Rio Negro, segundo relato dos jovens, nos meses de agosto e setembro acontece o preparo do terreno para o plantio das roças, aproveitando a trégua das chuvas após o período do inverno chuvoso. Entretanto, este ano, agosto já chegou, mas ainda está chovendo e o rio está cheio, o que deve comprometer o processo, interferindo na segurança alimentar e na diversidade dos produtos da roça.

    A data do início do seminário, 9 de agosto, coincidiu com a da divulgação do documento do Painel Internacional sobre a Mudança Climática (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) alertando que é inequívoco que a humanidade tenha aquecido a atmosfera, o oceano e a terra, o que resultou em mudanças generalizadas e rápidas no planeta. Entre as mudanças estão o aumento da temperatura e fenômenos climáticos extremos. A coincidência de datas não foi intencional, mas reforça a importância da abordagem do tema.

    Um dos articuladores do I Seminário de Adolescentes e Jovens e Indígenas e Emergências Climáticas do Rio Negro é o secretário-executivo da Nadzoeri – coordenadoria regional da FOIRN -, Juvêncio Cardoso, o Dzoodzo Baniwa. Ele considera que o seminário possibilita que os jovens entendam que as mudanças que eles estão vendo em suas comunidades na floresta e que também são relatadas pelos velhos conhecedores indígenas estão ligadas à emergência climática. “Essas observações são compartilhadas nos espaços comunitários nas comunidades. Há também os relatos dos velhos, as narrativas. Cada vez tem menos peixe. Por quê?”, diz.

    Ele reforça a fala dos jovens que relatam as mudanças no ambiente, lembrando que, em 2018, a região do Rio Negro enfrentou extrema seca e, neste ano de 2021, houve a cheia recorde do Rio Negro, que inundou roças, colocando em risco a segurança alimentar dos indígenas. “A roça inunda, perde-se a roça, a mandioca, a banana, a pimenta. Perde-se a diversidade de alimentos”, diz.
    “Nós indígenas, preservamos a floresta, temos pouca participação no impacto negativo que gera a emergência climática. A nossa forma tradicional de viver considera que o mundo está interligado com os espíritos das plantas e animais. Mas estamos sentindo o impacto”, completa.

    Segundo Dzoodzo Baniwa, para manter as práticas tradicionais que protegem o ambiente, os indígenas reivindicam o direito e proteção ao território, colocados sob ameaça por projetos como o PL 490 e o Marco Temporal. “É necessário reconhecer e garantir o direito ao território. Outra forma de política pública é a implementação de pagamento por serviços ambientais, como o ICMS Verde para quem protege mais o ambiente e apoio para implementação dos Planos de Gestão Territorial Ambiental (PGTAs) construído pelos indígenas”, explica.

    Juvêncio Cardoso – Professor, pesquisador e liderança Baniwa. Foto: Eucimar Aires/FOIRN


    O coordenador do Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas da FOIRN (Dajirn/FOIRN), Elson Kene Cordeiro, da etnia Baré, informou que o encontro foi estruturado a partir da demanda dos próprios jovens da região do Rio Negro. “Os jovens relatam que suas famílias sofrem com cheia do rio, perda de roças, escassez de peixe, mudança no tempo”, informa ele. Também coordenadora do Dajirn/FOIRN, Gleice Maia Machado, da etnia Tukano, informou que durante o encontro foram discutidas mudanças que os jovens podem promover em suas comunidades para evitar poluição e produção de lixo. Para dar o exemplo, o Dajirn providenciou copos personalizados para serem usados pelos jovens durante o evento, evitando o uso de objetos descartáveis.
    Participaram do encontro representantes das cinco coordenadorias da FOIRN – Coidi, Diawi´í, Caiarnx, Caimbrn, Nadzoeri (saiba mais abaixo) – além de moradores de São Gabriel da Cachoeira, Barcelos e Santa Isabel da Cachoeira.


    Ativista e voluntária do Greenpeace, Cíntia Lucena, graduanda de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), também participou do encontro, em São Gabriel, e compartilhou informações sobre os impactos das mudanças climáticas na floresta Amazônica e as consequências para a preservação da vida humana. “É um intercâmbio de percepções no seminário, com grande diversidade de jovens”, disse. Ela ressalta que os jovens são os que mais vão sentir os impactos do aquecimento global. “Eles já sentem os impactos passando por essa pandemia da Covid-19, com crise econômica, sanitária e social”, diz.

    Cíntia Lucena explica que a pauta da emergência climática está diretamente conectada ao tema de direitos à terra e valorização da cultura indígena. “Os indígenas têm o método de economia que valoriza a vida e a cooperação, levando à conservação ambiental”, diz.
    REDE WAYURI

    Os integrantes da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas estiveram presentes no encontro. A Comunicadora Cláudia Ferraz, da etnia Wanano, informou que o grupo participou
    Na quarta-feira (11) de manhã, os comunicadores participaram do Programa Papo da Maloca, na rádio FM 92,7, desenvolvido pela Rede Wayuri numa parceria entre FOIRN e Instituto Socioambiental (ISA), sempre com abordagem de temas ligados aos indígenas do Rio Negro. “Os comunicadores vão falar sobre o evento, o que chamou mais atenção, o que vão levar de informação para repassar em suas comunidades”, diz a comunicadora Cláudia Ferraz, da etnia Wanano, que apresenta o Papo da Maloca junto com Elizângela Baré. A Rede Wayuri também mantém um podcast e desenvolve uma série de atividades de comunicação e articulação com jovens indígenas. Devido à pandemia, algumas mobilizações foram reduzidas.


    VIOLÊNCIA
    O tema violência contra os jovens indígenas também ganhou destaque no encontro. No final de julho, o assassinato de uma jovem indígena da etnia Baré, de 15 anos, estudante, causou comoção na cidade. O acusado pelo crime é um soldado do Exército, que foi detido. O fato levou à mobilização do Fórum Interinstitucional de Políticas Públicas de São Gabriel da Cachoeira, que divulgou uma nota de repúdio contra o fato, cobrando mais segurança e proteção para a população, principalmente os mais vulneráveis, como mulheres e jovens indígenas.
    Em nota, o Exército informou que não compactua com comportamentos em desacordo com a ordem jurídica vigente e repudia todos os atos de violência contra a integridade humana. Foi informado também que após concluído o processo leal pelas autoridades competentes, o Exército adotará as medidas disciplinares cabíveis.

    IMPACTOS NA FLORESTA
    Leia abaixo relatos de adolescentes e jovens indígenas que vivem em comunidades na floresta ou em cidades do Rio Negro e que participaram do I Seminário de Adolescentes e Jovens e Indígenas e Emergências Climáticas do Rio Negro – O futuro do nosso planeta depende de nossa nossa luta!:

    • Riseli Maísa, de 27 anos, moradora da comunidade Matapi/Rio Tiquié,
      Coordenadoria Diawii
      “Esse encontro é muito interessante. Ainda tem muita coisa que não temos conhecimento. Na comunidade já conversamos sobre cuidados com poluição, desmatamento, lixo. E já sentimos algumas mudanças no clima. Agora é época de queima de roças e, depois, plantação. Mas está chovendo, o que está atrapalhando.”
    • Leonardo Garcia da Silva, etnia Baniwa, morador da comunidade Tunuí-Cachoeira/Rio Içana
      Coordenadoria Nadzoeri
      “Nós tivemos um primeiro encontro de jovens lá na nossa região, em Tucumã, e entendemos que a mudança climática é perigosa. Antigamente não era assim. Os velhos falaram lá: aumentou o calor do sol, encheu muito o rio, ficou mais difícil o peixe. Entendemos que longe queimam a natureza, isso não acontece na nossa região, mas esse calor causa impacto lá. O meio ambiente é nosso, vamos reunir, sonhar: o ambiente é para todos!”
    • José Baltazar, etnia Baré, morador da comunidade Guia, Alto Rio Negro
      Coordenadoria Caiarnx
      “Estamos expandindo o nosso conhecimento sobre a emergência climática. E queremos saber por que as leis de meio ambiente não estão sendo devidamente aplicadas. Também queremos que sejam mantidas as leis que preservam as terras indígenas. Pelo conhecimento de nossos antepassados, agosto é época de derrubar roça, queimar e depois plantar. Era para começar de secar. O clima mudou, é agosto e o limite da água está alto.”
    • Jodelyn Alves Amaral, etnia Desano, morador da comunidade Nossa Senhora Aparecida/Iauaretê, Rio Uaupés
      Coordenadoria Coidi
      “Na nossa comunidade, toda quarta-feira tem trabalho comunitário nas roças. Mas por causa da chuva não tava dando para trabalhar, para plantar mandioca, bacaba, açaí. Tem grande diferença no clima.”
    • Nicolas Cauê, etnia Baré, morador de Barcelos
      Coordenadoria Caimbrn
      “O seminário é importante porque incentiva a gente a conhecer coisas novas, saber do movimento indígena e da importância de levar à frente a cultura indígena. Sobre o aquecimento global, já sentimos as mudanças. O calor aumentou. E o frio também aumentou. Na cidade, podemos ver mais poluição.”
    • Martinho da Silva Teixeira, etnia Yanomami, morador da comunidade Maturacá, Coordenadoria Caimbrn
      “Aos poucos a gente vai discutindo sobre as mudanças climáticas. Sim, claro que sim já sentimos o impacto. As caças eram achadas bem pertinho. Peixe era bem pertinho. Estão se distanciando muito. Pesca o dia inteiro e acha pouco peixe.”
    • Lilia França, etnia Baré, moradora de São Gabriel da Cachoeira
      “Na cidade também é possível perceber as mudanças no clima. O calor aumentou e está insuportável, este ano o rio causou alagamento em diversos pontos. Também tivemos frio que na região, o que não é comum. E, quando começa a secar, os mosquitos aumentam cada vez mais.”

    Informe-se sobre quais regiões cada uma das cinco coordenadorias da FOIRN representa:
    Nadzoere – Associação Baniwa e Koripaco;
    Diawi´i – Coordenação das Organizações Indígenas do Tiquié, Baixo Uaupés e Afluentes;
    Coidi- Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê;
    Caiarnx – Coordenadoria das Associações Indígenas do Alto Rio Negro e Xié;
    Caimbrn – Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro.

  • Jovens indígenas do Rio Negro realizam seminário sobre impactos da mudança climática na região

    Jovens indígenas do Rio Negro realizam seminário sobre impactos da mudança climática na região

    Jovens vindos das cinco Coordenadorias Regionais da FOIRN participam do Seminário em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Juliana Albuquerque/FOIRN

    Mudanças climáticas e seus impactos na floresta Amazônica, na região do Rio Negro (AM), são os principais temas de discussão do I Primeiro Seminário de Adolescente e Jovens do Rio Negro – “Juventude indígena e os Impactos Ambientais Recentes na Região do Alto Rio Negro”. O encontro teve início nesta segunda-feira, 9/8, na Casa do Saber da FOIRN, em São Gabriel da Cachoeira, sendo organizado pelo Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas da FOIRN (Dajirn/FOIRN).

    A abertura contou com a presença do presidente da FOIRN, Marivelton Barroso, da etnia Baré, e de autoridades do município, entre elas o bispo da Diocese de São Gabriel, Dom Edson Damian; o secretário municipal de Meio Ambiente (Semma), Carlos Ferraz; o secretário municipal de Juventude, Esporte e Lazer (Semjel), Luiz Eduardo Sales Guedes.

    Os coordenadores do Dajirn/FOIRN, Elson Kene Cordeiro, da etnia Baré, Sheine Diana Baré, Gleice Maia Tukano e Gilliard Henrique Baré conduziram a abertura, que contou com apresentação de danças tradicionais.

    Nesse primeiro dia do seminário, a liderança Baniwa Juvêncio Cardoso, o Dzoodzo Baniwa, palestrou sobre a mudança do clima e seus impactos na região, discutindo sugestões para o bem viver dos povos indígenas da região.

    Jovens de escolas do município de São Gabriel da Cachoeira, além de representantes das cinco coordenadorias regionais da FOIRN- Coidi; Diawii, Caimbrn; Nadzoeri e Caiarnx – participam do encontro e estão trocando informações sobre as suas percepções das mudanças climáticas. Muitos desses jovens vivem em comunidades na floresta Amazônica e já percebem alterações no meio ambiente.

    Jovens do Povo Baré da região do Alto Rio Negro e Xié se apresentam na abertura do seminário. Foto: Eucimar Aires/Foirn

    As atividades do seminário continuam até quarta-feira, 11/08. Você pode acompanhar as atualizações diárias no nosso Instagram (@foirn) e Facebook (@FOIRN).

  • Escola Pamuri Mahsã Wi´i recebe oficina de comunicação e tecnologias

    Escola Pamuri Mahsã Wi´i recebe oficina de comunicação e tecnologias

    Reinvindicado pelos professores da escola localizada no Distrito de Iauaretê, o encontro aconteceu no último sábado, 17/7.

    Professores e jovens de Iauaretê apresentam certificado de participação de oficinas realizadas na Escola Pamuri Mahsã Wi´i. Foto: Eucimar Aires/Foirn

    “A escola quer dar oportunidade para os jovens conhecerem as novas tecnologias de comunicação para registrar nossa história, os acontecimentos importantes aqui da escola e de Iauaretê”. Com essa frase, o professor Leonardo Penteado, do Povo Tukano, subgestor da Escola Pamuri Mahsã Wi´i, explicou a principal motivação da oficina de comunicação e tecnologia ocorrida no sábado, 17/7, na sede da instituição, no Distrito de Iauaretê, Rio Uaupés.

    A demanda pela oficina nasceu a partir do planejamento da escola. E foi encaminhada à FOIRN.

    A iniciativa foi incluída no plano de trabalho da federação e coordenada pela diretora de referência da região de Iauaretê, Janete Alves Desano. A execução ficou por conta do Setor de Comunicação da FOIRN.

    Segundo Janete Alves, a comunicação é um tema que deve ser valorizado e promovido nas escolas. E afirmou que a oficina de comunicação na escola é primeira de outras que ainda serão realizados.

    “Foi importante os professores da escola terem encaminhado a demanda de realização da oficina de comunicação, pois é um tema primordial para registrar os momentos importantes da escola e dos povos indígenas que vivem aqui em Iauaretê”, disse.

    A oficina foi divida em três temas de interesse: comunicação e divulgação, tecnologias de comunicação e Rede Wayuri.

    Cada turma contou com 16 participantes, que seguiram os protocolos de saúde, como o uso obrigatório de máscaras.

    Na comunicação e divulgação, os participantes conheceram um pouco sobre os conceitos e processos de comunicação. Foram compartilhados entre os participantes conhecimentos de como os antepassados se comunicavam e as tecnologias usadas. E como as tecnologias de comunicação evoluíram.

    Ministrado pelo comunicador da Foirn, Ray Baniwa, durante a oficina, foi usado o “telefone sem fio” como dinâmica para explorar a importância de uma boa comunicação, especialmente para tratar das “Fakes News”, um tema que já é recorrente no dia-a-dia das comunidades indígenas do Rio Negro.

    Na turma da Rede Wayuri, ministrada pela estudante universitária da Unicamp e comunicadora da Rede Wayuri, Daniela Patrícia Tukano, os participantes conheceram um pouco mais sobre a Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas do Rio Negro criada em 2017 pela Foirn em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA).

    Jovens indígenas de Iauaretê na prática durante a Oficina de Comunicação e Tecnologias. Foto: Eucimar Aires/Foirn

    Os participantes conheceram técnicas de gravação e produção de áudio, como também a produção de roteiro para a produção de um boletim de áudio como o podcast Wayuri.

    No grupo de Tecnologias de Comunicação, ministrado pelo estudante de Química na Unicamp, Cleiton Melgueiro, os participantes conheceram um pouco mais sobre o funcionamento de algumas tecnologias mais usadas atualmente, como o celular e funcionamento das redes móveis e modelos de transmissão.

    Juventude é esteio das gerações futuras

    “Estou muito feliz por essa oportunidade de oferecer essas oficinas para a nossa juventude. Precisamos fortalecer e registrar nossa cultura e as nossas histórias. Hoje podemos fazer isso com mais facilidade através do uso das tecnologias de comunicação. Eles são os esteios das futuras gerações”, afirmou professor Leonardo.

    A professora Márcia Ferreira Tukano, professora da língua portuguesa, também reafirmou a importância do uso das novas tecnologias para o fortalecimento das práticas educativas e estímulo da juventude para registrar as histórias, a diversidade sociocultural existente em Iauaretê. “Depois dessa oficina que estamos recebendo hoje, vamos continuar a trabalhar e a incentivar a nossa juventude a registrar o que temos aqui, temos muitas histórias e muitas línguas que precisam ser registradas e divulgadas. Queremos incentivar e motivar para que saiam comunicadores e escritores entre esses jovens”, afirmou.

    A coordenação da escola, representada pelo professor Leonardo, agradeceu à FOIRN, em especial a diretora de referência Janete Alves pelo esforço dado para a realização da oficina, e afirma que a escola vai trabalhar para que outras oficinas sejam propostas e realizadas.

  • Jovens indígenas elegem representantes e reivindicam reforço na educação e ação contra mudança no clima

    Jovens indígenas elegem representantes e reivindicam reforço na educação e ação contra mudança no clima

    Participantes da IV Assembleia de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro realizado em São Gabriel da Cachoeira/AM

    Os dois novos coordenadores do Departamento de Jovens Indígenas da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (DAJIRN/FOIRN) foram escolhidos nesta sexta-feira, 6 de novembro, durante a IV Assembleia Geral Eletiva de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro – Pandemia da Covid-19 e a Emergência Climática: Desafios para a Juventude Indígena do Rio Negro. Venceram as eleições para coordenar o DAJIRN/FOIRN entre 2021 e 2024 os jovens Elson Kene, de 27 anos, da etnia Baré, e Gleice Maia, de 18 anos, da etnia Tukano. Atualmente, os coordenadores do departamento são Adelina Sampaio, da etnia Desana, e Elson Kene.

    Entre os desafios dos novos coordenadores, estão dar continuidade ao fortalecimento do departamento, atuar junto ao poder público por medidas contra a emergência climática e por mais segurança. Essas foram algumas das demandas dos participantes da assembleia. Uma carta com essas reivindicações será encaminhada ao poder público, indicando. O documento indica, inclusive, a necessidade de o campus São Gabriel da Cachoeira do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) passar a ser Instituto Federal Indígena do Rio Negro.

    Os jovens reivindicam também um terceiro coordenador que fique em Santa Isabel do Rio Negro ou Barcelos. Os atuais coordenadores do DAJIRN trabalham na sede da FOIRN, em São Gabriel da Cachoeira, e desenvolvem atividades no território indígena. Eles alegam que, como o território é muito extenso, o departamento centralizado não consegue dar voz à demanda de todos os jovens.

    Eleito para a coordenação do DAJIRN/FOIRN, Elson Kene já ocupa esse cargo, tendo assumido a função este ano, quando substituiu Lucas Matos, da etnia Tariano, que não terminou seu mandato por motivos pessoais. Elson Kene é professor, formado em licenciatura indígena no polo Cucuí da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Ele é da etnia Baré, mas nasceu e vive na comunidade Baniwa de Boa Vista, na Foz do Içana, e foi indicado pela NADZOERE (Associação Baniwa e Koripaco).

    A jovem Gleice Maia Machado, de 18 anos, é da etnia Tukano, tem ensino médio completo e mora do Distrito de Iauaretê. Ela foi indicada pela COIDI (Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê) e disse que pretende ajudar e representar os jovens de todas as etnias do Rio Negro. Os dois vencedores também foram os nomes indicados pela CAIARNX (Coordenadoria das Associações Indígenas do Alto Rio Negro e Xié).

    Elson Kane Baré e Gleyse Maia Tukano foram eleitos para coordenar do Dajirn/Foirn na gestão 2021-2024. Foto: Ray Baniwa/Foirn

    A DIAWI´I (Coordenação das Organizações Indígenas do Tiquié, Baixo Uaupés e Afluentes) indicou Erinelson Piloto Freitas, Tukano, e Vera Lúcia Aguiar, Tukano. Já   CAIMBRN (Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro) indicou Lilia França, da etnia Baré. 

    Todas as cinco coordenadorias regionais da FOIRN participaram do encontro, que contou também com a presença de jovens indígenas da etnia Dãw. Cada uma das coordenadorias indicou os nomes que concorreram ao cargo de coordenador do DAJIRN. Tiveram poder de voto 10 representantes de cada coordenadoria regional.

    Advogada do Instituto Socioambiental (ISA), Renata Vieira acompanhou o processo eleitoral. Ela reforçou com os adolescentes e jovens que o Direito é um espaço de luta, ou seja, eles devem sempre estar na briga para que suas demandas sejam colocadas em prática.

    Esse é o primeiro encontro após o início da pandemia da Covid-19. Os jovens relataram sobre como suas comunidades enfrentaram a doença com o uso de remédios e práticas tradicionais. Falaram também sobre como o aquecimento global está interferindo na rotina dos indígenas. Informaram que querem dar prosseguimento aos estudos e, para isso, demandam mais apoio e estrutura do poder público. E pediram mais segurança, pois se sentem na linha de frente de problemas como alcoolismo, homicídio, suicídio.

    ATUAL GESTÃO

    Adelina de Assis Sampaio, atual coordenadora do Dajirn, apresenta relatórios de atividades do período de 2017-2020. Foto: Ana Amélia/ISA

    Um dos desafios enfrentados pela atual gestão foi a pandemia. O DAJIRN, assim como muitas instituições, precisou interromper projetos. Segundo Adelina Sampaio, o departamento deixou de realizar as oficinas e conscientização sobre os direitos dos povos indígenas que seriam realizadas no território.  

    Ela aponta que, ainda assim, o DAJIRN manteve as atividades. Adelina e Kelson participaram de entrega de cestas básicas e distribuição de máscaras. O Departamento de Adolescentes e Jovens atuou em conjunto com o Departamento de Educação da FOIRN mantendo diálogo com as secretarias de Educação municipal e estadual para acompanhar a suspensão e, em seguida, retomada das aulas devido à COVID-19.

    Sobre o tema do encontro, mudanças climáticas e Covid-19, Adelina Sampaio explica que são duas questões que estão impactando a vida dos jovens em seus territórios. “Temos ouvido jovens de outros territórios, até por meio de lives, para perguntar sobre a realidade em outros locais, saber sobre os impactos do desmatamento. Sabemos que o desequilíbrio no meio ambiente traz doenças. Não só Covid, mas dengue, malária. Então estamos discutindo esse tema no Rio Negro”, disse.

    ABERTURA

    A assembleia aconteceu quinta e sexta-feira (5 e 6 de novembro), no auditório do Colégio São Gabriel, em São Gabriel da Cachoeira (AM). Os jovens desenvolveram grupos de trabalho e, a partir das discussões, apresentaram demandas.

    Presidente da FOIRN, Marivelton Barroso, da etnia Baré, participou da abertura do evento e até levou para casa, de presente, uma paca moqueada e beiju. Também estiveram na abertura a jornalista Juliana Radler, do Instituto Socioambiental (ISA); Mateus Vendramini, da Funai; Eraldina Machado, da FOIRN.

    Membros da FOIRN que fizeram parte do movimento de jovens indígenas e hoje ocupam outros cargos participaram do encontro e incentivaram os participantes. Entre essas pessoas estão Edneia Teles (Arapaso), Claudia Wanano, Elizângela da Silva (Baré), Ray Baniwa, e Janete Alves (Desana).

    Durante o primeiro dia da Assembleia, o Agente Indígena de Manejo Ambiental (AIMA), Mauro Pedroso, da etnia Tukano, falou sobre o calendário de ciclos anuais e políticas para adaptação das mudanças climáticas. O médico Guilherme Monção, do Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Negro (Dsei-ARN) falou sobre a Covid-19 no território indígena. 

    O encontro foi finalizado na tarde de sexta-feira, com uma partida de futebol entre os jovens indígenas do Rio Negro.

  • Coragem em muitas línguas: juventude indígena se une em defesa do Rio Negro

    Coragem em muitas línguas: juventude indígena se une em defesa do Rio Negro

    Diante de ameaças como a mineração e a emergência climática, a juventude da floresta se encontrou em São Gabriel da Cachoeira (AM) para debater o futuro

    Participantes do II Congresso de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro|Juliana Radler/ISA

    A Maloca, habitação tradicional dos povos do Rio Negro, é considerada a casa coletiva que acolhe a todos e todas. É também símbolo dos Territórios Indígenas rionegrinos que atravessa gerações. E foi na Maloca Casa do Saber, na sede da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), em São Gabriel da Cachoeira (AM), que 256 jovens indígenas de 15 etnias se reuniram nos dias 5 e 6 de dezembro para debater sobre os principais desafios e perspectivas para o futuro.

    Com olhos sonhadores e sorrisos tímidos de quem pela primeira vez participa de um congresso na sede do município, vozes adolescentes e jovens falaram a palavra “coragem” repetidas vezes. Diante dos desafios que têm na vida, essa juventude multiétnica — falante de várias línguas, como Tukano, Baniwa, Yanomami e Nheengatu — se uniu para pedir coragem a eles mesmos, aos seus caciques e aos governantes no poder.

    “Cada grupo de jovem fez muito esforço para estar aqui. Vieram de longe e passaram por muitas coisas para chegar nesta maloca. Eu vejo que eles são muito fortes e batalhadores. Então, o que eu levo desse encontro é a força e a coragem que existe em cada um. Isso nos toca e desperta o interesse em aprender cada vez mais”, explicou Loila Góes Aguiar, Yanomami, de 16 anos. Ela, além de participar, apoiou nos trabalhos na cozinha do Congresso.

    Mineração, não!

    Diante dos sérios problemas ambientais vividos no Brasil ultimamente, como os rompimentos de barragem em Brumadinho e Mariana (MG), a juventude indígena do Rio Negro se posicionou contra projetos de garimpo e mineração colocados pelo atual governo para os Territórios Indígenas. Em seu documento final do II Congresso escreveu: “A forma que está sendo apresentada junto ao governo estadual e federal sobre a mineração em terras indígenas sem a devida consulta forma e oficial junto às lideranças e os povos habitantes dos territórios indígenas do Rio Negro, concluímos que a juventude do Rio Negro diz não à mineração em terras indígenas”.

    Veja a íntegra do documento e lista de assinaturas.

    Para o Baré de 19 anos, Gilvan Gonçalves Barreto, nascido na comunidade do Yabi, no Alto Rio Negro e estudante da Escola Sagrada Família, na sede de São Gabriel, esse tipo de evento é importante para “levar para frente nossa cultura e nossa valorização indígena”. A principal preocupação do jovem é com o lixo da cidade. Ele diz que chega a perder o sono pensando em como pode solucionar esse problema. Os igarapés estão cheios de lixo, a areia da praia, os terrenos baldios e isso o entristece. Sobre a possibilidade de enriquecer com a mineração ou garimpo, como defendem alguns políticos e empresários, ele comentou:

    “Não sou a favor do garimpo. Nós, como indígenas, vamos nos matar de trabalhar para os outros que podem mais que nós e depois vamos ficar sem nada. Para os outros de fora, o garimpo gera muito dinheiro, mas para nós e para o meio ambiente gera um monte de lixo, polui os rios, lagos e floresta. Eu não tenho vontade de ir para o garimpo. Tenho vontade de trabalhar com Educação. De me tornar um professor. Meu sonho é ter uma infraestrutura melhor para nossos parentes e conscientizar todo mundo sobre o lixo para São Gabriel se tornar um lugar bom para todos”.

    O grupo de jovens da etnia Dâw participou pela primeira vez de um evento na cidade. Guiados pela líder da comunidade, Auxiliadora Dâw, eles apresentaram suas conclusões sobre garimpo durante o encontro. “A gente não sabe nem batear ouro. A gente é contra isso. Se entrar na nossa terra esse garimpo não vamos ser nós que vamos explorar. Vimos os vídeos dos parentes Yanomami sofrendo muito com a poluição. Ouro causa muito sofrimento. Queremos é trabalhar com agricultura, que nos dá alimento e uma vida boa na comunidade e na nossa escola”, afirmou Auxiliadora. A etnia Dâw quase foi extinta há alguns anos e, hoje, soma uma população de 145 pessoas falantes da sua própria língua da família linguística Naduhup, em São Gabriel da Cachoeira.

    Emergência climática

    Marcina Alemão, jovem Baré de Tabocal dos Pereira, na TI Cué-Cué Marabitanas, disse que o Congresso valeu à pena para “aprender que a gente tem direitos. Direito à igualdade com os outros, de se colocar na frente das pessoas, de falar das nossas dificuldades e de como é viver nas comunidades”. Marcina disse estar surpresa com a questão climática, com o derretimento das geleiras dos Andes e de todo o movimento que a juventude mundial vem fazendo sobre o tema. “Acho que nós jovens devemos falar desse assunto para todo o mundo e orientar as pessoas porque elas estão perdidas. A gente precisa fazer mais encontros assim”.

    “O que me chamou atenção aqui é que estamos pensando junto o nosso futuro diante de tanta dificuldade para nós. Estamos entendendo sobre as políticas públicas e como isso é importante para a juventude. Por isso, eu quero estudar mais para ajudar na minha comunidade. Meu pai e minha mãe são agricultores e sempre me incentivaram a estudar”, contou Amarildo da Silva Lima, Tuyuka da comunidade de Nossa Senhora de Assunção, no rio Tiquié, de 19 anos.

    Ele terminou o ensino médio e agora paga mensalidade para o ensino superior à distância em uma faculdade privada em São Gabriel da Cachoeira. O jovem estuda Serviço Jurídico e Notariais. “Sempre estarei participando desses eventos. A Foirn é importante pra gente porque protege o nosso território. Está lutando, orientando, dando conselho. A Foirn chega nas comunidades, conversa e conta o que está acontecendo. É muito importante pra gente esse trabalho”, defendeu o jovem.

    Moradora da cidade, Lilia Cordeiro França, do povo Baré, se disse surpresa com a precariedade das escolas nas Terras Indígenas e com a falta de infraestrutura, como ausência de salas de informática, biblioteca, quadras e energia elétrica. Nas apresentações de grupo, os jovens reivindicaram em primeiro lugar melhorias nas escolas nas aldeias. Eles desejam acessar as boas coisas da modernidade sem sair de suas terras e ter o direito – como todo cidadão brasileiro – de frequentar uma escola pública estruturada.


    Em muitas aldeias, as aulas são improvisadas dentro de centros comunitários, capelas e casas construídas pela própria comunidade, sem nenhum tipo de infraestrutura para estimular e motivar os alunos. “Tem muita gente que diz que o jovem não tem capacidade de buscar os seus direitos, que não temos experiência para isso. Mas aqui no congresso vimos que podemos sim nos unir para construir um futuro melhor”, enfatizou Lilia.

    Casas sagradas, benzimentos e 4G

    Os jovens indígenas do Rio Negro presentes ao II Congresso pediram em uníssono a instalação de antenas 4G e manutenção dos orelhões nas comunidades. O acesso a internet e aos meios de comunicação é fundamental para os estudos e interação com o mundo. Ao mesmo tempo que querem acessar a tecnologia e as novidades, também se preocupam em zelar por suas tradições, cultura e território. A tecnologia, aliás, está atrelada a esse cuidado, quando os jovens indígenas desejam oficina de vídeo e técnicas de som para gravar danças, cantos e rituais.

    “As pessoas hoje estão indo de qualquer jeito nas casas sagradas e por isso adoecem. Só pode ir para casa sagrada se tem permissão”, disse um jovem representante de Iauaretê, do povo Tariano, durante apresentação de seu grupo, que também enfatizou a importância dos benzimentos. “A gente queria ter um espaço cultural em Iauaretê para mostrar nossa cultura, produzir filmes e depois mostrar na comunidade. Isso seria bom para nós e para a valorização dos nossos conhecedores tradicionais”, completou.

    O mesmo apresentou a juventude do rio Uaupés, representada por seis jovens de Taracuá acompanhados pela professora Carmem Menezes, do povo Tukano. “Precisamos fazer melhor pela futura geração e não estragar nosso território com garimpo, lixo e poluição. Grandes lideranças estão nos falando para a gente manter a mesma força que tiveram no passado para demarcar e defender o nosso território. E a gente vai continuar tendo coragem para exigir que os empresários, governo ou qualquer um outro venha nos consultar na comunidade, junto às nossas associações e à Foirn, sobre interesses financeiros em nossa área”, pontuou Marco Antônio Tukano, de 19 anos.

    Momento histórico

    A juventude escreveu uma parte importante da história do movimento indígena ao concretizar o II Congresso de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro (AM) em 2019, 17 anos depois, conseguem realizar outro congresso. O primeiro foi em 2002. Os veteranos que batalharam pela inclusão dos jovens nos espaços de decisão também participaram ativamente dos debates atuais, trocando experiências e apoiando a nova geração na continuidade da defesa dos direitos e do bem comum dos 23 povos indígenas do rio Negro. “Estamos ameaçados por um desgoverno que está tirando os direitos da juventude. A juventude periférica, sobretudo negra e indígena, está sendo dizimada”, denunciou Gilliard Henrique, do povo Baré, um dos idealizadores dos primeiros encontros da juventude indígena do Rio Negro.

    Edineia Teles, do povo Arapaso, também é uma veterana da juventude indígena que esteve no protagonismo da conquista do Departamento de Adolescentes e Jovens da Foirn, assim como da Secretaria municipal de Juventude de São Gabriel da Cachoeira. “A partir do momento que passamos a cobrar do governo, a gente se tornou um inimigo dos governantes. O prefeito passa a se esconder da gente. Na época, a gente chegava a madrugar na porta do prefeito Juscelino para conseguir ter uma Secretaria Municipal da Juventude. Com essa insistência é que conquistamos nosso espaço”, relembra Edineia ao fazer a linha do tempo das conquistas da juventude.

    Na abertura do evento foi feita homenagem ao jovem Desana Délio Firmo Alves, que faleceu em 2018 e foi grande defensor da juventude indígena do rio Negro, ocupando o cargo de presidente do Conselho Estadual da Juventude do Amazonas.

    Para Adelina Sampaio, do povo Desana, coordenadora do Departamento de Jovens da Foirn, o Congresso deixa uma responsabilidade grande para o movimento indígena: o compromisso com as pautas e propostas da juventude. “Seremos os articuladores dessas demandas trazidas pelas nossas bases e agora temos que correr atrás para que essas propostas sejam concretizadas”, disse Adelina.

    Adelina Sampaio, Desana, e Michelle Machado, Tukano, animam a juventude indígena|Juliana Radler/ISA

    Claudia Soares, Baré, representante da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), motivou a juventude a buscar seus direitos e a trabalhar pelo bem comum, pela sua cultura e território, mostrando quais são os principais desafios enfrentados hoje, como as invasões das terras indígenas por madeireiros, garimpeiros e outras atividades ilegais, sem que haja devido controle e fiscalização por parte das autoridades competentes.

    A elaboração dos planos de gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas do Rio Negro, assim como dos seus Protocolos de Consulta, também foram temas de trabalho de grupo e apresentações por parte da juventude, que precisa estar antenada aos assuntos fundamentais para garantir seus direitos territoriais. Nildo Fontes, vice-presidente da Foirn, do povo Tukano, fez apresentações desses temas para os jovens. “A juventude é a nossa continuidade e nossa renovação. Estamos trabalhando hoje para garantir a permanência e o bem viver dessa geração em nosso território”, sublinhou.

    Greves globais do clima e a mobilização da juventude mundial na cobrança por medidas efetivas no combate às mudanças climáticas também foram temas de debate, em colaboração com o ISA. A partir de recentes reportagens científicas e matérias jornalísticas sobre o agravamento do quadro, como o relatório de 11.258 cientistas de 153 países denominado “Alerta dos Cientistas Mundiais sobre a Emergência Climática”, a juventude indígena recebeu informações atualizadas sobre o tema, debateu e inseriu suas considerações no documento final do Congresso.